As eleições da OAB-SP e a validade das pesquisas eleitorais

Todos merecem uma segunda chance. No passado, o instituto de pesquisa Brasmarket teve a confiabilidade de seus levantamentos questionada, como de resto também o tiveram vários dos mais conhecidos institutos do país. Agora, conforme a campanha pela presidência da Ordem dos Advogados do Brasil, seção São Paulo, começa a ganhar corpo, voltamos a encontrar indícios que nos levam a questionar os dados apresentados pelo referido instituto.

Há cerca de quatro meses, foi divulgada a primeira pesquisa da Brasmarket a cerca da eleição da OAB-SP. Um levantamento amplo, que trouxe insights interessantes sobre que poderia vir a ser essa disputa. Mas um dado importante faltava. Pelo menos não se viu divulgado, quantos dos nossos colegas ainda não sabiam em quem votar. A informação é relevante para que se pudesse agora, com as chapas já mais próximas da definição, avaliar a evolução do eleitorado.

Uma segunda pesquisa acaba de ser divulgada nesta semana e o que vemos é a cristalização de inconsistências que já marcaram o primeiro levantamento. Além de ser sintomático o fato de que ninguém parece ter encomendado o tal levantamento. Teria o instituto Brasmarket resolvido fazer a referida pesquisa às suas próprias expensas? Por que o faria, pelo apreço que tem pela classe dos advogados ou pela OAB-SP?

Seja lá como for, como bem sabem os estatísticos, não é difícil fazer com que os números comprovem ou corroborem os cenários que queremos ver concretizados, e o que não faltam em época de campanha são torturadores de números. As campanhas político-partidárias em eleições proporcionais ou majoritárias são prova disso.

Todos os institutos de pesquisa tiveram sua credibilidade questionada por afirmar que “B” ou “C” ganharia uma eleição e a realidade das urnas mostrar diferente. Basta perguntar, e cada um de nós lembrará de um caso de um candidato que aparecia mal colocado ou, às vezes, nem aparecia numa pesquisa, e terminou eleito. Isso para não falar no inverso. Ah, se todo candidato que saiu na frente numa disputa tivesse sido eleito…

É precisamente para isso que existem as campanhas. A atenção dos eleitores deve ser conquistada para que eles percebam que é importante nos conhecer e a nossas propostas, para que eles tenham a chance de avaliar quem melhor representa seus anseios.

A mais de um mês da eleição, sem chapas ainda inscritas oficialmente, apesar de a campanha estar na rua — no caso de alguns candidatos, há anos —, o que sentimos, e o que nossas pesquisas mostram, é que pouquíssimos advogados pararam para pensar em quem votarão.

Se considerarmos válida a mostra apresentada nesta semana para a Brasmarket, vê-se ali mesmo que, se a eleição fosse hoje, 30% não saberiam em quem votar e cerca de 5% não votariam em ninguém ou anulariam o voto. Nossas informações dão conta que o universo de indecisos é bem mais expressivo. Um levantamento feito para nós pela MRC (especialista em pesquisa de produtos e que faz levantamentos internos em grandes companhias) acusou 82% de indecisos na capital e um número ainda maior no interior.

Minha candidatura foi lançada em setembro e o que vemos é um crescimento acentuado e consistente do número de apoios. Nossos levantamentos mostram que, apesar de tardia, minha candidatura nasceu forte, pois nunca tivemos menos de 3% das intenções de voto e, com tão pouco tempo de trabalho, mais do que dobramos esse percentual.

Eu aceitei esse desafio por insistência de amigos e colegas que vêem em mim a possibilidade da mudança. Trago em mim o sentimento que há dentro de todos os advogados comprometidos com a profissão e com a prática advocatícia: a revolta e a indignação com a condição de quase mendicância que foi impingida à classe, sem que aqueles que deveriam nos representar — entenda-se a OAB-SP — tenham levantado uma palha para evitar que a situação chegasse onde chegou.

Agora precisamos mudar, limpar a casa e começar novamente. Entendemos eu, e um grupo de amigos fiéis e igualmente comprometidos com o Direito e com o direito do cidadão à Justiça, que as candidaturas que estavam postas até meados de agosto jamais reverteriam esse quadro dramático, no sentido de recuperar a dignidade do advogado. Assim, a dar crédito a uma pesquisa sem dono, prefiro acreditar nos nossos indicadores, que mostram que a classe quer mudança e que me vê, sim, como uma alternativa confiável de mudança.

Carlos Ergas é pré-candidato à presidência da OAB-SP

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