Rêmolo Letteriello, João Lacerda de Azevedo e Leão Neto do Carmo.
Recentemente fui convidado pelo digno Presidente do TJ/MS Desembargador Carlos Eduardo Contar, magistrado dinâmico e vanguardista para relembrar algumas passagens da história do foro guaicuru que ficará em um acervo idealizado pela atual diretoria da corte.
Honrado com o convite, tive que relembrar as reminiscências já não tão fáceis de serem resgatadas, mercê dos meus 81 de jornada, o que me animou a voltar a escrever sobre esses temas em outras abordagens.
Dia 3.7.21 dia de luto pela morte do amigo Rêmolo. Um homem competente, inteligente, justo e detentor de um caráter firme que galgou todos degraus da nossa magistratura estadual e quase alçou o cargo de ministro do STJ. Nessa empreitada foi vencido em uma disputa com concorrentes fortíssimos, na ocasião pelo jurista, então Desembargador do TJ/RJ Luiz Fux, hoje Ministro da Suprema Corte.
A vida é assim mesmo, contou-me como foi esse procedimento, a pitada política muito acendrada e a presença de outros estados da federação com maior proeminência política no contexto da época.
Rêmolo era eclético, trabalhador incansável, foi timoneiro na construção das sedes da Amamsul e da ASL (Academia Sul-Mato-Grossense de Letras). Sempre vanguardista, foi um dos protagonistas no Brasil do projeto que deu origem ao que hoje conhecemos como juizados especiais. Convivi com ele, era bravo mas de um coração enorme, sujeito resoluto e determinado. A criatividade e a cultura italiana estava em sua genética.
Seu pai,Sr Miguel Letteriello, fundou uma fábrica de macarrão em Campo Grande e só andava de terno, pessoa séria e elegante. Seu irmão Rômulo, gente fina, correto e um bom cantor.
Com sua esposa Dona Regina sua amada e grande companheira tiveram suas filhas, são pessoas sérias e educadas, uma delas é a magistrada Dra Cíntia Xavier Letteriello.
Rêmolo deixou a vida terrena, passou para história da magistratura brasileira e hoje dignifica nossa Justiça.
Meu respeito ao Dr. Rêmolo, terá sempre nossa admiração e será um exemplo para os postulantes à esse nobilitante cargo de juiz.
Des. João Lacerda de Azevedo, baiano de Barreiras, foi Juiz em Miranda no então Mato Grosso uno, chegou a Desembargador e Vice-Presidente do TJ/MT. Meu querido padrinho de casamento, já aposentado, ingressou na advocacia e foi um ótimo advogado junto com Dr Eduardo Machado Metello. Des. Lacerda era casado com a Sra. Didácia, foi um homem correto e justo no exercício da toga. Lecionou na vetusta FUCMAT (hoje UCDB) na cadeira de Direito Civil, era didático e bom professor.
Houve um episódio pitoresco em Cuiabá quando se dirigia a pé até a sede do TJ/MT. Um sujeito mal afeiçoado o abordou na rua, perguntando-lhe se ele conhecia o “Dr. Lacerda”. Temendo uma emboscada respondeu: “acho que é um homem que anda de capa por aí”, desarticulando as pretensões maliciosas com sua sagacidade baiana.
Des Leão Neto do Carmo, homem culto e inteligente. Foi o primeiro presidente do TJ/MS e foi Presidente do TRE/MS. Brevemente será editado um livro sobre “os trinta anos de sua morte” pelo seu filho Wagner que eu tive o prazer de participar da edição falando um pouco mais sobre sua personalidade. Dr Leão conhecia direito na sua extensão e lecionou em Campo Grande.
Esse trio hoje pertence ao panteão da história da magistratura e deram exemplo de honestidade, labor e amor à justiça de nossa terra.
A justiça para eles tinha o fulgor da estrela dalva .
Meu respeito por eles.
Campo-Grande,Ms, 9 de julho de 2021.
ABRÃO RAZUK advogado militante e ex-juiz de direito em MS membro da academia Sul-Mato-Grossense de letras e autor de diversos livros