O telefone na Delegacia de uma cidadezinha do interior tocou e alguém atendeu:
– Alô! Queria falar com o delegado!
– O delegado não está, foi na fazenda! – respondeu a voz calmamente do outro lado.
– Então passa para o escrivão, por favor!
– O escrivão saiu, foi levar a mulher ao médico.
– Então me passa para um agente.
– Não tem nenhum agente aqui. Ocorreu um homicídio e estão em diligência.
– Então chama o carcereiro.
– O carcereiro foi ao banco e só volta mais tarde.
– Afinal de contas, quem é você?
– Eu sou preso e estou cuidando a delegacia.
– O quê? Aqui quem está falando é o secretário de Segurança. Faz o seguinte: volta imediatamente para o xadrez, tranca a cela e joga a chave longe da porta.
– Não posso fazer isso, seu secretário! Quem vai cuidar dos presos? E se pegar fogo na delegacia?
A história acima é contada em deboche ao sistema prisional brasileiro, mas reflete bem a realidade do momento que estamos vivendo quanto à segurança pública, que está beirando a anarquia.
Em Dourados, índios mataram policiais sem ao menos temer o poder da polícia e, dias depois, advogado foi assassinado por pistoleiros à frente de sua casa. Aqui na Capital, o colega Willian Macksoud foi barbaramente baleado dentro de seu escritório, em pleno centro da cidade.
Mas a audácia e a petulância dos bandidos não pára por aí. Agora virou praxe estudantes serem assaltados e sofrerem sequestros relâmpagos à saída da faculdade. Dias atrás, uma universitária foi seqüestrada e os bandidos obrigaram-na a sacar o limite de sua conta, além de rodar com seu automóvel – ela como refém – fazendo assaltos até altas horas da madrugada.
A violência contra pessoas indefesas, na minha opinião, é fruto da falta de política de segurança adequada, além do que a sociedade não procurou, até o presente momento, discutir este tema. Sempre a violência é vista como um fato isolado onde “fulano foi assaltado”, como se fosse uma fatalidade, sem perceber que a próxima vítima poderá ser qualquer um de nós.
Se a sociedade não reclamar, nunca saberemos “a insegurança” que vivemos, com policiais mal equipados (usando revólver, muitas vezes, sem bala, sem colete, e com carga horária estafante), poucas viaturas nas ruas (dizem que em Campo Grande são só 18) e poucos policiais na ronda (dizem que na Capital há três batalhões, colocando cada um, em média, setenta homens por turno – gostaria de saber se isto é verdade).
Por outro lado, publica-se no Diário Oficial, autoridade requisitando sessenta policiais para fazer a segurança de sua família e de sua casa – protegendo o seu patrimônio pessoal – Pode? Perto de casa mora uma alta autoridade, que, se alguém se aproximar de sua residência para pedir informação, será recebido com policias à paisana com armas em punho.
Cada dia mais, vivemos isolados em nossas casas, cercados por cerca elétrica, cachorros bravos e com medo de atender a porta. Vivemos sitiados em uma ilha, mas quem se expõe fora dela sofre o risco de morrer estupidamente ou sofrer violência inexplicável, que beira o sadismo.
Mas e quem não tem cerca elétrica, anda de ônibus (que são assaltados todos os dias), não tem cachorro de raça, não tem segurança e sua casa, muitas vezes sequer tem muro? Bom, estes são os que mais sofrem e pouco reclamam.
Está na hora de começarmos a discutir este problema, que aflige a todos, com coragem, sem radicalismo ou manipulações, e procurar resolvê-lo, para que possamos viver como gente e não acuados como presas que fogem das feras.
SERGIO MAIDANA, Advogado em Campo Grande-MS – (sergiomaidana@ig.com.br)