Ao lado dos derrotados

Entrando no 5º ano do novo século, não se pode de todo dizer que o Brasil não tenha dado alguns passos à frente. A dívida interna com relação ao produto interno bruto, a dívida pública externa e a dependência da importação de petróleo, recuaram no compasso de políticas de Estado que vem sendo cumpridas pelos governos nos últimos anos. Saldos recordes na balança comercial, valorização do real frente a moeda americana e aumento das exportações, sinalizam um momento positivo por qual passa o país. No entanto, outros dados intrigam a nação, na medida em que a sociedade não suporta o alto custo da carga tributária imposta de maneira selvagem e desmedida.

É verdade que as exportações já superam a marca dos 100 bilhões de dólares, como também é verdade que a nossa participação no comércio internacional permanece a mesma já por muitos anos. Só para se ter uma idéia, nos anos 80 as exportações brasileiras, coreanas e chinesas eram iguais, ou seja, algo em torno de 22 bilhões de dólares. Hoje, a Coréia exporta 3 vezes mais que o Brasil e a China 5 vezes mais. Estas discrepâncias entre os dados positivos e os negativos, desembocam na necessidade do país ter políticas de Estado e não de Governo. É preciso despertar esta consciência nos homens públicos, sob pena dos números positivos do país servirem num futuro bem próximo, apenas de amostra em palestras acadêmicas ou para o conteúdo dos discursos políticos.

Faço estas observações, apenas para chamar a atenção de que temas importantes estão ficando à margem das discussões no país, como que se outros fossem o caminho da redenção da pátria. Na contra-mão da história, ninguém mais fala na educação. Esparramaram escolas por todo o Brasil, encheram-nas de alunos e criaram uma gratificação aos professores. 97 % das crianças estão matriculadas, foram construídas centenas de escolas por estes rincões afora e reforçaram o salário do educador. Pronto, resolvido o problema. Na verdade, é preciso que fique bem claro, que dificilmente vamos sair da situação de terceiro mundo enquanto a educação no Brasil for tratada de forma estatística, quando deveria ser tratada de maneira pragmática, permitindo que outras nações passem a nossa frente nos mais diversos setores.

Este país, lamentavelmente, não conseguirá dar nenhum passo adiante, seja em que setor for, enquanto a sociedade não cobrar e entender, que o melhor investimento para a auto-determinação de um povo ainda é a educação. Educação, saúde e segurança, não podem ser encaradas como políticas locais, mas sim como esteio de um Estado que quer chegar ao primeiro mundo. Exportar grãos, carne, máquinas e implementos são importantes, mas nunca sustentaram a força e o reconhecimento de uma nação. Que esta nova geração de homens públicos que chegará ao poder em 2006, esteja comprometida com a educação, antes de criarmos uma nova geração que não saiba, ao menos, o que é educação. Que a educação futura deste país, possa dar aos nossos cidadãos o conhecimento suficiente para distinguir a verdade da mentira, o certo do errado, o possível do impossível. Que a educação futura possa dar conhecimento suficiente aos nossos cidadãos entenderem o por quê dos governos anunciarem a liberação de recursos que nunca chegam, prometerem empregos que não existem e lançarem programas que nunca funcionam.

A eterna briga de Darcy Ribeiro pela educação, apontava para uma sociedade que pudesse compreender a tudo isto, que fizesse seu juízo de valoração e se imunizasse de números e dados que influenciassem o cidadão. Infelizmente não conseguiu. Antes de morrer, ao receber um prêmio por sua luta e genialidade na Universidade de Sorbonne, na França, proferiu a seguinte frase; “vivi sempre pregando e lutando, como um cruzado, pelas causas que me comovem. Na verdade somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isto não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que me venceram nestas batalhas”.

Os números positivos anunciados pelo governo federal, não devem ser encarados como motivo de acomodação. Que a luta de um país melhor seja retomada pelos caminhos da educação, fazendo compreender aos homens públicos que ela é uma política de Estado e não de governo. Do contrário, como disse Darcy Ribeiro, ficaremos ao lado do derrotados, a termos que ficar ao lado dos que venceram.

Youssif Domingos
Advogado, Pres. Câmara Municipal de Campo Grande-MS

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