(Não) me ajudem, pelo amor de Deus!

Dênerson Dias Rosa

Hoje de manhã, vinha fazendo minha caminhada matinal na cidade quando cruzei com uma freira e respeitosamente cumprimentei-a, ela me parou e me pediu uma contribuição para o orfanato do qual é responsável.
Um pouco mais tarde, ao me dirigir para o meu escritório, estava esperando um semáforo abrir quando fui abordado por um rapaz, forte, saudável, que se identificou como “da casa de recuperação XX” e pediu uma contribuição para a referida casa.
Ao chegar ao meu escritório, após obter o número do telefone, liguei e, ao falar com o responsável pela referida casa, narrei o fato ocorrido bem como o meu receio de que houvesse pessoas indevidamente pedindo contribuições em seu nome. Ouvi a resposta que nada de errado estava acontecendo e as pessoas, naquele semáforo, estavam realmente pedindo contribuições em nome da citada casa de recuperação.
Ao sair para o almoço, fui abordado, novamente em um semáforo, por uma linda garotinha de uns oito anos de idade, que me explicou que estava participando de um concurso para ser a miss de sua classe e me perguntou se compraria um voto para ela. Pedi-lhe que me explicasse melhor e ela me mostrou uma folha de papel, com o nome de uma escola municipal, na qual estavam escritas as instruções do concurso: “o voto custa R$0,50 (cinqüenta centavos), e a miss da classe seria aquela que obtenha mais votos”, ou seja, aquela que obtivesse a maior contribuição.
Novamente adotei o mesmo procedimento, o de buscar entrar em contato com algum dos responsáveis pela tal escola municipal para conferir a veracidade das informações e novamente me surpreendi. Realmente a escola estava usando este mecanismo para obter recursos para organizar as festas juninas para os alunos.
Acredito que não causa surpresa a ninguém ser abordado por um pedinte, mas os fatos narrados acima me fizeram pensar na possibilidade de estarmos vivendo em meio a pedintes institucionais.
Um dos objetivos de uma casa de recuperação de dependentes de substâncias químicas é ensinar uma ocupação aos seus pacientes, mesmo porque este é um dos principais mecanismos para diminuir a possibilidade de que estas voltem a usar as substâncias químicas que os levaram a se internar.
Pergunto-me: Qual a ocupação que estava sendo ensinada ao jovem forte e saudável que me abordou no semáforo?
Um dos objetivos da educação é preparar as crianças para que possam ter uma vida digna, o que passa necessariamente por prepará-las para o exercício de alguma atividade que lhes permita o seu sustento e o de seus familiares.
Pergunto-me: Qual o meio de sustento que estava sendo ensinado à linda garotinha de oito anos de idade que me abordou no semáforo? E mais: Não seria no mínimo inadequado ensinar a uma criança que votos devem ser vendidos?
Do mesmo modo como há casas de recuperação de dependentes de substâncias químicas que se mantêm da venda de produtos elaborados por seus pacientes, além das contribuições voluntárias, há também escolas que organizam gincanas e assemelhados nas quais obtêm recursos com a venda de doces, lanches, balões etc.
Não pretendo analisar neste texto questões sociais que podem levar uma pessoa à condição de pedinte, mas simplesmente expor situações nas quais instituições, que se denominam como sociais, às vezes agem contra os seus motivos institucionais.
Dentre nós, brasileiros, não são raros os que estão sempre esperando que alguém lhes dê a mão, sempre esperando que o governo também se assuma como responsável e lhes forneça tudo aquilo de que necessitam.
Não se pode afirmar com certeza que um fato decorre diretamente do outro, mas situações correlatas às mencionadas ao início são, no mínimo, bons estímulos para este tipo de comportamento.
Provavelmente Warren Buffet teria tido uma história muito diferente se, ao invés de ensinarem-lhe os valores do trabalho, este tivesse sido estimulado a pedir e esperar que os outros lhe dessem o que precisava.
Buffet, filho de um corretor da bolsa, iniciou sua vida profissional como entregador de jornais do Washington Post, com o pouco dinheiro que conseguiu ganhar comprou uma máquina de jogos eletrônicos (fliperama) e instalou-a em uma barbearia, com os lucros adquiriu outra e assim sucessivamente. Quando se formou no ensino médio Buffet já havia adquirido seu primeiro Rolls Royce com o retorno financeiro de seus empreendimentos, atualmente é considerado o segundo homem mais rico do mundo, com fortuna estimada em U$ 35 bilhões.Para que o Brasil seja efetivamente um país de futuro, é necessário que seus cidadãos estejam conscientes dos reais valores do trabalho, que acreditem em sua própria capacidade, que sejam capazes de influir no futuro ao invés de serem por eles surpreendidos. E, nesta altura, novamente me pergunto: O que nossas instituições estão fazendo para que isto aconteça?

Dênerson Dias Rosa, ex-Auditor Fiscal da Secretaria da Fazenda de Goiás é consultor tributário da Tibúrcio, Peña & Associados S/C.

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