A Justiça do Trabalho penhorou o equivalente a R$ 200 milhões do capital da Intelig para garantir o pagamento de dívidas da “Gazeta Mercantil” com atuais e ex-funcionários. O empresário Nelson Tanure edita o jornal, controla a operadora de telefonia e, no mês passado, fechou acordo para vendê-la à TIM, um negócio ainda em andamento.
A juíza Maria Aparecida Lavorini, da 26ª Vara do Trabalho de São Paulo, acolheu ação cautelar apresentada pelo advogado Wladimir Durães, que representa mais de 300 empregados e ex-empregados do jornal. A decisão foi tomada na quinta-feira, quatro dias antes de Tanure anunciar não vai mais publicar a ” Gazeta ” a partir de 1º de junho e que vai devolver a marca a Luiz Fernando Levy, da família fundadora do diário.
A Editora JB e a Companhia Brasileira de Multimídia (CBM), de Tanure, têm sido consideradas sucessoras da Gazeta Mercantil em processos trabalhistas. Agora, o passivo começa a respingar na Intelig. A avaliação do empresário, segundo fontes, é de que Levy teria contribuído para o entendimento de que suas empresas são responsáveis por esses passivos.
Na terça-feira à noite, Levy divulgou comunicado no qual nega ter descumprido o acordo com Tanure , mas afirma que o empresário não honrou algumas cláusulas – inclusive a que daria a Levy a gestão do conteúdo editorial da Gazeta. A nota, entretanto, abre a possibilidade de negociar uma solução para que o jornal continue sendo editado. ” (…) Não deixaremos de encontrar fórmulas negociadas que preservem a publicação do nosso jornal ” , declarou.
Procurado pelo Valor, Tanure não pronunciou até o fechamento da edição do jornal. O empresário, que controla a Intelig por meio da Docas Investimentos, pode recorrer da decisão judicial que penhorou as ações.
Por enquanto, são incertas as implicações dessa medida para a conclusão do negócio, que ainda depende de aprovação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Segundo fonte ligada à TIM, a decisão é ” inexequível ” porque a transferência das ações para os funcionários da ” Gazeta ” não poderia ser feita antes do desfecho da operação entre Tanure e a empresa italiana.
No entanto, a TIM estabeleceu como condição ” prévia e necessária ” à compra da Intelig que a empresa seja transferida sem dívidas. O acordo prevê que o pagamento a Tanure será feito não em dinheiro, mas em ações. Conforme anúncio feito ao mercado, a operação dará ao empresário 6,15% das ações ordinárias e 6,15% das preferenciais da TIM.
A TIM informou, por meio da assessoria de imprensa, que ” prestará os devidos esclarecimentos diretamente à Justiça do Trabalho ” .
(Talita Moreira | Valor Econômico)