Quem quer pizza?

A crise que se alastra no País tem resultado na pergunta cotidiana: “será que vai dar em pizza?” A frase teve origem em 1950, quando em reunião da diretoria do Palmeiras, os dirigentes e oposição, se engalfinharam defendendo suas posições, porém, terminaram a noite numa pizzaria, no Bairro do Brás.

Hoje todos estão falando em pizzas, e a indignação é geral; conquanto, a classe política aposta que o melhor caminho para o país seja um “acordão”. A denúncia que começou nos Correios, onde foi filmado empregado recebendo 3 mil reais, supostamente de propina, com as investigações da CPI, chegou aos “empréstimos” do PT, cujo avalista é o publicitário Marcos Valério.

A partir de então as notícias têm andado à velocidade da luz, com as cifras dos empréstimos subindo de 3 milhões para 6 milhões, depois para 20 milhões e confessado por Valério, semana passada, como sendo 56 milhões. Segundo Valério, os empréstimos foram feitos para o PT, cujos valores foram “distribuídos” entre parlamentares do partido e da “base aliada”, para “pagamento de campanha”. No entanto, as evidências levam a crer que alguns parlamentares recebiam “mensalão”.

A cada dia aparece nova notícia e as cifras mudam como um flash de luz. Um dia após Valério confessar ter “emprestado” 56 milhões de reais ao PT, foi divulgado que suas empresas emprestaram somente do Banco Rural, entre 2003 até hoje, o montante de 184 milhões de reais. Os empréstimos, segundo investigações, sequer chegam perto dos 600 milhões de reais que suas empresas movimentaram nos dois últimos anos, o que aponta o publicitário mineiro como “operador” de grande esquema de “lavagem de dinheiro”.

Ao serem denunciados pela imprensa como recebedores de valores das empresas de Valério, parlamentares gritam, esperneiam, ameaçam processar, depois assumem que receberam para “pagar dívida de campanha”. A desfaçatez tomou conta do parlamento, sendo que muitos, acuados com ameaças de denúncias dos corruptos, calam-se e consentem na movimentação para um “grande acordão”.

O acordo seria a renúncia de 20 a 30 parlamentares que receberam altas soma de dinheiro de Valério, em troca da “governabilidade” de Lula até o final do seu mandato. A solução seria boa para o Governo, que teme que seja descoberto, daqui uns dias, que Lula recebia dinheiro de Marcos Valério (já que ele nunca negou tal fato), e para a oposição, que acredita na desmoralização do Governo e na vitória fácil no ano que vem.

A hipocrisia de determinados políticos e a falta de respeito com as instituições, com persistência na idéia do acordo, têm chocado a população, eis que todos esperam exemplo primeiro daqueles que elaboram as Leis.

Nestas “armações imorais”, o País fica decepcionado com a oposição, formada basicamente pelo PSDB e PFL, que de manhã gritam palavras de ordem contra o Governo, mas quando, à tarde, divulgam algum indício de corrupção contra seus correligionários, passam a contemporizar e pedir “uma saída democrática”.

Nunca se teve notícias, na história da República, do mar de lama que estamos inundados. Mesmo assim, tucanos e liberais não cumprem o papel de oposição; ao contrário, deixam o povo desconfiado quanto aos “objetivos” da classe política, e o oportunismo interesseiro.

A falta de agilidade em dar resposta rápida para a sociedade, punindo os parlamentares corruptos com a cassação sumária do mandato, faz com que os corruptos debochem dos cidadãos, renunciando seus mandatos para voltar na próxima eleição. Na semana passada, novamente o PFL e o PSDB se calaram e se omitiram, ao não apoiar o pedido protocolado pelo senador Luiz Antonio (sem partido-MT), de cassação de 14 deputados acusados de receberem mensalão.

No mesmo dia que foi protocolado o pedido, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, afirmou que a casa não poderia “suportar” tantos processos de cassação, e que mandaria arquivar. O presidente do Congresso macula sua biografia com o péssimo exemplo de impunidade, protegendo seus pares abertamente, mesmo estando evidente a falta de decoro e corrupção de parlamentares.

Se Severino usa o “espírito de corpo” para proteger seus colegas deputados, o PSDB e PFL, com política de avestruz escondendo a cabeça no buraco, fazem o “espírito de cúpula”, não ouvindo suas bases e seus militantes, procurando acordos por trás dos bastidores, na calada da noite, alimentando a impunidade.

Uma coisa é certa e está se tornando evidente no País: a oposição se tiver oportunidade, vira “centrão” (ah, que saudade do velho PT), não assumindo seu papel.

Qual seria o papel da oposição? Pedir uma pizza? Aos que pedem pizza, aviso que o troco só chegará no ano que vem.

Sergio Maidana
Advogado em C. Grande (sergiomaidana@ig.com.br)

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