Segundo turno: um problema sem solução

Diante do atual cenário político, não tenho dúvidas de que felizes mesmo são aqueles que têm a opção de abster-se de votar no dia 29, pois para os eleitores que não desfrutam desse privilégio esse dia será de terrível pesar.

Refiro-me aos brasileiros com mais de 75 anos e aos com menos de 18 anos, segmentos que gozam da prerrogativa de escolher se devem ou não participar do processo eleitoral, opção esta que atenderia substancialmente a necessidade dos eleitores (os compelidos a essa obrigação) que acompanham atentamente o certame. O voto para esses eleitores conscientes se tornou uma faca de dois gumes e é difícil saber nesses derradeiros dias qual lado é o menos afiado, se pela lâmina do Lula o caos institucional, que já presenciamos, é certo continuar; pela do Alckmin aflora o medo do retorno triunfal da estagnação da era FHC.

Com a reeleição de Lula é certo que a teratológica Bolsa-Família irá vigorar, sem controle e sem critérios por mais quatro anos. Todavia, Lula traz a esperança de vermos mais uma parcela da dívida que o Brasil tem com o FMI paga integralmente e não apenas os juros nelas incidente, como sempre foi feito, e em algumas gestões nem isso. Por certo, temos ainda que o salário mínimo, nunca em toda a história tantas vezes reajustado, continuará aumentando de forma consciente e providencial.

Entretanto, é certo também que a oposição burguesa, inconformada com o fato de estar sendo liderada por um operário semi-analfabeto, continuará investindo seus esforços na busca de subsídios para execrar ainda mais a imagem presidencial (como vem ocorrendo desde 2002) e dessa forma, seus deveres, ditos pela carta constitucional, continuarão em segundo plano e consequentemente a crise institucional do Executivo e Legislativo certamente continuará maculando ainda mais a máxima idealizada no pendão nacional e depauperando o país em todos os seus setores. Enfim, tentarão a todo custo, melhor dizendo, a custo do desenvolvimento do País, promover o impeachment do presidente-operário, logo, o caos ora instalado, se agravará de 2007 em diante a base de “denuncismos” indiscriminados.

A pior e mais desagradável informação no quesito Lula é a de que a chama revolucionária que ele ostentava, a qual alimentava a esperança de mudança radical no coração de todos os brasileiros que em 2002 lhe conferiram a faixa presidencial, já não existe mais e em muitos casos ela se transformou em frustração.

Por outro lado, na lâmina de Geraldo Alckmin e seu discurso tão sóbrio e moralmente edificante, vemos propostas que vão de encontro frontal com a realidade, nada de corrupção, nada de escândalos envolvendo autoridades, a devida punição dos charlatões, o pleno crescimento do País alavancado por medidas austeras em todas as seções institucionais: educação, saúde, previdência, segurança, etc., etc., etc. Porém, esse discurso é o mesmo que é feito desde as primeiras eleições realizadas nesse País e quatro anos não foram suficientes para que os eleitores pudessem esquecê-lo. Se não foi cumprido pelos seus antecessores, pela lógica não será por ele também.

Mais grave ainda, muitos vêem o presidenciável tucano apenas como alternativa mais viável para literalmente se livrar do Lula, pouco se importando com suas metas de governo ou comprometimento com a solução dos problemas do Brasil, aliás, é exatamente dessa forma que o peessedebista se apresenta aos eleitores; e que bom se fosse verdade, que magnífico se a corrupção e seus protagonistas fossem varridos dos bastidores do poder. Mas e se após eleito nada mudar ou simplesmente voltar a ser o que sempre foi antes de Lula? Nessas circunstâncias, nunca mais ouviremos falar nas CPI’s ou nas investigações apoteóticas da Polícia Federal. Seria um retrocesso ainda maior do que o atual, com toda essa crise estampada nos jornais.

Importante ressaltar também que trata-se de um candidato que tem suas raízes políticas fixadas apenas na região sudeste, especificamente em São Paulo, mas nessas eleições o que está em jogo é o Brasil e todas as suas fronteiras heterogêneas, então vem a pergunta mais óbvia: quem é Geraldo Alckmin ou quantas vezes ele defendeu interesses que não apenas do sudeste do País?

Outro risco que o tucano traz é o fato de ser ele candidato da ala partidária por assim dizer abastada, representante da parcela mais favorecida de nossa sociedade, o PSDB, PFL e companhia limitada, que são originariamente descendentes dos udenistas do século passado, em outras palavras, representantes da pequena fração da população que detém nas mãos todo o território nacional desde sempre e traz no bojo de sua história um passado de estagnação conveniente apenas à manutenção desse estrito poder.

Foi assim na era FHC, antes dele e de todos outros.

Diante de alternativas tão ruins, onde a mesmice e a insegurança são ainda mais fulgentes, a vontade é de não votar, simplesmente fechar os olhos e torcer para que essa atmosfera excessivamente pessimista não se concretize em sua plenitude.

Por todos esses motivos digo que o segundo turno é, no momento, um dos maiores problemas vividos pelos brasileiros e reafirmo que felizes são aqueles que não são obrigados a pactuar com essa situação lamentável, não precisarão escolher, contando apenas com a sorte, aquele candidato que julga ser o menos pior, justamente por ser impossível utilizar o adjetivo melhor para classificar qualquer deles.

Ricardo henrique, Advogado

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