Paulo Castelo Branco*
Em outros tempos, aos domingos, os pais pegavam seus filhos e os levavam ao Parque da Cidade para que se divertissem na areia do parquinho, equipado com brinquedos com aspecto de astronaves; esses, quando construídos, era tempo das viagens espaciais e as crianças se deliciavam com as fantasias que criavam em suas missões à Lua.
Nestes dias de incertezas, as emissoras de TV colocaram no ar as mensagens políticas contra a antiga corrupção que continua enraizada em nosso país, as apurações da Assefe, das fraudes eleitorais em todos os estados e das adulterações de assinaturas em depoimentos de fiscais corruptos. A corrupção, como se fosse um exame com Celobar; radiografa e mata as entranhas do poder.
Não há como se deixar de atender ao movimento nacional contra a corrupção que busca tirar do meio da sociedade os políticos que afanam o dinheiro que poderia resolver tudo. Devemos ser solidários com o menino da TV, que recomenda o afastamento dos políticos que não somente roubam dinheiro, como, e, especialmente, roubam o seu futuro.
O artista, com a sua fala de laboratório de pesquisas, reforça a necessidade da presença de todos na manifestação que deverá povoar de ética, democracia, emprego, segurança e coerência, esse imenso deserto de pessoas de bem.
A primeira manifestação começou pelas 9 horas, ali, na altura da 107 Sul. O povo foi chegando em grupos e ensinando às crianças os gritos de ordem contra os corruptos, os omissos, corruptores e ladrões. Gritavam como se estivessem se preparando para uma intifada. Desfraldaram as bandeiras vermelhas sem as estrelas, foices e martelos de outros tempos; talvez, para indicar que não fazem parte deste governo que elegeram, como demonstraram na manifestação dos servidores públicos na semana passada. Nos carros alegóricos perfilados, como se a campanha continuasse, estavam representantes de quase todos os partidos políticos, inclusive, do PMBD do Dr. Ulisses, do PSDB do Covas, do PC de Prestes, do PDT de Brizola, do PTB de Getúlio, do PSB de Arraes, do PT do Lula e, creio, do Partido Comunista Cubano, pois várias bandeiras do Guevara tremulavam no espaço. Na manifestação, segundo os organizadores, havia cerca de 10 mil participantes espontâneos, e, segundo, os cálculos da PM, eram 4 mil pessoas.
A segunda manifestação começou por volta das 10 horas no aeroporto. Eram milhares de pessoas que esperavam o governador para, em carreata, seguirem até a Ponte JK, a qual foi eleita “a mais bela ponte do planeta Terra”, como afirmou o responsável pela construção do monumento. A obra, licitada no governo do PT, foi construída no mandato anterior do atual governador. Sem preconceitos, a obra foi contratada e executada, apesar das denúncias nunca comprovadas. Está lá a ponte, impressionando aos brasileiros e ao mundo.
A carreata seguiu pelas avenidas e o povo aplaudindo. Na ponte, a multidão recebeu a carreata que levou quase quatro horas para chegar até o local do descerramento da placa comemorativa. As bandeiras tremulavam: Eram as mesmas bandeiras do PMDB do Dr. Ulisses, do PSDB do Covas, do PTB do Getúlio, do PSL, PST, dos moradores da Estrutural, dos condomínios do Lago Sul, dos trabalhadores da construção civil, dos estudantes, e de um sem número de pessoas sem bandeiras, mas cheios de alegria comemorando o reconhecimento das belezas da nossa cidade; sem medo de serem felizes.
As estimativas da PM calcularam que aproximadamente 60 mil pessoas participaram do evento. Se não estivéssemos em período eleitoral, como acreditam os participantes da primeira manifestação, talvez pudéssemos nos juntar em 70 mil brasilienses, e levar nossos filhos para atravessar a ponte do futuro, futuro que nunca lhes será roubado.
Paulo Castelo Branco é advogado e ex-secretário de Segurança Pública do DF