A sociedade precisa reagir

Na noite da última segunda-feira (5/3), o Jornal da Record veiculou uma reportagem em que, com câmeras escondidas, foram flagradas gangues de jovens, com no mínimo quatro pessoas, que violentamente agrediam e roubavam homossexuais no Centro velho de São Paulo, nas imediações da Pça da República e do Largo do Arouche.

São cenas fortes e que amedrontam qualquer cidadão de bem. Sem usar arma de fogo, os algozes se amontoavam sobre a vítima e a socos e pontapés roubavam o que queriam, diante dos olhares atônitos das pessoas que passavam pelo local.

Há algumas semanas o colunista Diogo Mainardi, da revista Veja, escrevendo sobre a brutal morte do menino João Hélio, no Rio de Janeiro, sugeriu que uma boa maneira de protestar contra a violência na cidade seria promover o cancelamento do carnaval carioca.

As imagens mostradas na televisão chocam e assustam, como tantas outras que diariamente acompanhamos nos telejornais do país. O que mais assusta, no entanto, é que nada acontece. A sociedade parece ter ficado anestesiada. Imobilizada. Não há movimentos eficazes. Parece que nada mais nos choca. Parece que estamos perdendo a capacidade de ficarmos indignados. O que está acontecendo com o nosso país?

Já é hora de parar de criticar apenas o Poder Público como se não fôssemos também diretamente responsáveis por tudo o que acontece em nossa rua, nossa cidade, nosso Estado, nossa nação.

Se as autoridades estão inertes, não devemos fazer o mesmo. A idéia de que faltam leis ou leis mais rigorosas fracassa todo dia com o aumento indiscriminado da criminalidade.

Não será a justiça mais rápida nem o Exército, a Marinha e a Aeronáutica nas ruas que vai resolver nossos problemas. Podemos trocar todos os governantes, todos os parlamentares e policiais que a situação se manterá igual.

A idéia do colunista da Veja pode até parecer absurda para uma boa parte da sociedade que se incomodaria em ver cancelada —mesmo que numa única vez— a festa mais popular do Brasil. Por certo haveria protesto por parte das escolas de samba, dos donos de hotéis, das empresas que vivem do turismo e até mesmo dos meios de comunicação, que sempre faturam com eventos como esse.

Todavia, imagine se toda a sociedade carioca boicotasse o carnaval. A repercussão seria mundial. A imprensa com certeza daria ampla cobertura ao protesto. As entidades representativas como OAB, ABI, CNBB certamente iriam se mobilizar. É possível que a partir de um movimento de tamanha abrangência, alguma coisa fosse feita, algo pudesse, de fato, mudar.

A sociedade precisa se indignar mais, lutar mais pelo fim da desigualdade, por um país mais justo, mais livre, mais humano, mais igualitário, menos individualista.

Precisamos sair dos nossos gabinetes, dos nossos carros blindados, dos nossos restaurantes sofisticados, das nossas fortalezas individuais e lutar sim por um país melhor.

O vandalismo das gangues é assustador. A violência das ruas é aterrorizante. O medo é real.

Não basta apenas as autoridades afirmarem que vão tomar as “providencias necessárias”. A solução está em nós mesmos. A sociedade precisa cobrar políticas efetivas, participar da administração de seu país, reivindicar, lutar. Mas não pode ficar esperando sentada, imobilizada, como o espectador de um filme do qual ela não participa.

Mais assustador do que a violência destemida e ausência do Poder Público é a inércia da sociedade. Precisamos reagir, pois do contrário a nossa guerra civil não terá fim.

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José Luis Oliveira Lima é advogado criminalista, membro da Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos, membro do Instituto dos Advogados, ex-presidente da Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo e da Comissão de Prerrogativas da OAB-SP e conselheiro da AASP (Associação dos Advogados de São Paulo)

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