Dênerson Dias Rosa
Domingo foi um dia fantástico para o Brasil, o país do futebol conquistava pela quinta vez uma Copa do Mundo. Mas para mim esta conquista não teve o brilho que deveria.
Assisti ao jogo um pouco apático, não que o jogo estivesse apático, muito pelo contrário, foi um jogo tenso e intenso, todavia eu não estava no espírito necessário para efetivamente apreciá-lo, estava cansado e meio sonolento, afinal, quase não dormira nada na noite anterior.
Não estaria escrevendo este texto se o meu cansaço e o meu estado sonolento fossem derivados do fato de eu ter comemorado antecipadamente a noite inteira, ou mesmo se fossem devidos a algum estado de insônia.
Na noite anterior, apesar de ser um sábado, dia no qual, tal como o diz Lulu Santos, todo mundo põe uma roupa nova e sai pra se divertir, me preparei para a grande final da copa do mundo, deitei-me não muito tarde, todavia, não consegui pregar o olho, mas infelizmente não de tensão ou ansiedade.
A questão é que não consegui dormir porque a cada dois segundos, com o perdão dos exageros literários, uma bomba de artifício explodia em algum lugar bem debaixo do meu ouvido.
Há muito não sou mais uma criança e conseqüentemente não corro muitos riscos de acordar à noite assustado e chorando, todavia já o fui, e me lembro de quão desagradável era acordar à noite completamente em pânico.
Os fogos de artifício me irritaram, mas aposto que irritaram muito mais àquela agradável senhora do 5º andar que cuida de seu neto órfão de oito meses de idade. Eu pelo menos me diverti com o jogo, mas infelizmente acredito que o neto dela, e ela conseqüentemente, não tenham se divertido durante a noite com as explosões, tampouco com as explosões que se seguiram durante o dia, após o jogo.
Conhecem-se relatos de pessoas que, tão exultantes com o resultado de um jogo de futebol, vieram a ter um ataque cardíaco fulminante, mas não seria de todo absurdo imaginar que talvez tenha acontecido de um paciente, internado em estado crítico em virtude de sérios problemas cardíacos, tenha tomado tão grande susto com alguma das explosões que teve um ataque fatal.
Em alguns dos meus poucos momentos de sono naquela noite, sonhei que estava no meio de uma guerra, com tiros sendo disparados de todos os lados, e fico imaginando agora como deve ter sido a noite para os nossos pracinhas, ex-combatentes da segunda guerra mundial, que provavelmente se assustam com facilidade com qualquer estampido mais alto.
Não vou estranhar se, quando crescer, o neto da agradável senhora do 5º andar não vier a achar a menor graça nesse negócio chamado futebol.
E afinal, qual a mesmo a graça do futebol? Com 22 pessoas correndo ao redor de uma bola só e milhões, antes e depois do jogo, fazendo coisas impensadas que resultam em manchetes de jornais tais como “Um garoto perdeu a mão quando tentou acender um fogo de artifício depois da final da Copa do Mundo”?
Dênerson Dias Rosa, ex-Auditor Fiscal da Secretaria da Fazenda de Goiás é consultor tributário da Tibúrcio, Peña & Associados S/C.