“A máxima popular ‘pregando moral de cuecas’ diz respeito às pessoas que vociferam atitudes moralmente corretas e não as praticam…”
O Partido dos Trabalhadores passou 25 dos seus 25 anos pregando a moral e a ética na política brasileira e, sempre que possível, atacando os adversários com o mais explícito vocabulário acusativo. Quem não se lembra da então petista, senadora Heloísa Helena, destilando seus jargões do tipo: “a pocilga do capitalismo chegou ao congresso com suas negociatas espúrias”. Assim se fez o PT, na oposição ferrenha e objetiva a todos que chegassem ao poder.
Agora com as denúncias pululando de todos os lados e sérios indícios de crimes a justifica-las, o partido abranda sua personalidade histórica, mas não a abandona. A cúpula insiste em afirmar sua condição de ícone da moral, todavia pelo menos em parte, os fatos a desmentem. Caiu o ministro da Casa civil, José Dirceu, na sequência o mesmo aconteceu com o secretário e com o tesoureiro da legenda e neste sábado, 09/07, o presidente José Genoino pôs o cargo à disposição do diretório.
Quem não tem culpa, tem que se impor e se afirmar, afinal, quem não deve não teme e foi isto que todos eles fizeram antes de desmoronar. O artifício da negação após uma denúncia e antes da apuração é algo comum a todos os casos, inclusive no do bandido frente ao delegado, mas na política é imprescindível. Imprescindível porque na política deste nível que tratamos, nada de concreto chega ao eleitor comum, mas sim abstrações no campo da comunicação e este campo, como o papel, aceita tudo. Por isto é conveniente negar e torcer que não se prove o contrário.
O ministro que dizia que o PT não rouba e não deixa roubar caiu pelas denúncias de que foi alvo por parte do deputado Roberto Jéfferson (PTB/RJ). O secretário e o tesoureiro caíram pelas mesmas denúncias, mas principalmente pela ligação com o publicitário Marcos Valério, indicado como operador do “mensalão” e suspeito por movimentar, em conta corrente, cifras cem vezes superiores a seu patrimônio declarado. Quanto ao presidente do partido foi quem teve a negativa mais duradoura. Negou o “mensalão”, negou relacionamento com o publicitário, negou ter avalizado para o partido junto com ele, depois negou que havia sido informado de que tinha assinado, negou tudo enquanto pôde, só não negou ser o presidente do PT, talvez porque já pensasse em deixar de sê-lo. Muitas de suas afirmações, ou melhor, negações, caíram por terra, mas ele negava ser atingido pelos fatos. A gota d’água para ele foi a prisão de José Adalberto Vieira da Silva que é assessor parlamentar de seu irmão e deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE). O assessor do irmão foi pego pela Polícia Federal com duzentos mil reais numa maleta e cem mil dólares dentro da cueca, segundo informou a imprensa.
A máxima popular “pregando moral de cuecas” diz respeito às pessoas que vociferam atitudes moralmente corretas e não as praticam. O PT, principalmente nos tempos de oposição, fez muita apologia à moral, mas não sabemos quais eram suas vestes na época, o que sabemos é que hoje ele está só de cueca, e o que é pior, em alguns casos, recheada de dólares.
João Carlos Marchezan
Jornalista
Fonte: Jornal Correio do Estado