“Não consideramos correto que todos sejam merecedores da mesma recompensa por aquilo que fazem…”
Existem coisas e situações que nos irritam: esperar alguém com hora marcada que não chega; pronto para sair e o outro demora se preparar; filhos que não atendem e não obedecem; empregados que não assumem suas obrigações; pessoas desatentas; pessoas falsas, mentirosas… e tantas outras.
Às vezes podemos até nos irritar com a demora de Deus em nos atender e nos ajudar sair de certas situações incômodas ou superar certas dificuldades. Temos a tendência de que tudo e todos devam estar de acordo com nosso modo de pensar e de agir. Não nos conformamos com as diferenças, ou com as demoras.
E Deus, no entanto, não pensa como nós. Seus pensamentos são diferentes dos nossos. Seus planos nem sempre são os mesmos que os nossos. Nós pensamos em termos humanos de interesses e vantagens. E Deus pensa em termos de amor e misericórdia.
Nossos planos são marcados pela ganância de promoção pessoal e de enriquecimento, mesmo que seja à custa da exploração dos mais fracos e mais pobres. E os planos de Deus são de solidariedade e partilha fraterna, pois ele sabe e conhece o valor de cada filho e de cada filha.
Sua justiça não é contra a nossa. Mas é superior à nossa pela bondade que é sem limites e pela generosidade própria de um coração que ama e cuida com o zelo do Bom Pastor, que é o próprio Jesus.
Com facilidade nos julgamos no direito de questionar as atitudes ou comportamentos de Deus a partir da realidade em que vivemos. Não consideramos correto que todos sejam merecedores da mesma recompensa por aquilo que fazem.
Uns são mais capacitados e mais eficientes. Possuindo mais recursos realizam mais obras, praticam mais a caridade e ajudam com mais recursos os pobres. Outros, com menos recursos, fazem muito pouco pelos necessitados. E até perturbam os “generosos” com constantes pedidos de ajuda.
E, neste modo de pensar, consideramos justo que Deus dê a quem faz mais uma recompensa maior do que aos que fazem menos. Cremos que deve agraciar com prêmios maiores os que passam a vida toda fiéis aos mandamentos, generosos em suas doações e incansáveis na dedicação e na prática do bem.
Quanto aos demais, julgamos que também mereçam uma recompensa. Porém, não na mesma dimensão e proporção que os primeiros. Assim nós pensamos. Mas não é assim que Deus pensa.
Ele quer dar a mesma recompensa para todos. A diferença, porém, está nisso: quem tem mais e quem sabe mais, tem que produzir mais. Quem tem menos e sabe menos, produz o que estiver a seu alcance.
Ninguém tem culpa de estar entre os primeiros ou entre os últimos. Pois todos temos como obrigação fazer aquilo que esteja conforme a nossa capacidade e possibilidade.
O que Deus quer é que saibamos acolher e respeitar uns aos outros. Pois todos pertencemos à mesma família dos filhos de Deus.
E a recompensa não será pelo tanto que fizermos em favor dos necessitados, mas pelo amor que colocarmos naquilo que conseguimos fazer. Os primeiros poderão ser últimos. E os últimos poderão ser primeiros no Reino de Deus.
Frei Venildo Trevizan