Desarmamento e o sofá na sala

“É evidente que os crimes escabrosos noticiados não serão resolvidos com simples proibições, mesmo sob os holofotes da propaganda governamental…”

A Campanha Nacional de Desarmamento do Ministério da Justiça quer distinguir as mortes por arma de fogo, como o marido traído que manda tirar da sala o sofá, que agasalhava sua mulher e o amante. E essa história é tão velha, mas parece atual. Quanto temos o governo federal preocupado com uma campanha para o desarmamento, ao invés de cuidar de ações concretas visando o planejamento familiar de maneira ampla e assistida para evitar ou diminuir desestruturas familiares, econômicas, educacionais, e sem dar melhor remuneração e apoio psíquico e emocional aos policiais, constatamos a semelhança do marido ou mulher traídos, “reagindo contra o sofá da sala”.

Essa maneira simplista e ostentatória de esconder os verdadeiros motivos da violência que assumem proporções de uma verdadeira guerra civil, na qual marginais armados em flagrante maioria costumam triunfar sobre vítimas inocentes, é muito estranha. Até faz lembrar os protestos que a antiga oposição ao governo militar fazia contra aquele sistema, quando ele estava em grave crise. Naquela época, uma campanha sempre era anunciada. Se boa, no começo da semana, para ser comentada. Se ruim, ao fim de semana ou à beira de um feriado prolongado. O objetivo desta era buscar a pouca repercussão e/ou esquecimento rápido do episodio.

É muito estranha a estatística do governo. Parece ser fabricada ao sabor e gosto de quem tem interesse na mesma. Ainda mais quando se sabe, por ouvir dizer, que não é difícil que um governo ofereça ante-projeto para ser proposto como se do governo não fosse, para logo ser “adotado” pelo executivo. Longe de mim, afirmar que seja o mesmo caso do desarmamento nacional.

No caso das chacinas, a imprensa noticia os crimes praticados por assassinos, erradamente tratando-os como “justiceiros”.A imprensa erra por dois motivos, porque é crime tentar ou tirar a vida de alguém, e porque, para o criminoso, cada notícia desse tipo conta ponto como se fosse bonito ser feio. E é na chacina ou na briga pelo domínio do tráfico que estão os maiores números de mortalidade, quando centenas de pessoas, de bebês a jovens, de adultos a idosos, sem escaparem as mulheres grávidas, que são impiedosamente assassinadas aleatoriamente.

Aí estão as pontas das linhas embaraçadas que nenhum governo, até hoje, interessou-se em puchar, para pelo menos diminuir o emaranhado das questões sociais que estão atrás de cada problema noticiado. Estes são consequências de desestruturas familiares, econômicas, educacionais e até falta de melhor salário aos policiais, com seguro de vida, melhores armas e equipamentos de defesas, como superior físico, psicológico, formação e prevenção.

É evidente que os crimes escabrosos noticiados não serão resolvidos com simples proibições, mesmo sob os holofotes da propaganda governamental. Essa medida proibitiva, é ineficiente sem uma completa ação contra os questionamentos básicos que causam a violência explícita. Pois, o mercado paralelo, o contrabando e o suborno serão aumentados, e isso sim constitui risco permanente para a sociedade. Essa medida, se aprovada pela população, definitivamente, desequilibrará a correlação de forças a favor dos criminosos.

De tudo aqui comentado, fica a impressão do ufanismo, da vaidade de que o governo federal dá sinais de ostentar, e de satisfação com o suposto resultado de que o índice de criminalidade teria caído.

Ruy Sant´Anna dos Santos
Advogado e Jornalista

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