Paulo Antonio Papini
Nesta última semana, no dia 24 de agosto para ser mais preciso, o presidente Lula, visivelmente abalado pela crise de seu governo, soltou mais algumas de suas pérolas verborrágicas, piores do que suas filosofias sobre a economia não ser um Boeing e por isso não permitir cavalos-de-pau.
Lula, na semana passada, referiu-se à comemoração do cinqüentenário da morte de Getúlio Vargas, quando, na realidade, deveria usar o termo, rememoração. O presidente citou ainda que Jango teria renunciado, quando, na realidade quem o fez foi Jânio Quadros. Mais ainda, Lula mencionou o brevíssimo mandato (de cinco anos) de Juscelino Kubitschek de Oliveira?
Essa falta de preparo, instrução intelectual do nosso presidente é algo que precisa ser levado muito a sério. Este escriba que vos fala foi um dos muitos que achavam bonito e até mesmo poético, termos um presidente da República que aprendeu o que precisava saber na escola da vida; ele (Lula) se orgulhava (e nós também nos orgulhávamos) do fato de ele nunca ter freqüentado, apesar de tempo ter sobrado para tanto, nos últimos 25 anos, um banco de faculdade.
Dizíamos que universidades existiam para pessoas medíocres (no sentido literal desta palavra, por favor não entendam mal), e que Lula estava no mesmo plano de grandes gênios intelectuais que transcendiam a necessidade de ir à Escola.
Que imensa bobagem, como pudemos, como pude ser tão cego? O sonho da esquerda no poder está virando, desde Roberto Jefferson-Mauricio Marinho-José Dirceu um verdadeiro pesadelo. Que tolice acharmos que apenas com bom senso, feeling, curtas gestões em sindicatos, alguém pode ser considerado apto a comandar o país.
Quem foi que disse a bobagem que o Brasil é um grande time de futebol, e o presidente é apenas o técnico (interrogação). É óbvio que o país não é um clube de futebol, e o presidente precisa, sim, falar alguns idiomas, de preferência o inglês, algo que Lula com orgulho afirma não saber; precisa conhecer economia, direito, história, saber concordância nominal e verbal e conjugar os verbos corretamente.
História, como vimos das frases soltas por Lula, não é o forte de nosso presidente. Não estou sendo nem chato, tampouco implicante. Não estou cobrando que o presidente conheça de cor todas as capitanias hereditárias e seus respectivos donatários,
algo que não tem utilidade prática a ninguém, mas o presidente da República não conhecer o período da história republicana que antecedeu o golpe de 64 (que em última análise foi, de certo modo, responsável, por guindá-lo ao poder), é o mesmo que o atual chanceler da Alemanha não conhecer a história do nazismo.
Impeachment já – a posição do PSDB
De todos os fatos trazidos a tona nestas tumultuosas semanas de CPMI, dois fatos já seriam suficientes para se propor o impeachment do presidente da República: 1) o filhos de Lula terem usado um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para transportar seus amigos para um churrasco no Palácio do Alvorada e; 2) a parceria feita entre uma empresa de telecomunicações e a empresa do filho do presidente Lula, no qual foram aportados por esta empresa nada menos do que R$ 5 milhões na conta da empresa do filho do donatário do poder.
Num país minimamente sério, apenas esses fatos seriam bastantes para o impeachment do presidente, lembrando-se que Collor caiu por uma Elba, e Nixxon, por ter mentido à população norte-americana no escândalo Watergate (apesar de os EUA hoje não serem parâmetro para aferição de moralidade política, visto que Bush Júnior conseguiu seu primeiro mandato num tribunal e mentiu descaradamente sobre as armas de destruição em massa do Iraque e sequer se cogitou uma investigação).
Voltando a Lula, elementos há mais do que suficientes para a abertura de um processo formal de impeachment, contudo o que se verifica, principalmente por parte da bancada do PSDB é que não há vontade política de demover Lula. O plano é mais ou menos o seguinte: deixar Lula e o PT afundarem no lodaçal criado (por eles próprios, diga-se de passagem), para que, em 2006, o PSDB fature a presidência da República com pouquíssimo esforço.
Se entendermos bem o que está acontecendo, verificaremos que a preocupação do PSDB não é com o futuro do país em si, mas, sobretudo, com a eleição de 2006.
Voto branco neles
Não sou partidário, ainda, desta idéia, mas o voto branco não seria um instrumento útil para que a sociedade deslegitimar-se os políticos eleitos (que, salvo raríssimas exceções – que se contam nos dedos das mãos de Lula) não representam interesse popular algum nem os dos próprios eleitores?
Hoje, quando se fala em impeachment, um presidente da República diz, de boca cheia, que se elegeu com 54 milhões de votos, o que acontecerá quando este mesmo presidente tiver sido eleito com apenas 3 milhões de votos válidos? Uma leitura interessante a este respeito, a idéia, confesso, não é minha, é Ensaio Sobre a Lucidez, de José Saramago.
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