O Banco do Brasil, ao invés de estimular a produção nacional de grãos, acaba atrapalhando o desenvolvimento, querendo ou não.
A determinação superior fixou: só terá acesso ao crédito o agricultor que fez custeio na safra passada. Sendo que o recurso continua o mesmo do outro ano, ou seja, R$ 1,2 bilhão. O nivelamento é por baixo. Também está vetada a liberação de recursos para agricultor que pretende fazer o primeiro financiamento. Significa além da falta de subsídio, que o “caboclo” tem que se descapitalizar, por fora desse sistema financeiro. É claro que essa decisão é um absurdo.
O BB castiga o produtor quatro vezes: quando atrasa a liberação do dinheiro financiado; quando, pelo atraso do custeio e por inconsistência de uma política creditícia definida, praticamente empurra o produtor a tomar dinheiro de outras fontes para não perder o tempo de iniciar a sua lavoura e com isso torna-se devedor de juros altíssimos, sobre juros altíssimos; quando, pelo motivo do “socorro extra” torna-se inadimplente (mas, por essa política de atraso, o BB não deveria ser co-responsabilizado pela tomada de financiamento de outras fontes creditícias e descapitalização, e até pela inadimplência que, ele banco, tanto recrimina no produtor? Até parece que o produtor gosta de autofinanciar sua própria falência.
Mas o BB ainda castiga quando parte dos produtores tiveram também o prejuízo por ter entregue seus produtos a preços aviltantes e tendo que suplementar com empréstimos fora do Banco do Brasil, para manter-se com o crédito regular. E isso não é um remédio de dose cavalar? Não é um paradoxo que aumenta a angústia das mãos enérgicas e honestas que não querem ficar paradas? E esta é a realidade, não muito conhecida do público urbano. É uma das realidades em país que só o produtor é cumpridor de regras. Quando minimamente descumpridas é severamente punido. E do governo que não as cumpre, e ainda foge da responsabilidade de ordenar uma política para esse mais importante setor da economia nacional, o que dizer dele?
O produtor do arroz, soja, milho, trigo, algodão e sorgo, reclama da demora do Banco do Brasil na liberação de recursos para o custeio da safra 2005/2006. O produtor será obrigado a reduzir as áreas plantadas, até porque os comerciantes que possuem produtos que visam melhorar as condições físico-químico-biológicas do solo estão com medo do prejuízo e só querem, naturalmente, vender à vista… Então, para evitar mal maior, ao invés da lavoura o agricultor planta pasto. Neste caso, está mais encaixado o arrendatário.
A pressão sobre o BB é a alternativa do homem do campo para evitar mais atraso e para que não negociem seus produtos antecipadamente, como alguns já fizeram, com empresas beneficiadoras de grão. A operação antecipada é conhecida como comercialização de produto verde. É quando algumas empresas se aproveitam do atraso da liberação dos recursos e da angústia do produtor, para comprar parte da lavoura com valores inferiores ao preço mínimo estabelecido pelo governo federal.
Ainda há alguns poucos que dentro do universo do produtor rural, numérica e porcentualmente, quase não representam entre os que sofrem na lavoura, e que tiveram que diminuir áreas plantadas, por terem que vender suas terras. Para esses bravos, o sofrimento para chegar à decisão de se desfazer de um pouco de terra, é como se tivesse perdido um pedaço de sua vida. Para cada um, é 100% de sofrimento e de alguma ou muita lágrima rolada e noites sem dormir. Mas não abandonaram a lavoura.
Crítica é o que não falta. Até sobre os juros mais elevados. E o produtor não sente possibilidade de preço bom para as próximas safras. As propostas de preços das empresas estão baixas e o produtor embora com máquina nova, no mercado, está pisando firme no freio, mas da máquina velha.
Esse quadro caótico e desestimulante para o homem do campo brasileiro, tem no mercado comum europeu seu concorrente com a produção da lavoura subsidiada pelos seus governos, tornando desigual a concorrência. E o governo do Brasil, insensivelmente, ao manipular informações desencontradas sobre crédito agrícola, também contribui para jogar o consumidor urbano contra o produtor rural. Parece que faz tal coisa para tentar tirar a força política da categoria que tem aumentado sua representação no Congresso Nacional.
Diante dos anúncios premeditados de liberação de dinheiro, que de fato não acontece a tempo das notícias divulgadas, o deboche ou rótulo, como queiram, são as expressões: “reacionário”, “latifundiário”, “caloteiro”, etc., embora com menor quantidade de preconceito.
Assim, o homem da cidade desconhece cada vez mais a dedicação, a angústia do homem do campo que precisa ter seu trabalho prestigiado, porque nesse meio tem homens e mulheres que trabalham a terra e dela fazem surgir a riqueza nacional. E esta deixa o campo, atingindo os depósitos, os armazéns, vai pelas estradas e chega às cidades, tocando fábricas, mantendo e fazendo crescer prestação de serviços, o comércio em geral, com recolhimento de mais impostos. Ativam a economia nacional, até com exportações.
Ruy Sant´Anna dos Santos
Advogado e jornalista