Terminou bem o caso da pequena Brenda Gabriela, 4, raptada no interior de uma igreja no centro de São Paulo no dia 12 de junho. Ela foi reconhecida por um vizinho, o adolescente Alex Ramos de Carvalho, 17, quando estava nos braços de um morador de rua em frente à empresa onde trabalha na Zona Sul da cidade, 15 dias depois de ter sido levada da mãe, a diarista Geissa Maria da Silva, 31, que passou horas e dias de desespero, assim como parentes, vizinhos, amigos e muitas pessoas da sociedade brasileira que torciam para que fosse encontrada logo, e viva. Diferente de um caso semelhante ocorrido em 2007, quando a criança foi encontrada morta. É curiosa a circunstância que norteia esse desfecho. No depoimento de Alex Ramos de Carvalho, órfão de mãe (o pai é desconhecido), analfabeto, que trabalha como repositor de estoque numa bomboniere, seu segundo emprego, ele conta que conhece a pequena Brenda desde que nasceu, pois são vizinhos, e que teria ficado muito chocado com seu desaparecimento.
A forma que encontrou para ajudar foi seguir viagem a Aparecida do Norte, com alguns amigos, onde levou uma foto de Brenda Gabriela, para uma corrente de oração na capela daquela cidade, onde pediu a Deus para que a pequena vizinha fosse encontrada para a alegria e felicidade de todos e especialmente dos familiares.
No trabalho, enquanto relatava à sua chefe sobre a viagem, seu objetivo e preocupação com a pequena Brenda, sua vizinha, que ele avistou, do interior da loja, um homem com uma criança no colo, com o rosto sujo e usando uma touca. Ele simplesmente falou: “Aquela é a menina que sumiu”. Sua chefe teria dito: “Não é ela não”. Instintivamente o rapaz pediu licença e saiu da loja para abordar o homem com a criança dizendo: “Essa menina você roubou”. O desconhecido, que parecia um morador de rua, teria respondido: “Não! É minha filha. Vou buscar o RG dela na carroça”. Ele tencionava levar a menina, que foi segura pelo jovem. Diante desse ato o homem teria fugindo correndo. Populares tentaram agarrá-lo, mas não conseguiram alcançá-lo.
E foi dessa forma que se deu o desfecho do caso. A imprensa usou termos diversos como: “um golpe do acaso”, “extrema coincidência” e “sorte”, entre outros, para justificar os fatos.
Seria mesmo uma extrema coincidência esse desfecho? Teria sido de fato um “golpe do acaso” uma menina raptada num lado da cidade ter sido vista 10 dias depois num outro extremo de São Paulo por um vizinho? E se levarmos em consideração que São Paulo tem uma população de 11 milhões de habitantes e de 19 milhões se considerarmos a região metropolitana (formada por alguns municípios vizinhos), ainda assim seria uma coincidência? E mais: em meio a esse turbilhão de gente, justo um vizinho se depara frente a frente com a menina! E para deixar ainda mais intrigante, um menino que se preocupou e viajou para pedir ajuda a Deus e suas preces se vêem atendidas no exato momento em que relatava essa sua iniciativa?
A figura humilde e solidária desse jovem, que no final de sua entrevista à imprensa afirma que: “… às vezes fico pensando na vida, vem tudo, o serviço, minha mãe (falecida quando tinha 12 anos), esse negócio de alfabetização, caramba! Tudo numa pessoa só. Quem agora precisa se salvar sou eu” também nos remete à reflexão. Depois que conheci sua história, tenho rogado também ao Senhor para que sua dignidade e oportunidade na vida sejam resgatados.
(*)Wilson Aquino é jornalista e professor. (aquinowil@uol.com.br)