Quando o futuro vai ser notícia?

Rosa Alegria
, futurista, Diretora da Perspektiva – Tendências, Cenários e Estratégias,
consultora de comunicação, membro do Conselho Estadual da Condição Feminina
perspektiva@uol.com.br

Muito tem se falado na criação de um futuro desejado por todos os que habitam o Planeta Terra.

A atual expansão do futuro como campo de estudo e conhecimento é prova disso. Dentro dessa nova realidade, a proposta essencial da atividade dos futuristas tem sido manter ou aprimorar o bem estar da humanidade e a capacidade de auto sustentação da sociedade, através de uma constante exploração de alternativas. Adotando um pensamento prospectivo, os futuristas trabalham para criar novas imagens do futuro, explorando o possível, estudando o provável e avaliando o preferível.

Pensar longe tornou-se uma necessidade estrutural às sociedades em transição. É preferível planejar o futuro a gerenciar crises, já que essas são caras e traumáticas. Temos o exemplo de nossa recente crise energética e de como ela poderia ter sido evitada se já tivesse sido implantando um plano sistemático de futuro. Antecipar eventualidades, preparar-se para as contingências, explorar novas alternativas. Esses são os caminhos mais saudáveis para lidarmos com as mudanças.

Até os políticos, que sempre manifestaram atitudes tão egoístas em seus governos, e não se preocupavam com o impacto de suas ações no futuro, já estão pensando a respeito. Isso em razão da velocidade máxima imposta pelas mudanças globais.

Nas empresas também existe o movimento pró-futuro, principalmente naquelas que se alicerçam em inovações tecnológicas. Planejamento estratégico de longo prazo, desenvolvimento de cenários, estímulo à criação de idéias inovadoras e a importância crescente de uma visão de futuro é o que tem norteado muitas empresas com gestão avançada.

E a mídia, como anda na relação com o futuro? Para a infelicidade de quem aposta no que virá e quer se divorciar do que já foi, o futuro ainda não é notícia relevante em nenhum segmento da mídia. A notícia do novo dá lugar à notícia da informação. E a informação que nos chega normalmente nos traz o que já foi, sem o pensamento prospectivo das possibilidades e das alternativas.

O mundo urge por possibilidades e alternativas e não é relatando o que já foi que a mídia vai ajudar na construção do novo.

Para ajudar a construir o novo, é preciso que a mídia transponha as fronteiras das projeções econômicas apocalípticas, dos balanços financeiros amorfos, das margens de lucro socialmente injustas. Existe um espaço amplo para pautas que ajudem a imaginar e criar o futuro, através da cobertura de tendências, da disseminação de muitos e muitos mais dados de pesquisa, da disponibilidade de indicadores que envolvam questões emergentes, como a preservação do meio ambiente, os impactos da tecnologia na população, os cenários possíveis que podem abalar ou salvar o mundo.

Isso requer um novo campo de aprendizagem nas escolas de comunicação e nos veículos como um todo . Apesar das rápidas mudanças que nos afetam, muitos setores da mídia ainda vêem o mundo através de filtros convencionais. O da exposição da miséria, o do sensacionalismo, o do negativismo, o do passado. Iniciativas como a Nova-E, Mídia da Paz e uma série de publicações pessoais e títulos alternativos, poderiam proliferar e ajudar a criar uma nova realidade no mundo da comunicação.

Que o futuro seja notícia e que estampe as manchetes do dia, as capas de revista e as chamadas dos telejornais. Quem sabe assim, antes que tarde, podemos provar que o Stephen Zweig, quando disse há 50 anos atrás que o Brasil era país do futuro, não estava tão errado assim.

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