Artigo transcrito do site Espaço Vital
Empresários, profissionais liberais, entidades de classe, autoridades e políticos vêm sendo lesados pelo golpe da “pesquisa”. A armação tem lesado muita gente no Sul do Brasil, especialmente nos municípios do interior do Estado.
O esquema é muito simples: um sujeito aborda a vítima potencial, informando que em recente “pesquisa” realizada no município, o nome da pessoa ou da sua empresa foi classificada em primeiro lugar pela população, como destaque na sua área de atuação. Em seguida, informa que isso será divulgado na mídia e que haverá a entrega de troféus ou diplomas aos “vencedores”, durante um jantar festivo no clube da cidade. Porém, para receber seu “prêmio”, a vítima, ou melhor, o “agraciado” deve efetuar um pagamento.
Caso não concorde, uma outra pessoa ou empresa é que acabará sendo “premiada” em seu lugar. Ou seja, quem pagar leva o troféu.
O material que os golpistas apresentam às vítimas não resiste a um rápido exame técnico. Comprovam apenas que a alegada “pesquisa” na verdade nunca existiu. Ou, se é que houve algum tipo de consulta popular, os métodos utilizados são tão precários e inconsistentes que jamais poderiam ser classificados como pesquisa de opinião.
Pesquisa é uma atividade que exige conhecimentos profundos e domínio específico de metodologias, onde o rigor de procedimentos técnicos é fundamental para a credibilidade dos dados colhidos. E nada disso existe nesse tipo de vigarice.
Além de configurar o estelionato, por induzir as pessoas em erro ao acreditarem que foram escolhidas por uma pesquisa fantasiosa, esse golpe também caracteriza a propaganda enganosa, prática igualmente ilegal. O problema da propaganda enganosa é que, além da passível condenação dos autores diretos, ou seja, dos vigaristas, também alcança as pessoas ou empresas “premiadas”, na condição de patrocinadoras de fatos inverídicos, bem como os veículos de comunicação, por divulgarem esses anúncios que disseminam publicamente afirmações sem base de verdade.
Chamam a atenção os documentos mostrados por essas empresas, todos muito semelhantes, quase idênticos em conteúdo e forma. Seus representantes têm percorrido os municípios gaúchos, repetindo o mesmo golpe em todos os lugares.
O Ministério Público já recebeu a denúncia sobre esses fatos e instaurou um inquérito civil para apurar a extensão do delito e o enquadramento dos responsáveis. Porém, além da necessária responsabilização, torna-se urgente um processo de prevenção contra a repetição do golpe da “pesquisa”. Empresários, entidades de classe e veículos de comunicação podem e devem estancar esse mal. Diante de qualquer suspeita, recomenda-se encaminhar denúncia ao Ministério Público.
Essa é uma vigarice que, além dos prejuízos causados às vítimas, compromete a credibilidade das empresas de pesquisas sérias perante a opinião pública, bem como afeta a imagem de agências de propaganda e publicitários honestos, conscientes de suas responsabilidades, e que não se prestam a esse tipo de exercício ilegal da profissão.
É natural que a informação de uma distinção pública represente alegria e entusiasmo para qualquer pessoa. Afinal, somos humanos e faz bem ao coração qualquer tipo de reconhecimento. É como uma espécie de massagem no ego, que certamente anima e estimula. Mas, que seja verdadeira e fruto de uma investigação honesta.
Do contrário, ao invés de ser agraciado com um prêmio justo, o indivíduo pode estar recebendo um mero troféu de bobo.
Paulo Rogério Rodrigues é delegado regional do Sindicato das Agências de Propaganda do RS e professor universitário.