Autora: Deise Steinheuser (*)
Quando pela primeira vez um cliente se depara com essa pergunta, vinda de um parceiro de negócios, parece não ser possível responder de imediato. Pode parecer claro e óbvio que o êxito das ações judiciais seja o que de mais relevante o escritório pode oferecer. No entanto, após uma análise detida, talvez se conclua que isso não é o suficiente.
A vitória nas ações judiciais é, sem sombra de nenhuma dúvida, a razão pela qual nos mantemos ligados aos nossos parceiros. No entanto, se ela vier desacompanhada de relatórios assertivos sobre o andamento das ações, de respostas descuidadas e equivocadas para nossas auditorias, entramos num cenário de conflito que pode comprometer o bom relacionamento entre cliente e escritório.
É comum as empresas delegarem a análise do risco das ações aos seus parceiros terceirizados. Isso é bastante frequente em ações judiciais diferenciadas como as tributárias, que envolvem impactos financeiros muito relevantes; ações trabalhistas, que são sensíveis para a imagem da corporação, entre várias outras. Terceirizar esta responsabilidade gera uma encargo grande para o escritório. Ao mesmo tempo em que o cliente está lhe dizendo que confia nele para que ele dê o norte das suas ações estratégicas, ele também espera que o escritório seja cuidadoso, minimalista e muito assertivo nesta entrega.
Quando os escritórios não atuam com zelo neste cenário, o gestor da empresa cliente, acaba sendo diretamente afetado, afinal é ele quem responde por aquela cota parte da gestão que foi terceirizada e que não foi bem conduzida pelo escritório.
Por outro lado, muitas vezes o parceiro também se sente em conflito com este cenário. Há empresas que demonstram uma preocupação tão exacerbada com os relatórios que parece não darem importância para os êxitos das ações e isso pode ser frustrante. A situação ideal (vitórias em ações judiciais e relatórios assertivos e corretos) é sempre o padrão de excelência que se deve buscar. Para tanto, é importante o escritório destacar profissionais bem preparados para essa tarefa.
Logo, é fundamental, pelo lado dos escritórios, conversar e entender a real necessidade do cliente para com esses relatórios e tentar, ao máximo, cumprir as determinações quanto a prazos de entrega e fidelidade das informações. Na maioria das vezes, é importante a ajuda de contadores para a melhor valoração dos processos. Imprescindível, também, manter o controle dos processos “up to date” de forma que a informação seja precisa.
Fundamental, ainda, pelo lado dos clientes, que esse diálogo constante se reflita em equipes parceiras, que “falem a mesma língua” e se completem nessa troca de informações (não é raro, o escritório ser questionado por informações que já constam dos relatórios), evitando-se retrabalho.
Em linha com tudo isso, também importa considerar que, muito possivelmente, quando estivermos falando de uma empresa de pequeno porte, talvez a questão dos relatórios seja totalmente secundária e de menor relevância pra ela. O êxito sim será algo essencial para proteger o seu patrimônio financeiro. Relatórios podem não ser tão importantes quanto para as empresas de grande porte, para as quais o controle das reservas técnicas das ações é algo essencial.
Logo, a conclusão mais honesta para a questão é a de que não é possível escolher entre uma e outra coisa. Se ambas forem bem conduzidas a parceria será muito bem sucedida. Se qualquer uma delas estiver desequilibrada, então a parceria sofrerá as consequências naturais dessa falta de equalização, no entanto, cliente e escritório precisam estar com todas as expectativas bem alinhadas de lado a lado. Este é um dos segredos do sucesso na parceria.
Autora: Deise Steinheuser é superintendente jurídica da Tokio Marine Seguradora.