O conflito que se generaliza no Oriente Médio é fruto da intolerância e prepotência de americanos e israelenses. Os primeiros (leia-se governo) se aproveitam da guerra para colocar sua tecnologia no mercado internacional. Os segundos sujeitam-se às ordens ‘bushianas’ para ampliar territórios e cumprir metas impostas pelos organismos financeiros do ocidente. O Hesbollah é só pretexto.
Ambos os países opressores sabem que nunca vão conseguir destruir o que sequer sabem onde está. O Hesbollah é gente, com representatividade política, é verdade, mas está diluído no seio da população árabe, está entre os muçulmanos e até entre os cristãos ortodoxos. Sendo massa, povo, distribuída em muitos países, não pode ser encurralado, não pode ser identificado num todo.
Longe de ser uma saída plausível para as diferenças institucionais e políticas, a guerra está servindo apenas para agregar mais força ao Hesbollah. Antes era a Al-Qaeda, do Osama Bin Laden, hoje é outro morubixaba. Enquanto Israel segue firme nos territórios libaneses – o que por si só já é uma afronta – cumprindo as determinações do ‘lecayá’ George W. Bush, as comunidades árabes se revoltam.
Muçulmanos começam a se juntar ao Hesbollah porque esta organização se transformou em vítima do ocidente. E se tem uma coisa que o oriente não suporta é a ingerência do ocidente em suas questões internas. Em nome de uma suposta ‘honra maculada’, Israel dá à comunidade árabe um bom motivo para se juntar aos libaneses. As manifestações começam contra a guerra, podem terminar a favor dela.
Paralelamente, o governo americano mantém pressão junto aos israelenses para que não afrouxem os ataques. Simultaneamente a essa pressão, vende armas pesadas para os vizinhos de Israel, ou seja, aparenta defender um lado, mas fornece estrutura bélica para o outro. Essas armas atravessam fronteiras por terra e são despejadas em território ‘inimigo’, acirrando ainda mais o confronto.
Afinal, como um movimento como o Hesbollah, insignificante e desconhecido para boa parte do mundo até poucos anos, consegue tantos mísseis, que custam uma fortuna? Enquanto eles se matam, os EUA seguem faturando bilhões de dólares, mantendo supremacia nas questões internacionais e ditando regras de democracia “pelo uso da força”.
A política do “quanto pior, melhor” joga para cima a cotação do dólar e o preço do petróleo. Para os países emergentes, subdesenvolvidos ou dependentes do FMI (Fundo Monetário Internacional) os efeitos desta guerra sem lógica só serão sentidos a partir do ano que vem, dependendo do tempo que o conflito durar. Vai ser uma quebradeira geral e muitos governos terão de buscar socorro no FMI. Aí, sai de baixo.
Paulo Rocaro, escritor, jornalista, presidente do Clube de Imprensa de Ponta Porã-MS e diretor da Sodema (Sociedade de Defesa do Meio Ambiente).