A tragédia dos transgênicos

Roberto C. P. Júnior

Cientistas versus ambientalistas, pragmáticos versus idealistas. Uma luta desigual, com um desfecho bem previsível. Nem poderia ser diferente, quando as regras do jogo são definidas por apenas um dos lados, como é o caso aqui.

A disparidade de forças entre as partes é tal, que se evidencia nas próprias denominações dos contendores, tecidas pelo grupo mais forte e vestidas pelo grupo mais fraco, sem questionamento. Realistas versus utopistas, progressistas versus retrógrados. Do lado “certo” da guerra, o dos vencedores, acantonam-se impecáveis legiões de racionalistas, de ajuizados pés-no-chão, com as fardas abarrotadas de trabalhos científicos, irrefutáveis todos eles. Do lado “errado” da peleja, o dos perdedores, não se vê mais do que uns grupelhos barulhentos de sonhadores perdidos, uns visionários mal ajambrados, municiados apenas de uma indignação visceral e de uma inquietação íntima cujas causas não se lhes tornam claras.

O alto comando da transgenia sabe que a vitória total é só uma questão de tempo. Cada novo país que capitula sob o fogo cerrado dos relatórios tecnicistas, qual obuses certeiros – inatacáveis porque indevassáveis – constitui uma batalha a mais ganha no front dessa não prevista nova guerra mundial. Com isso, os generais da genética degenerada ganham cada vez mais terreno por toda a parte e consolidam suas posições. Fazendo da prepotência humana seu quartel-general, eles contemplam satisfeitos o avanço contínuo das tropas iluministas. O triunfo completo já desponta, para quem quiser ver, no horizonte sombrio desse nosso mundo, desse mundo que já foi nosso mas que agora é deles. Parece que nenhuma oposição oriunda do coração pode fazer frente ao bombardeio de saturação das ogivas científicas, antecedidas pelo silvo característico de vitupérios e vilipêndios, de invectivas intelectivas. A vitória esmagadora dos produtos transgênicos será mais uma a ingressar no rol de tantas outras realizações do engenho humano, como o lixo radioativo, a poluição em cotas autorizadas, a pesca predatória, a caça, o extrativismo sustentável, o uso de cobaias em experimentos, o foie gras, a clonagem de animais… Uma série de horrores sem fim.

É verdade que não se pode negar os resultados dos relatórios científicos. Eles cumprem exatamente o que deles se espera ou se exige: provam cientificamente que as sementes transgênicas são seguras, comprovam cientificamente que não causam danos ao meio ambiente e à saúde das pessoas. Eles, pois, cumprem tudo isso. Cientificamente.

E essa é a maior de todas as tragédias. Aceitar laudos científicos nesse assunto equivale a entregar à raposa a chave do galinheiro. Infelizmente, porém, é isso o que acontece. Como a quase totalidade das pessoas vê na ciência o supra-sumo da capacidade humana, e os cientistas como verdadeiros deuses, com poderes tão ou mais espetaculares do que os dos da mitologia, elas realmente acreditam que a ciência é o árbitro justo e infalível para essa questão. Com o olhar voltado para cima, sem piscar, fixado na comunidade científica, elas aguardam sequiosas pela descida da olímpica luz da sabedoria acadêmica, que iluminará sua ignorância e as guiará pelos caminhos de um admirável mundo novo. Sustentadas por uma ingenuidade tocante, estão convencidas de que se a ciência der um parecer favorável aos produtos transgênicos, então isso será a prova de que estão aprovados…

Doce e triste ilusão. Por mais bem elaborados, por mais detalhados que sejam os relatórios científicos e os volumosos estudos de impacto ambiental, eles nunca poderão prever os efeitos finais nefastos da transgenia. Simplesmente porque esses efeitos últimos, devastadores, não apresentam nenhum sinal, nenhum indício materialmente perceptível, que pudesse eventualmente ser detectado no código genético alterado. Os alimentos transgênicos não foram programados para dar um aviso prévio do que são capazes de provocar; apenas aguardam silentes como as minas, impassíveis como as bombas-relógio, pelo grito angustiado de uma sociedade logo perplexa, que ecoará pelos campos e cidades por eles nutridos. O grito uníssono, entrecortado, de… “tarde demais!”.

As sementes transgênicas comportam uma irradiação alterada, e por essa razão não mais pertencem à natureza como tal. Elas não fazem mais parte da natureza, porque não são mais naturais! E o que não é natural traz em si o germe da morte.

Mas aqui já adentramos num campo que o raciocínio humano não consegue acompanhar, muito menos assimilar. Essa incapacidade notória, essa limitação insuperável da razão humana se manifesta então na forma de descaso e zombaria por parte dos racionalistas. Como o raciocínio não pode compreender nada do que se encontra além do meramente terrenal, visto ser apenas um produto do cérebro, ele rejeita tudo o mais como impossível, porque lhe é de fato impossível discernir a realidade tal como é. No caso em foco, o raciocínio não faz mais do que infundir nos rostos circunspectos que recobrem tantos cérebros sagazes, um certo ar de inteligência guarnecido de um sorriso zombeteiro. Nada mais que isso. A retidão de caráter, a pureza do coração, a nobreza de alma, a vivacidade do espírito, não são qualidades que possam ser observadas no DNA, e por isso nunca lograremos obter um cientista materialista geneticamente modificado para o bem. Os pouco realmente bons o são por índole própria, e estes jamais defenderão a transgenia.

