“Nenhum floco de neve numa avalanche se sente responsável pela mesma.”
Stanislaw Lec
Crise na advocacia? Que crise? Nunca subestime, por exemplo, o governo brasileiro. Já não é de hoje que alguns tributaristas andam tristonhos, a lembrar da década de ouro dos anos noventa, lá daquele século que passou. Agora, com a CPMF derrubada, a fome do governo irá aumentar na mesma proporção do recurso perdido. São novas e grandes oportunidades que irão aparecer para chacoalhar o mercado jurídico. Paciência e posicionamento estratégico são, portanto, fundamentais para o futuro das bancas genuinamente preocupadas com a sustentabilidade de suas operações. A questão previdenciária é outra área, juntamente com a ambiental, que modificará o teatro de ferro do mundo jurídico para sempre. E você, como está se posicionando frente a um cenário tão dinâmico?
O advogado que emerge de um país em real construção deve assumir o papel de agente transformador. Como assim agente transformador? O novo advogado deve ser um conselheiro nas empresas onde atua, influindo, por exemplo, na cadeia produtiva de uma organização com um manual de perguntas e respostas sobre um tema como exportação e ajustando seus produtos às leis. É o advogado proativo, de atuação preventiva, e não simplesmente reativo e orientado a litígios.
É o futuro. O cliente deseja isso, espera por isso e irá ao mercado buscar, caso não tenha esse tipo de resposta de seu advogado atual. É o princípio da concorrência. Se você não tiver um diferencial extremo, terá que competir pelo preço e sabemos muito bem que essa está longe de ser uma boa estratégia de continuidade para o seu negócio. Enfim, o advogado deve influir na política dos sindicatos, aconselhar seus clientes, estar presente nas grandes questões e, dentre inúmeras outras possibilidades, sempre procurar tangibilizar seu ponto de vista perante seus clientes.
O advogado, mais do que nunca, tornou-se um consultor estratégico. As empresas e sindicatos, e mais especificamente seus advogados internos, esperam que seus advogados externos atuem como executivos, sempre dispostos a auxiliá-los na árdua tarefa de terem uma atuação melhor e mais segura no mercado. Treinamentos, pareceres mais curtos, trabalho por projetos, dentre outros, serão temas constantes nessa grande virada da profissão.
Sete áreas de grande importância para 2008
— Tributária: Opiniões divergentes são excelentes matrizes para o serviço jurídico. A área, que antes era predominantemente contenciosa, torna-se consultiva, e, agora, irá retornar com força total para lidar com litígios junto ao fisco.
— Ambiental: As empresas e governos estão progressivamente mais preocupados com a questão ambiental. Todos, e já há algum tempo, estão procurando desenvolver uma atuação proativa perante essa importante questão. Isso significa que quem atua na advocacia empresarial deverá expandir seus serviços para a área ambiental, sob pena de perder clientes. Logo, procure sempre manter-se à frente do seu tempo. Afinal, as empresas já estão a operar com gestão ambiental e se o seu escritório não estiver preparado, outros certamente estarão. É, sem dúvida, uma excelente oportunidade para boutiques especializadas.
— Relações de consumo: Há um crescente endurecimento na relação entre empresas e consumidores. Esse fator já aconteceu em outros países, mas finalmente terá uma intensidade progressivamente maior em nosso país. É uma nova forma de pensar do consumidor, que provocará mudanças inevitáveis na administração do contencioso das empresas e criará grandes oportunidades para consultorias preventivas. Gera negócios e demandas tanto para a advocacia empresarial como a de pessoa física.
— Gestão de crédito: A oferta de crédito ao consumidor nunca foi tão alta e diversificada, vide a grande concorrência entre bancos e financeiras. O resultado é que o brasileiro médio está se endividando a longo prazo, e, as empresas, por sua vez, estão acompanhando o ritmo. Acredite, escritórios que atuam na recuperação de crédito ou do lado do consumidor terão muito trabalho pela frente.
— Previdenciária: Em países europeus, o problema previdenciário é crucial e afeta a vida de milhões de pessoas. Nosso jovem país encontra-se em um momento de grande virada na pirâmide etária, o que irá impulsionar os mais variados negócios na área da previdência complementar e privada. Os fundos de pensão já ultrapassam mais de 500 fundos e ninguém sabe onde surgirão os litígios de amanhã. E você, faz alguma idéia?
— Infra-estrutura e recursos naturais: O Brasil, nos próximos anos será um grande canteiro de obras, provocando negócios em licitações, meio ambiente, construção e assim por diante. A construção das Usinas do Rio Madeira, em Rondônia, é um belo exemplo de como tudo pode mudar em questão de anos ou até mesmo meses. São esperados investimentos milionários na região, que afetarão não só empresas e pessoas, mas a própria maneira de se exercer a advocacia. E os escritórios de Porto Velho, estão preparados (ou se preparando) para essa nova realidade? Ou eles se reinventam ou serão atropelados pela concorrência que, certamente, já está se posicionando.
— Direito internacional: Empresas brasileiras como a Gerdau, Petrobrás, Vale e Friboi são empresas de classe mundial, o que afeta todas as demais organizações que compõem a cadeia produtiva de cada um desses conglomerados. O direito coorporativo internacional está em plena ascensão e, por uma questão de lógica, os advogados externos, devem, obrigatoriamente, acompanhar a evolução globalizada de seus clientes.
A era do conhecimento já é uma realidade, há muito. Prova disso é a incrível pressão dos clientes, que tem levado as bancas a especializarem-se ainda mais. O cliente está com o bastão do poder na mão, está muito bem informado e fazendo um uso cada vez mais estratégico da tecnologia da informação na condução de seu negócio, principalmente dos aspectos jurídicos. E isso é ótimo! Os escritórios mais ativos, atentos às mudanças do mercado, que sabem estabelecer as conexões entre curto, médio e longo prazo, irão vencer a grande escalada em busca da diferenciação dos serviços jurídicos.
Enfim, ignore a “crise”, ajuste o foco e preste atenção nas inúmeras oportunidades que o mercado nos oferece dia e noite. A concorrência certamente está com o foco ajustado. E você?
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por Rodrigo Bertozzi e Marco Antonio P. Gonçalves
Revista Consultor Jurídico