“A princípio, pensei tratar-se de uma chamada aos brios de uma sociedade falida, fruto da novela ‘América’, levada ao ar pela Rede Globo…”
Fui supreendido ao ler uma matéria intitulada “Pai”, cuide de nossas crianças, publicada no Correio do Estado de 6 de outubro de 2005.
A princípio, pensei tratar-se de uma chamada aos brios de uma sociedade falida, fruto da novela “América”, levada ao ar pela TV Globo, em horário nobre, pois ali se vê o seguinte: – Um empresário bem-sucedido, tem uma amante há oito anos, que é amiga de sua mulher, mulher esta cleptomaniaca, que tem uma filha (que diga-se não é filha de seu marido) rebelde, fã do Batidão e que vai se casar com um bandido, que usa dois nomes e lidera uma quadrilha, uma gangue profissional que mostra como se entra nos Estados Unidos, clandestinamente… e o pior de tudo é que o nosso galã larga a família, a amante, a filha e passa a viver modernamente com uma ninfeta de 17 anos…
Julgava, ainda, como bom cidadão, que a matéria estaria atacando o programa Fome Zero (que continua no Zero), ou, ainda, o mar de lama e de corrupção que assola o País, onde pululam Valérios e Delúbios e caterva, ou até mesmo, criticando as viagens internacionais de nosso presidente…
Oh, ledo engano…
A matéria versava a manifestação de uma revolta, criticando decisão do Egrégio Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, que absolveu Robson Martins, que havia sido condenado a cumprir uma pena de seis anos…
A minha indignação é que a matéria é feita por seis pessoas, todas mulheres, peritas, talvez, em receitas de pratos exóticos ou de bolos e pudins, ou ainda em pontos de tricô ou de ponto cruz, mas totalmente ignorantes dos mistérios propriamente jurídicos, pois, presume-se, não tiveram nenhuma intimidade com o processo recheado de provas, para, minimamente, atacar a decisão.
E cresce, ainda mais, a minha indignação, ao ver atacada – por atacar – a decisão do Tribunal de Justiça, onde estão juristas com mais de 40 anos de judiciatura, e a Turma Julgadora e composta de três desembargadores, um oriundo da advocacia, outro do Ministério Público e o terceiro da Magistratura, pessoas do mais alta conceito de nossa sociedade.
Só o título da matéria é bem uma mostra de sua fragilidade. Imaginem. “Pai”, cuide de nossas crianças”, a demonstrar que elas, as subscritoras da peça, não têm como cuidar de suas crianças e pede proteção ao “Pai”… e se não têm crianças para cuidar, indico a Sociedade Pestalozzi, o Educandário Getúlio Vargas, a Apae, a Casa da Criança, a Barca, a AACC e tantas outras entidades que precisam de pessoas interessadas, como estas senhoras que estão preocupadas com coisas que não lhe dizem respeito.
E, por falar em respeito, respeitem, pelo menos, um dos Três Poderes de nosso país que, caso não leram alguma vez a Constituição Federal, e o Judiciário…
Jorge Antonio Siufi
Advogado