Esses escassos pesquisadores íntegros não podem assegurar que os transgênicos são inócuos, não podem asseverar que só trazem benefícios. E como poderiam fazê-lo? Como poderiam apregoar as vantagens de uma planta transgênica resistente a agrotóxicos se ela própria, modificada assim criminosamente, se lhes apresenta como mais um tóxico no meio agrícola? Um novo e desconhecido “agro-tóxico”? Como lhes seria possível defender o envenenamento genético de uma cultura para que resista a venenos?… Não vamos aqui nem discutir as alegadas vantagens econômicas das sementes transgênicas, porque isso seria descer ao nível de esterco no trato do problema. Nenhum pesquisador razoavelmente lúcido e minimamente honesto poderia transferir a preocupação com a saúde dos consumidores para um patamar inferior ao da redução de custos das lavouras.

Uma semente transgênica é um corpo estranho, um antígeno inoculado num organismo perfeito. Acontece, senhores bem-intencionados, que esse organismo perfeito, a natureza, tem muito bem como se defender de cepas patogênicas, e se defende realmente, com resultados invariavelmente catastróficos para a humanidade. Isso, aliás, ela própria já poderia ter reconhecido, se sua presunção intelectiva não lhe obstruísse continuamente a intuição espiritual.

Todos os assim chamados desequilíbrios da natureza não são nenhum desequilíbrio, mas tão-somente reações automáticas à ação deletéria do ser humano. Onde quer que essa criatura tenha posto a mão, lá deixou incubado o germe da destruição, que sempre vingou, após um tempo maior ou menor. Pragas incontroláveis, secas inclementes, inundações devastadoras e tantos outros “distúrbios” da natureza são apenas efeitos recíprocos contra a maior de todas as pragas, o Parasita sapiens, que presentemente tenta cultivar mais uma excrescência dentro do corpo outrora sadio da natureza, na forma de sementes e plantas transgênicas. A espécie humana é a serial killer da vida na Terra, é a maior inimiga da natureza em todos os tempos. Mas pode estar certa, certíssima, de que já há muito foi reconhecida por ela como tal, sendo agora tratada correspondentemente.

Por isso, os hoje ainda mal vistos ambientalistas-idealistas não precisam se desesperar em sua luta quixotesca contra os produtos transgênicos e seus patrocinadores. Nada do que é contrário à natureza, portanto contrário às leis naturais, pode subsistir indefinidamente. Dura algum tempo e desaparece exemplarmente, sucumbe espetacularmente, como testemunho do mais profundo malogro da arrogância humana. Arrogância incompreensível de uma espécie que se atreveu a querer melhorar a natureza, sem mesmo procurar saber antes do seu legítimo Dono pelas conseqüências de suas ações e, sobretudo, se tinha acaso permissão para agir assim.

Contudo, o conhecimento desse descalabro inevitável de tudo quanto foi torcido pelo raciocínio humano não significa que os defensores da natureza devam aguardar sentados, observando de camarote o desenrolar desse drama trágico sobre o palco claudicante da prepotência humana. Não. Cada um deles deve ser uma trombeta sonante, conscientemente voltada para a enorme muralha erguida pela presunção dos racionalistas, a qual com isso ruirá mais depressa ainda, para alívio e bênção de todas as pessoas de alma limpa. Não são necessárias mais do que essas trombetas tocadas com o fôlego do idealismo, sem violências, sem bandeiras partidárias, sem ideologias tacanhas.

Os ambientalistas podem, devem e têm de lutar com a mais plena convicção da justeza de sua causa. Não devem avançar cabisbaixos para dentro do teatro de operações, acabrunhados, temerosos de mais uma derrota. Seria uma imagem deplorável essa, inclusive aos olhos do adversário. Mirem-se no exemplo de certas artes marciais, cujo lema vem escrito em caracteres orientais sob a faixa que prende o quimono do lutador: “Quem teme perder já está vencido.” Não temamos perder.

Encaremos o adversário com altivez desta vez, resolutos e sem luto. Encaremo-lo sem medo, sem receio de não poder contrapor a ele nenhum escudo científico. Nosso paradigma é outro. Bastam-nos os ditames de nossos corações. Se estes forem justos, se estiverem sintonizados com as leis que regem a Criação, então a vitória contra a aberração dos transgênicos é certa. Será essa a primeira grande vitória de uma série. Da nossa série.

Roberto C. P. Júnior – rcpjunior@uol.com.br
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Roberto C. P. Júnior é espiritualista, mestre em ciências e autor do livro on-line “Vivemos os Últimos Anos do Juízo Final” (http://www.msantunes.com.br/juizo/). Acesse os artigos anteriores de Roberto C. P. Júnior no seguinte endereço:
http://www.portugal-linha.pt/opiniao/RJunior/rartigos.html

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