Dados estatísticos/96
Pesquisa realizada no Instituto Médico Legal de São Paulo durante um ano, revelou que de cada 100 corpos que dão entrada naquele instituto, 95 têm álcool no sangue. Em 11 deles são encontrados mais de 4 gramas de álcool por litro de sangue, suficiente para matar.
A pesquisa, coordenada por Solange Nappo e José Carlos Galduroz, do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas – Cebrid, da Universidade Federal de São Paulo, foi apresentada no 10º Congresso Mundial de Psiquiatria realizada em Madri.
Para chegar ao resultado os pesquisadores analisaram 19.230 laudos cadavéricos feitos entre 1986 e 1993 no IML central de São Paulo. Em 18.263 corpos – 95% do total, foi registrada a presença de álcool. Em 2.115 cadáveres – 11% dos que tinham ingerido bebida, havia álcool suficiente para levar à morte, ou seja, se estas pessoas não tivesse morrido de tiro, no trânsito, morreriam de qualquer forma pelo efeito do álcool.
A presença da cocaína, cheirada ou fumada em forma de crack, só foi encontrada em 407 corpos, representando 2,12%, enquanto traços de psicotrópicos foram detectados em 390 cadáveres, 2,05% do total. Cerca de 96% das vítimas com álcool no sangue eram homens. eles também eram a grande maioria entre os que tinham cocaína no organismo. Segundo o Secretário Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, Elisaldo Carlini, essa proporção também vale para os inalantes como cola e benzina. Mas, no caso dos psicotrópicos, cerca de 60% eram mulheres.
Uma das hipóteses levantada pelos pesquisadores é a de que muitas das mulheres que ingeriram psicotrópicos tinham a intenção de se matar. Os homens, ao contrário, usam o álcool e outras drogas ilícitas supostamente para se divertir.
Álcool X Veículos
O álcool foi responsável por 76,6 mil acidentes de trânsito com vítimas ocorridos em 95. Significam 30% dos 255 mil acidentes registrados em todo o país no período.
Naquele ano, 25 mil pessoas morreram e outras 321 mil ficaram feridas nesses acidentes. Estima-se que um terço dessas pessoas, 7,6 mil mortos e 96,3 mil feridos tenham sido vítimas de motoristas que dirigiam embriagados. São 20 mortos e 265 feridos vítimas do álcool, a cada 24 horas.
Conforme a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) taxas entre 0,3 e 0,5 gramas de álcool por litro de sangue já causam queda na sensibilidade visual do motorista, reduzindo sua percepção das distâncias e da velocidade.
A Associação observa que o álcool é extremamente perigoso porque provoca momentos de euforia seguidos de depressão. Na primeira fase a pessoa se sente toda poderoso, achando que com ela nada acontece. Na segunda vem a sonolência e é aí que acontece o maior número de acidentes.
Álcool X Violência
Pesquisa do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo realizada na zona sul da capital paulista revela que a melhor receita para uma morte é uma arma na mão, um copo de aguardente ou uma droga na cabeça.
A pesquisa mostra que entre os ingredientes o álcool aparece como agente detonador em pelo menos 41% dos homicídios. O tráfico de drogas foi responsável por 17 assassinatos, ou 11,7% do total.
Foram analisados 145 homicídios esclarecidos em 14 distritos policiais dos bairros mais viole tos da zona sul em 1995. A pesquisa mostrou que a droga, especialmente o crack, é um dos fatores de aumento no número de mortes, mas não é o único.
Segundo os dados coletados, o crack tem efeito semelhante ao da bebida, com uma agravante: enquanto o álcool em excesso “derruba” a pessoa, o crack, a cada dose, provoca um novo momento de excitação. O problema é que o número de pessoas que bebe em excesso é muito maior que o daqueles que usam crack.
Na gíria policial o álcool provoca três momentos distintos, batizados com os nomes de bichos: a fase do macaco, quando a pessoa começa a beber e está alegre; a do leão, quando a bebida o deixa valente; e a do porco, quando passa mal e dorme.
As brigas começam quando o “macaco” que chega ao bar encontra a valentia do “leão”. Para Guaracy Mingardi, que coordenou a pesquisa, o álcool ou a droga – ou a raiva e o desejo de vingança são fatores que alteram a consciência, mas é a posse da arma que vai materializar o homicídio. Nesse sentido, o pesquisador conclui que apreender menos armas do que crack ou qualquer outras droga é mais danoso.
Na região estudada, os bares aparecem como o maior centro gerador de violência. A maioria das mortes ocorrem justamente nesses locais.
Nos Estados Unidos, pesquisa feita pelo Instituto Nacional de Alcoolismo mostra que o excesso de bebida é um fator em 68% dos homicídios culposos, 62% dos assaltos, 54% dos assassinatos e 44% dos roubos ocorridos no país.
A pesquisa mostrou, também, que o fator álcool é mais relevante em casos de violência doméstica. Cerca de dois terços dos casos de espancamento de crianças ocorrem quando os pais agressões estão embriagados. O mesmo ocorre em brigas entre marido e mulher. No caso dos estupros, a pesquisa mostrou que em 72% dos casos o estuprador estava bêbado.
Os dados mostram ainda que:
– 17,6 mil das 35 mil pessoas que morrem por ano em acidentes automobilísticos são vítimas de motoristas que guiam intoxicados por bebida alcoólica;
– mais de 1,5 milhão de prisões ocorrem por ano devido ao consumo de álcool por motoristas;
– a principal causa de mortes entre adolescentes no país são acidentes de carros provocados por bebida (cerca de 3.000 por ano);
– dos 1.700 casos de ciclistas mortos em acidentes nos EUA em 1995 32% tinham bebido antes do incidente. entre os homens entre 25 e 34 anos mortos em acidentes de bicicletas, 50% estavam bêbados;
– Cerca de 500 mil pessoas são presas a cada ano por violarem leis de controle ao álcool (nos EUA é proibido beber na rua, exceto na cidade de Nova Orleans) e 800 mil por arruaças durante bebedeiras.
– Estima-se em 10,5 milhões o número de alcoólatras nos EUA. Outros 7,2 milhões têm problemas com o álcool por beberem demais ocasionalmente.
– o custo econômico do alcoolismo (tratamento de doenças, dias de trabalho perdidos) nos EUA é de 128 bilhões de dólares anuais.
Álcool X Mortalidade
A mortalidade por causa do consumo de álcool em São Paulo, segundo pesquisas, é menor do que em Nova Iorque, mas é muito mais precoce: os brasileiros morrem mais jovens que os americanos.
Tanto entre homens quanto entre mulheres de 20 a 29 anos, a taxa de mortes por beber demais é três vezes maior para os paulistanos do que para os nova-iorquinos.
No caso de São Paulo, a maior incidência de óbitos acontece entre os 40 e 49 anos. Nessa faixa etária, o coeficiente da taxa de mortalidade por 100 mil habitantes chega a 57,5 para os homens e a 6,4 para as mulheres.
No caso masculino, o resultado é quase igual ao de Nova Iorque (53,3). Mas no feminino, a taxa americana já é duas vezes maior que a brasileira nessa faixa etária, chegando a 12/100 mil.
A incidência de casos nova-iorquinos continua crescendo à medida que aumenta a idade em que as vítimas morrem. O ápice é na faixa dos 50 a 59 anos, quando a mortalidade pelo álcool é 50% maior para os homens e três vezes superior para as mulheres norte americanas em comparação com os brasileiros.