“Vidas podem ser salvas. Basta não se aceitar o destino. Há que se provar que o ser humano aceita, sim, a responsabilidade do livre-arbítrio…”
O crescimento dos acidentes em 39% no trânsito de Campo Grande, apesar das multas em lombadas eletrônicas atestam que o caminho dos castigos aos bolsos dos motoristas não é eficaz. E, olha que o aumento no número de multas, nos primeiros meses deste ano, foram de 76% em igual período do ano de 2004. Só nessa época foram registradas 24 mortes em Campo Grande.
Além das vidas dilaceradas e das sequelas emocionais, essa conta macabra tem um custo financeiro, por consequência das colisões, capotagens e atropelamentos registrados de janeiro a abril. Alguns acidentes provocam despesas também com pequenas montas, outros no entanto resultam em dias de hospitalização e/ou sepultamentos.
Segundo estatística do Departamento de Trânsito – Denatran – em 2002, ano do fechamento do último relatório do órgão, “é quase unânime a idéia de que os jovens são aqueles que mais se expõem ao perigo, chegando-se à conclusão de que apenas são menos atropelados do que os idosos por uma questão de melhores reflexos”. Nesse aspecto há que se considerar quanto esses jovens poderiam produzir para seus pais e a sociedade nos anos de vida que lhes foram tirados, além da parte afetiva de seus familiares. Ainda tem a questão dos custos relativos a cada tipo de acidentes. Tendo que ser contabilizadas as pensões pagas às viúvas dos acidentados e aquelas concedidas por invalidez da vítima. Os prejuízos são de enormes montas.
A estatística do Denatran mostra que mesmo nem todos os pedestres não sendo simultaneamente motoristas, o inverso será sempre verdade. E resumindo, a situação, “o indivíduo condutor” não compreende nem respeita o “indivíduo pedestre”.
Os óbitos mais comuns por atropelamentos destacam os idosos com mais de 65 anos. No outro lado dessa paisagem trágica, no lado dos condutores de veículos, os mais jovens com idade entre 25 e 44 anos, são os que mais matam (24,6%), principalmente aos finais de semana. É muito pequena a porcentagem de atropelamentos fatais causados por pessoas com mais de 65 anos (3,2%).
Segundo matéria deste jornal (C.E.), de 14/maio/05, na página 6, com o título “A difícil relação entre pedestres e motoristas”, 47% dos pedestres ouvidos, admitem já ter atravessado numa rua ou estrada existindo uma passagem ou faixa de pedestre nas imediações, embora a maioria de 71%, “fazem um esforço para apenas o fazer no local correto”. Já quando o sinal está vermelho para os pedestres mas não há veículos à vista, 27% reconhecem que passam “quase sempre”, enquanto 23% apenas às vezes “. Então a questão é mesmo de esforço de consciência educacional. Ou seja, o uso do cachimbo é que faz a boca torta, realmente.
A Fundação Barbosa Rodrigues em 2004 executou uma parceria com o Detran/MS no projeto “Sinalizando o Campo com Arte”, envolvendo o total de 15 escolas.
Cerca de 750 alunos participaram de uma programação que envolveu o tema trânsito, em vários formatos: palestras, teatro, tour por Campo Grande, produção de desenhos e textos, de junho a julho daquele ano. A idéia é essa mesmo. Mas precisa ter maior comprometimento como o da Prefeitura Municipal, com Ciptran, Câmera de Vereadores, Maçonaria, Clubes de Serviços, Secretarias de Educação Municipal e Estadual, Cooperativas de Táxis, Associação Comercial, Clube de Diretores logistas, Crea e a imprensa em geral.
As críticas como as idéias, devem ser recebidas pelos administradores públicos, corretamente: elas são para fazer com, e não para fazer contra ninguém.
Tem que se preservar os seres humanos, evitar o sofrimento e reduzir gastos com danos pessoais e materiais. Que uma Campanha ampla e permanente, de trânsito, seja uma marca na relação civilizada que os cidadãos conscientes precisam manter com o veículos que dirige: carro, moto ou bicicleta. Mas, a multa e a lei não podem ser os únicos argumentos para a conscientização de condutores de veículos e pedestres imprudentes. O que tem de ser destacada é a necessidade de preservação de vida, o mais precioso dos valores humanos.
Afinal, cada vez mais proteção são agregadas aos automóveis; as motocicletas já estão passando por testes para receberem air bag, e as ciclovias estão sendo ampliadas. Enquanto isso, o pedestre só tem a faixa de segurança para sua proteção. E esta também precisa ser mais utilizada pelo pedestre, através de uma mesma campanha de trânsito, de maneira contínua (Volto a lembrar).
Acredito que, a partir do respeito ao pedestre, na faixa de segurança, como acontece nas ruas e estradas que cortam Brasília, aí estaremos agindo com respeito à cidadania. Lá, os veículos param, literalmente, para dar passagem ao pedestre que sinaliza, com guarda ou sem guarda, com semáforo ou não.
Até parece que se está em país com o trânsito civilizado em todas as cidades. Mas, para isso prevalecer: campanha constante, com profissionalismo e cidadania e sem interrupção. O ano todo. Vale a pena.
Acredito que esta é regra básica, da qual o respeito aos outros ordenamentos de trânsito serão gradativamente aceitos com mais compreensão e maturidade.
Vidas podem ser salvas. Basta não se aceitar o destino. Há que se provar que o ser humano aceita sim, a responsabilidade do livre arbítrio. Pode e deve resolver a questão de poder circular com segurança e tranquilidade.
Ruy Sant´Anna dos Santos*
Advogado e jornalista