A seleção brasileira segue alegremente vencendo os jogos da Copa do Mundo. Ontem fez três gols contra Gana e mostrou que oportunismo ( no bom sentido) e um pouco de sorte são capazes de driblar as deficiências circunstanciais e chegar lá.
O Brasil contava com destreza e talento de seus jogadores (apesar de parecer jogar muito desarticuladamente) e Gana ( desculpem- me o trocadilho) jogava com gana e brutalidade impressionantes. Perdeu, mas lutou até o final, o que serve como consolo para quem foi mais longe do que se imaginava.
Deixou claro também que o Brasil não é invencível. A seleção ainda está devendo para a torcida o ” grande espetáculo” prometido. Espera-se que com adversários mais difíceis os jogadores brasileiros sejam despertados pelas adversidades e mostrem porque são considerados os melhores do mundo.
Ontem os comentaristas esportivos reclamavam muito do Brasil durante o jogo. Sinto que esse pessoal não se importa muito com a vitória, e sim com desempenho espetacular. Espera-se show, mas ele não acontece. Percebi claramente que mesmo sendo derrotada Gana estava movida pela vontade intrínseca da vitória. Queria porque queria fazer pelo menos um gol contra o Brasil. Não foi desta vez.
A sorte do Brasil chama-se Dida, figura pouco falada e pouco dada aos brilharecos personalistas (me dizem que lhe falta um bom marqueteiro), mas que tem sido fundamental para fechar o gol, dando segurança a um time que às vezes despiroca em função do excesso de vaidade.
Quem está inebriado pela vitória não consegue enxergar o mundo real com as tintas frescas da lógica dos fatos nus e crus. Qualquer pessoa dotada de um pouco de senso de realidade sabe que até a esta altura do campeonato a seleção brasileira não enfrentou ainda um adversário verdadeiramente complicado.
No próximo jogo com a França os níveis de tensão provavelmente vão aumentar porque sedimentará a eterna disputa entre times europeu e latino-americanos. Esse tipo de enfrentamento, tradicionalmente, enseja dúvidas em todos os sentidos.
Contra a França há aquela mágoa antiga – e que até hoje encerra mistérios insondáveis –, fruto do famoso jogo de final de Copa do Mundo, em 1998, no qual a seleção literalmente pirou ao enfrentar os franceses, sendo derrotada por 3 a zero.
Mais do que destreza, o próximo jogo da seleção implicará a necessidade de preparo psicológico. Há traumas que precisam ser superados e inseguranças que devem ser trabalhadas . Será um teste interessante não só para os nossos jogadores como para todos nós que torcemos para que o Brasil chegue à final.
Noutro campo – há sempre um outro campo na vida – a intensificação das mobilizações conforme a Copa vai chegando ao seu término e indica que também vai se aproximando o momento de os políticos entrar na onda. Notem que somente a partir de agora candidatos começam a se preparar para “faturar” com a euforia da possibilidade de o Brasil ser campeão de mais uma Copa do Mundo.
Claro que se trata de uma alegria efêmera, mas o impacto na auto-estima nacional pode ser duradouro na medida que isso possa ser devidamente estimulado pelo marketing do otimismo. Só há uma dúvida: existe realmente motivo para otimismo?
Dante Filho, jornalista