Agropecuarista deve diminuir produção na crise, recomenda economista

por Danilo Macedo

Com o atual cenário de crise econômica mundial, os agropecuaristas brasileiros não devem aumentar a produção de seus produtos, principalmente os destinados à exportação. A avaliação é de Guilherme Dias, considerado um dos maiores economistas brasileiros do setor agropecuário, professor da Universidade de São Paulo (USP) e atual consultor da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Na primeira audiência pública da Comissão Especial de Monitoramento da Crise Econômica da Câmara para analisar os problemas na área da agricultura, Dias deu uma palestra aos deputados traçando o caminho que a economia vem seguindo desde o estouro da bolha imobiliária no mercado financeiro americano e a tendência que os países estão seguindo de redução das importações. “Não dá pra querer aumentar a produção com esse cenário mundial e sem crédito. Não faz nenhum sentido falar em quebrar recorde de produção. Não é do nosso interesse. Se o mundo quer que a gente produza, eles têm que pagar por isso”, afirmou.

Segundo o economista, o aumento da safra de arroz, mandioca e feijão, produtos básicos consumidos internamente, ainda é admissível, mas a diminuição de oferta, de forma geral, pode ser uma saída para o setor. Ele explicou que, levando-se em consideração os estudos realizados até o momento, não se pode afirmar que a crise atingiu seu nível máximo e, com isso, as incertezas aumentam. “Nos próximos seis meses não há sinal de recuperação. Com a deteriorização da economia, não se faz estoques, e as tradings [empresas que financiam parte da safra] compram da mão para a boca e vão continuar comprando assim a safra inteira”, avaliou Dias.

Para Dias, há uma grande probabilidade de variação maior do câmbio, tendendo a uma valorização do dólar, do que de mudanças nos preços das commodities agrícolas. Caso não se diminua a produção, a inadimplência pode chegar ao patamar de 15% a 20%, o que poderia levar ao bloqueio da concessão de crédito.

Para combater esse cenário negativo, a proposta é de transparência no campo, um projeto que a CNA está desenvolvendo com a participação de entidades privadas para apresentar ao governo. Segundo o economista, a evasão fiscal do setor está acima dos 60% da atividade. “Como se trabalha um setor assim? Sonegação é uma prática comum e estamos amarrados. Então, não é a toa o que está acontecendo com os frigoríficos e a pecuária. Numa hora dessas, fica difícil se trabalhar políticas públicas”, afirmou, se referindo à crise enfrentada por alguns frigoríficos nacionais que estão fechando e dispensando funcionários.

Nem tudo, entretanto, é má notícia para a agropecuária. Dias acredita que a transferência de renda para o mercado financeiro, verificada nos últimos 20 anos, deve ser substituída, a partir desta crise, por uma recuperação do mercado produtivo.

Amanhã (1º), a Comissão Especial de Monitoramento da Crise Econômica da Câmara recebe o economista Eduardo Giannetti da Fonseca. Os deputados pretendem ouvir especialistas e vários segmentos do setor agropecuário três vezes por semana e elaborar um relatório sobre a crise no setor em até 30 dias.

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