Domínio das ferramentas digitais será o grande diferencial dos advogados

Autor: Antonio Bratefixe e Ricardo Pulice de Almeida (*)

 

Que a tecnologia é a grande responsável pela mudança do ambiente de trabalho e principal personagem do diferencial competitivo dos dias atuais é inegável. O seu impacto na forma que os serviços são prestados pelas empresas, principalmente motivada pela disseminação dos smartphones, alterou de forma significativa o sistema de relacionamento entre empresa e consumidor.

Hoje a presença de softwares, aplicações e demais alternativas tecnológicas que substituem formas antigas de relacionamento ou negócio estão presentes desde as grandes empresas até o empresário individual. Na advocacia não é diferente onde a automatização necessária para o desenvolvimento das atividades, muitas vezes repetitivas, torna-se um grande diferencial competitivo.

A informatização do ambiente jurídico é inevitável, e por mais que tenha sido lenta e cercada de desconfianças, ela sempre existiu, e avança de forma cada vez mais ordenada.

Passamos da era da advocacia analógica para a digital, com a disseminação dos computadores pessoais, provocadas pela revolução ocorrida no Vale do Silício, que proporcionou a saída dos computadores das grandes empresas para chegarem até os lares e escritórios de advocacia.

Mesmo não sendo um investimento barato na época, as máquinas de escrever foram sendo substituídas pelos computadores pessoais. Os editores de texto, que substituíram o digitar das máquinas de escrever, tiveram importância não só na facilidade de desenvolver teses e petições, mas no avanço diretamente ligado ao negócio da advocacia e ao mercado jurídico como um todo.

Com o desenvolvimento de softwares, que puderam incluir além de petições, edição de textos, planilhas, banco de dados e parametrização de informação, isso gerou um desenvolvimento muito grande dos escritórios de advocacia, ao ponto que podemos sim considerar que os avanços de grandes bancas atuais passaram necessariamente pelos investimentos direcionados em novas tecnologias.

Se olharmos para trás, nos orçamentos e planejamentos das bancas atuais, veremos investimentos significativos em tecnologia, que provavelmente devem ter sido contestados em conselhos de sócios à época.

Toda essa tecnologia implantada no mercado jurídico possibilitou aos grandes escritórios assumirem grandes carteiras, com alto fluxo de processos e atos judiciais, sem colocar em risco a qualidade e sucesso de suas operações.

Somente com a tecnologia foi possível que as grandes bancas tivessem um acréscimo de demandas, com altos índices de contencioso e baixo investimento em capital humano, possibilitando uma maior velocidade e dinamismo em suas operações.

Estamos na era de uma nova tecnologia, estamos na era de uma informatização que atinge outros parâmetros da advocacia, onde a tecnologia atuará direcionada a facilitar as pesquisas, geração de conteúdo e automatização de tarefas onde a presença do advogado se torna desnecessária.

As startups já olham o mercado jurídico com outros olhos. Os serviços oferecidos por essas empresas possuem dois direcionamentos específicos, importantes para compreender a sua influência no mercado jurídico. Há startups que atuam diretamente no auxílio direto aos escritórios e departamento jurídico, gerenciando melhor o seu conteúdo e automatizando tarefas internas repetitivas, como também existem as que atuam diretamente na aproximação do usuário final, aquele usuário que busca a Justiça, facilitando o seu acesso sem os custos e interface dos advogados que geralmente possuem serviços de alto valor para demandas que não se adaptam ao sucesso final perseguido.

Mas porque essas empresas assustam tanto os profissionais da área jurídica?

Primeiramente é preciso compreender que ninguém freia a tecnologia, e os avanços das novas ferramentas que hoje são facilitadas pelos usos de notebooks, tablets e smartphones estão cada vez mais inseridas no cotidiano dos profissionais.

A atual geração de profissionais (a geração Y – Millenials) já nasce com a tecnologia diretamente interligada, como peça fundamental de sua convivência, forma de comunicação e desempenho de suas atividades. São profissionais que não precisaram “aprender” sobre as novas tecnologias, eles já nascem dentro do ambiente digital.

É natural o receio dos profissionais de advocacia com as novas tecnologias, principalmente sobre o risco de o avanço tecnológico substituir boa parte de suas atividades, o que naturalmente ou inevitavelmente ocorrerá.

O que a tecnologia proporcionará, facilitando a geração de conteúdo e copilando informações por meio de dados ou inteligência artificial é uma alteração natural do conceito da advocacia e da forma de se prestar o serviço jurídico.

Há atividades na advocacia, e como em qualquer outra profissão geradora de serviços, que são realizadas de forma artesanal, mecânica, onde a burocratização e a interface produtiva de conteúdo muitas vezes não está diretamente relacionada com o desenvolvimento intelectual do trabalho, esse sim o principal valor da advocacia.

O que a tecnologia e a informatização da atividade jurídica ocasionará no mercado é o isolamento inteligente e produtivo dessas duas faces do trabalho do advogado, tornando-o cada vez mais intelectual, de análise e de estratégia, do que mecânico e de produção.

Um grande exemplo disso é o já consolidado software Watson, da IBM. Trata-se de um software líder em computação cognitiva. Não é algo voltado apenas para a advocacia, mas sim para qualquer área que necessite de suas funcionalidades. O Watson consegue lidar com a grande massa de dados não relacionadas da web (cerca de 80% da informação disponível não está estruturada) e organizar de uma maneira lógica e correlacionada de acordo com o que você precisa.

 

 

 

Autor: Antonio Bratefixe é sócio da área trabalhista de Có Crivelli Advogados e especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas.

 Ricardo Pulice de Almeida é cientista da computação pela UFG, sócio-proprietário da iFox Consultoria em Tecnologia. Desenvolvedor e analista há 8 anos pela Indra prestando serviços para o Estado de Goiás.


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