Luz acesa

A luz amarela da economia acendeu. O mercado financeiro, que esperava uma oportunidade para reagir à crise política, oscilou pela primeira vez na semana passada desde que começaram as denúncias, assustando os agentes econômicos com um recado bem claro: por mais madura e sólida que seja a economia brasileira, não existe blindagem suficientemente segura diante da atual avalanche de denúncias de corrupção e desvio de dinheiro público. Preservar a estabilidade econômica é desafio tão grande e importante quanto investigar cada denúncia, com absoluto rigor e isenção.

A trepidação no sistema financeiro fez o Ibovespa despencar 3,39% e a cotação do dólar dar um salto de 2,67%. O clima político também fez o risco Brasil subir 1,69%. O suficiente para governo e oposição se acusarem, mutuamente, de estar jogando lenha na fogueira e provocando instabilidade no ambiente econômico.

Por enquanto, foi só um susto. Não há razão objetiva para preocupações mais sérias, nem para a saída precipitada de capital. A inflação continua sob controle, o superávit de transações correntes e o patamar de nossas reservas são animadores. Mas o próprio Ministério do Planejamento já traça um cenário mais pessimista para a economia brasileira: a projeção de crescimento do PIB este ano foi revista de 4% para 3,4%. A estimativa do total da receita primária para o ano caiu R$ 661,1 milhões em relação ao cálculo anterior. E a estimativa de inflação medida pelo IPCA subiu de 5,1% para 5,57%. O desaquecimento da atividade econômica volta a preocupar e a queda na arrecadação se torna uma consequência inevitável.

Estes são motivos de sobra para que as paixões de uma campanha eleitoral precipitada pelos fatos não afetem as bases econômicas construídas ao longo dos últimos anos. Se a corrupção deixa indignados todos nós, que trabalhamos por um País mais justo e menos desigual, a instabilidade econômica tem como resultado um Brasil ainda mais injusto e desigual. Se a crise política contaminar de vez a economia, quem vai pagar mais a conta são as classes menos favorecidas.

É hora de exercitar o diálogo e a responsabilidade política. As CPIs são instrumentos preciosos da nossa democracia e não vão frustrar a expectativa geral, de uma investigação rigorosa, que termine com a punição dos culpados. Mas é preciso conduzir os trabalhos com absoluta seriedade, evitando acusações e julgamentos infundados ou precipitados, motivações políticas e eleitorais.

Essa responsabilidade também implica a votação de matérias hoje paralisadas por falta de acordo. É o caso da reforma tributária, já aprovada no Senado e que não tem mais desculpas para não caminhar. Simplificar e reduzir os impostos e aprovar um tratamento diferenciado para as micro e pequenas empresas é uma obrigação do Legislativo. Também é condição básica para criar um ambiente mais propício para os investimentos no País. A reforma política também precisa sair do papel. As legendas de aluguel, o troca-troca partidário e o caixa dois das campanhas só vão terminar com uma reforma profunda do nosso sistema político, que fortaleça os partidos brasileiros e reduza sensivelmente o peso do poder econômico nas campanhas eleitorais.

Desde o começo da crise, alertei para a necessidade de uma Agenda de Crescimento capaz de assegurar a retomada do desenvolvimento nacional e levei a proposta a várias entidades pelo País. É esse tipo de diálogo, envolvendo Governo, Congresso, empresários, trabalhadores e sociedade civil, que o Brasil está reclamando. É esse tipo de diálogo que pode evitar que a luz de nossa economia passe a ficar vermelha.

Renan Calheiros*
Presidente do Senado Federal

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