O estudante de medicina Alex Sandro da Cunha Souza revelou nesta terça-feira, dia 1º de março, um esquema de contratação de acadêmicos para atuar como médicos, inclusive com o uso de carimbos falsos, em hospitais na Zona Oeste do Rio. Segundo ele, a médica Sarita Fernandes Pereira, uma das pessoas acusadas na morte da menina Joanna Cardoso Marcenal Marins, de 5 anos, era a responsável pelas entrevistas e contratação dos estudantes.
O réu foi interrogado pelo juiz Alberto Fraga, em exercício no 3º Tribunal do Júri da capital. Ao final da audiência, que aconteceu na parte da tarde e durou pouco mais de duas horas, o juiz rejeitou pedido de revogação da prisão preventiva do estudante. Ele considerou que Alex Sandro se manteve foragido desde agosto de 2010, logo após a morte de Joanna Marins.
“Mantenho, por ora, a custódia cautelar do réu, tendo em vista que durante longos meses se manteve foragido, de forma que sua prisão ainda se faz necessária para resguardar a aplicação da lei penal”, afirmou o juiz Alberto Fraga.
O acadêmico é acusado de exercício ilegal da medicina com resultado morte, estelionato, falsificação e uso de documento falso e tráfico ilícito de entorpecentes. Contratado pela médica Sarita Fernandes Pereira, coordenadora da Pediatria do Hospital Rio Mar, na Barra da Tijuca, ele atendeu a menina no dia 17 de julho de 2010 e lhe deu alta quando ela ainda tinha convulsões e estava desacordada. O réu usava o carimbo do médico André Almeida, que sequer integrava a equipe do hospital. No dia anterior, 16 de julho, a criança foi atendida pela médica Sarita Fernandes, que segundo o Ministério Público estadual, foi omissa e liberou Joanna sem a realização de exames e o tratamento médico adequado.
Joanna Marins morreu no dia 13 de agosto de 2010. A médica Sarita Fernandes foi presa no dia seguinte, mas Alex Sandro, que também teve a prisão preventiva decretada, fugiu. Ele se apresentou ontem, dia 28 de fevereiro, na Delegacia de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Em seu depoimento, ele contou que em 2009, na Faculdade Unigranrio, em Duque de Caxias, onde cursava o 7º período do curso de Medicina, soube por um colega que a médica estava contratando acadêmicos. Ela o entrevistou e teria dito que seus acadêmicos trabalhavam com um carimbo de médico e que ela tinha alguns contatos em hospitais na Zona Oeste, onde poderia colocar seus indicados.
“O acadêmico deveria comparecer ao hospital com o carimbo e se identificar como médico”, afirmou o réu em juízo. Ainda de acordo com ele, Sarita o colocou, sucessivamente, em três unidades, sendo a primeira no Hospital Memorial, em Santa Cruz; seguido do Hospital Geral Cemeru, também em Santa Cruz; e, por último, no Hospital Rio Mar, na Barra da Tijuca, onde ele atendeu a menina Joanna. O réu declarou também que a médica Sarita teria explicado que, com o carimbo de médico, ele receberia como tal e que parte do valor deveria ser repassado para ela.
Ao ser indagado sobre a veracidade dos fatos narrados na denúncia do Ministério Público estadual, ele disse que, em parte, são verdadeiros. A próxima fase do processo será a apresentação das alegações finais do Ministério Público e da defesa. Em seguida será proferida sentença que decidirá se o estudante irá ou não a júri popular.
A médica Sarita Fernandes é acusada do crime de homicídio doloso por omissão e exercício irregular da medicina com resultado morte. Ela responde também por estelionato, falsificação e uso de documento falso e tráfico ilícito de entorpecentes.
Processo nº: 0342593172010 8 19 0001