Podemos nos tornar vítimas de nossos próprios dados

por Ricardo Macedo Melo da Silva

Recentemente, a Rede Globo demitiu o diretor Fábio Guimarães. Fábio teve detalhes sórdidos de sua vida profissional, principalmente os famigerados testes do sofá, escancarados ao público, no que talvez tenha sido o caso mais notório de uma modalidade de crime contra a honra que tem se tornado cada vez mais comum: a difamação online.

Fábio, que dirigia o programa Zorra Total, foi vítima de uma suposta ex-figurante (identificada apenas como Lu) com quem teria mantido relações sexuais em troca de favores profissionais. O e-mail teria sido uma vingança pela demissão desta ao se recusar a manter a relação com Fábio.

A estória foi relatada por Lu em um longo e-mail, enviado para centenas de destinatários, entre os quais vários dirigentes da Globo e até a própria mulher de Fábio. Desnecessário dizer que muitos destes destinatários, por sua vez, encaminharam este mesmo e-mail para incontáveis outros.

Este e-mail, para a infelicidade de Fábio, continha não somente o relato, mas também cópia de todos os e-mails trocados entre os dois, além de fotos nas quais o ex-diretor aparecia claramente masturbando-se. Não fossem as fotos, talvez o caso apenas se passasse por mais um boato espalhado pela internet. Mas não. A autenticidade das “provas” apresentadas por Lu terminaram por aniquilar a carreira do diretor. Fábio foi demitido, não pelos fatos alegados, mas por “quebra de confiança”, um sinal claro de que a Rede Globo não admite que seus funcionários permitam se tornar centro de escândalos.

O que mais chama a atenção para o caso, além dos detalhes sórdidos que tanto inflamam a mídia, é o fato de que a carreira de um alto funcionário da toda poderosa Rede Globo de Televisão foi fulminada por uma mera e anônima figurante com informação em mãos.

Informação sempre foi uma arma poderosa, mas hoje ela está ao alcance de qualquer um, que com a ferramenta certa (e há várias disponíveis), pode usá-la instantaneamente, com conseqüências imprevisíveis e possivelmente catastróficas, o que evidencia o quanto nós estamos expostos ao perigo de nos tornarmos vítimas de nossos próprios dados. Vidas inteiras podem ser arruinadas sem mesmo a necessidade de prova material ou direito de defesa.

Ficam dois alertas. O primeiro destina-se ao Poder Judiciário, que deve o mais rápido o possível adicionar aos seus quadros peritos capazes de localizar os responsáveis por crimes digitais. O segundo, a todos que tenham a internet como ferramenta cotidiana. Não divulgue dados, não permita ser fotografado ou filmado em situações embaraçosas, mantenha seus arquivos particulares em locais seguros e principalmente não troque arquivos de conteúdo comprometedor. Tudo o que você envia pode ser usado contra você.

Revista Consultor Jurídico

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