Governo e bancos

Para manter o triunfalismo político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva procura evitar tudo que provoque a perda de votos, e se puder ganhar algum demonstra uma impressionante capacidade para enganar questionamentos fundamentais para a tranquilidade da vida nacional.

Nas entrevistas simplesmente ignora perguntas, em chocante desatenção ao entrevistador e aos eleitores. Ou quando as perguntas são mais objetivas sobre como e com que recursos pretende executar as promessas que já se amontoam sobre as da campanha anterior, fica irritado e destrata o(a) interlocutor(a), como a pouco. Assim, Lula segue rindo e fazendo carranca para dar ar de objetividade ao prometer mudar tudo, caso reeleja-se. Tal qual na eleição passada. E a julgar-se pelo atual mandato e recente passado, tudo está a indicar que as promessas de mudar tudo continuariam rigorosamente em nada.

O programa ao qual Lula procura não dar tanto destaque é generalizante e indeterminado, não permite nem adivinhar de que modo seriam atacados os problemas, principalmente se abandonar o modelo que encontrou e seguiu de Fernando Henrique Cardoso, na política econômica e social (p.ex) e das quais procura orgulhar-se como se fossem suas criações.

Lula, fingindo não fazer só promessas, lança obras e serviços para o futuro, que só a Deus pertence. Enquanto hoje o que se sabe, pela vivência com tal governo, deverá continuar valendo o programa que não está escrito, mas aquele que o candidato, seu partido e “os amigos” pegos nos contra-passos efetivamente defendem à sombra. Tudo isso por conta e risco de triunfalismo político que faz Lula até receber no Palácio o ex-deputado José Genoíno, aquele que disse que não sabia o que assinava. Tudo dentro do pouco caso à lei e à ética. O encontro se deu com Lula, o presidente, que acha natural o caixa dois e que tomado de lapsos de memória “não sabia de nada”, e dessa maneira é montado perfeito par, nesse pacto de cadeado blindado, que nessa hora evita ter por perto o língua de tamanduá.

Enquanto isso o Brasil continua entalado com a política ressecada e na versão salaminho, persiste fatiando as questões que nunca se juntam para soluções que atendam à abrangência nacional dos problemas. Os hospitais sucateados, lotados de doentes pelos corredores, com UTIs insuficientes, pagamentos irrisórios para os profissionais da saúde, sem segurança, sem educação, com a agropecuária perdendo sua energia e orgulho nacional, com o pretexto de o País dar um salto na área industrial, enquanto o que vemos é evasão das mãos experientes na agricultura e pecuária virem para as cidades, e se juntarem às mãos também habilidosas e calejadas dos operários das fábricas e cada vez mais todos sofrendo com a angústia das mãos paradas. Esta observação que adjetiva e apelida superlativamente não é exagerada. Os indicadores econômicos e sociais, embora camuflados pela propaganda do governo, atestam que por baixo do verniz do triunfalismo existe, latejante, a crise brasileira. Que não está sendo levada a sério.

O governo cede ao triunfalismo político e escorrega na baba elástica dos puxa-saco e do bloco do “nada vai mudar” ou “deixa como está pra ver como é que fica”, com a quebra da energia democrática. Impera o corporativismo que dilacera as aspirações das maiorias pelo das minorias palacianas. Apesar disso tudo, ainda há os que dizem que o povo teve seu poder aquisitivo aumentado, podendo ir às compras. E essa conversa é uma arapuca em que a sociedade tem caído. O povo está endividado, igual aos aposentados que em vez de receberem aumento, ganharam um cartão, que está servindo de tablado no qual muitos já estão enforcados com tantas dívidas com juros que arrancam o couro das pessoas.E o comércio sofre também com o mesmo problema porque a inadimplência estoura em seu caixa, cheio de cheques sem fundo e cartões de crédito nas cucuias.

Mas, e o desarranjo provocado pelo governo federal, existe alguma punição para ele? Claro que não! Para o governo federal não existe Lei de Responsabilidade Fiscal que possa lhe dar jeito. O governo deveria ser fiscalizado pelo LRF e punido quando fugisse do equilíbrio fiscal, não cumprisse as promessas de campanhas eleitorais, o que daria um caráter mais real e menos mentiroso às campanhas políticas. Com tal mudança de caráter das promessas tudo ficaria mais evidente. Não teríamos mais a figura debochada do mentiroso com promessas impossíveis ou que acavalem sobre as primeiras que não foram cumpridas. Há que se criar uma Lei de Responsabilidade Fiscal para o governo federal, hoje carimbado ostensivamente pela impunidade que joga a conta e as desgraças administrativas sobre as costas de todo o povo.

Lula não sabia dos lucros exorbitantes dos bancos no País? É claro que sabia, ou vai dizer outra vez que não sabia? Qualquer criança sabe desses lucros. E por que não tomou medidas antes do período eleitoral? Esperou todo esse tempo para ao final do seu mandato, fingir-se de traído?! E anunciar medidas para serem adotadas após as eleições…? É demais. Não houve segmento da economia brasileira que superou tranquilamente as crises nacionais e internacionais quanto o sistema financeiro brasileiro. Aliás, duas instituições se deram bem: o governo federal, que aumentou e se arreganhou de ganhar tanto dinheiro com mais impostos e a instituição financeira. Em contraste com uma economia de maneira geral marcada pela estagnação.

Ruy Sant´Anna dos Santos, jornalista e advogado em MS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.


Você está prestes a ser direcionado à página
Deseja realmente prosseguir?
Atendimento