Na semana em que os bandidos resolveram afrontar o Estado, os políticos ficaram atônitos e cada um apresentou a resposta que achou politicamente correta. Alguns creditaram o ocorrido à “burguesia” e aos problemas sociais, outros aos tucanos, outros aos petistas e o nosso presidente à falta de educação do povo.
Interessante analisar a crítica de Lula de que as “elites” não construíram escolas nas últimas décadas, e que ele prefere construir escolas a presídios. Dias atrás, Lula celebrava o analfabetismo de sua mãe e rebaixava os intelectuais e pessoas cultas, alegando que a ética valia mais do que o estudo. Só para comparar, lembro que Lula dizia que sua mãe, apesar de analfabeta, era muito honesta, porém agora faz discurso dizendo que o inculto se tornou um bandido por não frequentar a escola.
Acredito que o presidente, bem como as autoridades e políticos, não tem respostas para o “problema da violência” no país, daí, cada qual coloca a muleta que acha conveniente para responder à sociedade e encobrir a falta de competência. Lula, no caso, afirma que é a falta de educação que fez aqueles “meninos” de 1985 – hoje homens – bandidos de alta periculosidade.
Se estudarmos as estatísticas dos últimos 35 anos, chegaremos à conclusão de que o Brasil foi um dos países que mais avançou em termos de inclusão educacional no mundo. Dos 35% da população analfabeta em 1970, chegamos a 2000 com 9%, mesmo com uma alta taxa de crescimento demográfico (basta lembrar que de 90 milhões de habitantes em 1970, pulamos para 170 milhões em 2000).
Olhando os números de oferta de vagas e matrículas no ensino fundamental (antigo primeiro grau), chegaremos à conclusão de que existe uma percentagem mínima de crianças fora da escola, cujo fruto foi plantado no governo Fernando Henrique, sob a batuta do ministro Paulo Renato. Além desses fatos, temos que o número de oferta de vagas no ensino médio (2º grau), bem como no ensino superior, aumentou quase 100% nos últimos 10 anos, levando os filhos de famílias pobres a frequentar a faculdade. O projeto de Paulo Renato somente será colhido daqui a uns 20 anos, no entanto, acredito que educação não é só “oferta de vagas” nos estabelecimentos de ensino.
Em primeiro lugar, temos que observar a qualidade de ensino e, nisto, as autoridades estão devendo explicações à sociedade quanto ao montante gasto com educação e o retorno medíocre na formação de bons cidadãos. No caso, pinço apenas um tópico do problema, que é a formação do analfabeto funcional. Pesquisa do “Instituto Paulo Montenegro” (em 2005) apontou que somente 26% da população é alfabetizada plenamente. Segundo o Instituto: 7% da população é analfabeta plena; 30% tem uma alfabetização rudimentar (lê títulos ou frases, localizando uma informação bem explícita) e 38% são alfabetizados em nível médio (conseguem ler um texto curto, localizando uma informação explícita ou que exija pouca inferência).
Como se vê, construir escola e abrir vagas para crianças estudarem não é tudo: o que precisamos é de ensino de qualidade. Agora, creditar o problema da violência à educação, como se ela fosse a transformação do cidadão em pessoas pacatas, é uma heresia, para não se dizer uma falta de informação. Vou lembrar nosso presidente que a cidade de Nova York somente diminuiu os índices de violência com a política da “Tolerância Zero”. Antes disso, nenhum programa havia funcionado e investiram bilhões de dólares no aparato policial, na construção de cadeias e presídios para acomodar os delinquentes. Restou a lição de que o delinquente não gosta e não quer estudar, só entendendo a lei da intolerância a seus atos criminosos.
Então, presidente?! A construção de escola é a única solução?
Sergio Maidana, Advogado (sergiomaidana@ig.com.br)