Dossiê "peloscano"

“João amava Teresa que amava Raimundo /que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili /que não amava ninguém./João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, /Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia, /Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes /que não tinha entrado na história.” (Quadrilha – Carlos Drumond de Andrade)

Semana passada, a imprensa pôde fazer trocadilho com o poema de Drumond, após a prisão de dois petistas em hotel de luxo na capital paulistana. A rima ficaria assim: “Gedimar, que obedecia a Valdebran, que obedecia a Freud Godoy, que obedecia a Expedito Veloso, que obedecia a Osvaldo Bargas, que obedecia a Jorge Lorenzetti, que obedecia Ricardo Berzoini, que obedecia a quem ainda não entrou na história. Gedimar e Valdebran foram presos, Freud jurou inocência, Expedito Bargas e Lorenzetti justificaram o ato e Berzoini disse que sabia, mas não conhecia. Em comum, o fato de serem do grupo do comitê de campanha de Lula”.

O núcleo de espionagem da campanha de Lula montou um dossiê através de Expedito – segundo as notícias – que, para dar veracidade, combinou mediante paga com o empresário acusado do esquema Sanguessuga, Luiz Vedoin, denunciando a oposição. A história seria mais ou menos assim, na minha opinião: Vedoin daria uma entrevista a uma revista nacional, dizendo que José Serra e os tucanos (aqui incluiria Alckmin) eram parceiros na roubalheira do esquema sanguessuga. No ato, os candidatos de oposição negariam, então alguém comunicaria a imprensa que tinha um dossiê provando a entrevista. O dito pelo não dito ficaria na pauta do dia na imprensa até a eleição e desmoralizaria os candidatos tucanos.

Ao final, a operação seria um sucesso, com a desconfiança da classe média – que é extremamente rigorosa quanto à moral dos candidatos – Alckmin pararia de crescer e Lula ganharia no primeiro turno. Por outro lado, Serra cairia em descrédito junto ao eleitorado paulista – muito crítico por sinal – e resultaria no segundo turno com chances de Mercadante ganhar.

A elaboração do “Dossiê antitucano” – pelo que se comenta – foi feita dentro do Comitê Nacional de Lula, o que o fez rapidamente repudiar o fato, porém, não se desdobrou em solucionar o caso, determinando ao Banco Central que encontre a origem do dinheiro que compraria o dossiê, ou pagaria os Vedoins pela entrevista. O que seria uma operação de sucesso passou a ser a “Operação Peloscanos” com todos os membros sendo afastados da campanha nacional, inclusive um assessor direto de Mercadante.

Do dinheiro apreendido (1,7 milhão de reais), 250 mil eram em dólares novinhos em folha, vindo direto de Miami. Preso, Gedimar – ex-agente da polícia federal – confessou que o montante havia sido repassado por um tal de “Fróide” ou “Froude” que depois descobre-se ser Freud Godoy, assessor direto de Lula. Imediatamente Freud negou, como outros que compareceram “espontaneamente” na polícia para dizer que “fizeram uma burrada” e que Lula nada tem a ver com isso. Os “arrependidos” não informaram que estavam “grampeados” pela polícia, assim, resolveram rapidamente se justificar e apresentar sua versão. Porém, não falam de “onde veio o dinheiro” encontrado com os petistas. Existem comentários de que não falam a origem do dinheiro por medo, deixando a candidatura de Lula “sub judice” eis que se for dinheiro de Caixa 2 ou do próprio partido, a impugnação é certa.

O caso é grave e atenta contra a democracia. Acredito, que Lula não estava “com esta bola toda” que as pesquisas apontam e os petistas perceberam a adesão dos indecisos aos candidatos da oposição, especialmente Alckmin. Assim, resolveram desmoralizar a oposição para que ela parasse de subir e a eleição acabasse no primeiro turno – haja vista que os petistas estão temerosos com o segundo turno.

Após o escândalo, os petistas correram e falaram que o fato “não havia” afetado a campanha de Lula, mas rapidamente os institutos de pesquisas declararam uma migração de votos de Lula para Alckmin (ou será que as pesquisas estavam “inflando” Lula?). A tendência de que ocorra o segundo turno – o que é provável – está na ordem do dia e, consequentemente, veremos umas das eleições mais tensas dos últimos anos.

O que seria uma Operação perfeita, para azar dos petistas, passou a ser a “Operação Peloscanos”. E em eleição, quem tem sorte, tem tudo.

SERGIO MAIDANA, advogado em MS (sergiomaidana@ig.com.br)

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