Babá confessa que agrediu gêmeos de 11 meses

A babá Cristiane Prestes de Azevedo, de 36 anos, que está presa em Caxias do Sul, acusada de agredir e torturar um casal de bebês gêmeos de 11 meses, entre julho e setembro do ano passado, prestou depoimento na quinta-feira (1º) da semana passada no foro da comarca caxiense. Ela confessou as agressões,

dizendo que “não lembro motivo porque eu fiz; não tem nem explicação do que eu fiz”.

No caso que resultou a prisão de Cristiane, os pais dos gêmeos apenas perceberam que essa situação estava acontecendo quando uma das crianças chorava quando era tocada num dos braços. Um exame médico constatou fratura na clavícula.

Os pais fizeram a denúncia em dezembro do ano passado, depois de assistirem as cenas de maus-tratos com câmeras escondidas na residência do casal. Eles afirmaram que nunca haviam desconfiado das atitudes da empregada e apenas cautelarmente instalaram as câmeras de segurança; gravavam mas não conferiam as imagens arquivadas.

Presa, solta e novamente presa – então por decisão da 1ª Câmara Criminal do TJRS, Cristiane – que tem o ensino médio completo – foi interrogada pela juíza Sonáli da Cruz Zluhan.

O que causou surpresa durante o interrogatório na audiência – e que vem comprovado no termo de degravação que o TJRS disponibilizou em seu saite – é que Cristiane trabalhava num segundo e quase simultâneo emprego, prestado aos fillhos de uma magistrada da própria cidade de Caxias do Sul.

As crianças comprovadamente agredidas são de outra família, onde a babá prestava serviços no turno diurno, duas vezes por semana.

No depoimento, a doméstica informa que “há 12 anos trabalha com crianças e com famílias importantes”, a partir de indicações partidas de familiares de um dos mais importantes empresários da serra gaúcha.

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TERMO DE DEGRAVAÇÃO

Natureza: Crime de Tortura – Lei nº 9455/97
Autor: Justiça Pública
Ré: Cristiane Prestes de Azevedo
Data da Audiência: 01.12.2011

Interroganda: Cristiane Prestes de Azevedo, brasileira, casada, natural de Caxias do Sul/RS.
Nunca foi processada.

Graduação: Ensino médio completo.

Em seguida, foram feitas as seguintes advertências à interroganda, nos termos do art. 367 do CPP: “O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado ou, no caso de mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo”.

Cientificada da acusação que contra si pesa, passou a ser interrogada pela juíza, depois de cientificada de que não está obrigada a responder às perguntas formuladas (art. 186 do CPP c/c art. 5º, inciso LXIII, da CF/88).

Juíza: E destes fatos que tu estás sendo acusada, queres me dizer o que aconteceu?

Interroganda: Doutora, eu não lembro o que aconteceu, mas eu confesso que fiz aquilo com o XXX (nome de um dos gêmeos), mas eu não sei o que me deu na cabeça; eu nunca tinha feito aquilo e sempre trabalhei com criança.

Juíza: Mas tu cuidavas deles, das duas crianças?

Interroganda: Sim.

Juíza: Há quanto tempo?

Interrogando: Fazia acho que oito meses.

Juíza: Mas tu não lembras dos fatos ou não lembras o motivo por que tu fizeste?

Interroganda: Eu não lembro motivo porque eu fiz; não tem nem explicação do que eu fiz.

Juíza: Tu tomavas alguma medicação?

Interroganda: Eu andava cansada, com sono né, porque eu trabalhava em outro emprego também
doutora.

Juíza: O teu outro emprego era qual?

Interroganda: Era com a juíza, a Doutora XXX eu trabalhava com XXX também.

Juíza: Que horário tu trabalhavas?

Interroganda: Eu trabalhava de noite, todas as noites de segunda a segunda, e saia deste emprego e ia pro outro.

Juíza: Tu não tinhas descanso então? Saias de um trabalho e ias pro outro?

Interroganda: Sim.

Juíza: E depois de ter acontecido este fato, tu tiveste que fazer um tratamento?

Interroganda: Eu tava me tratando com psiquiatra e com o psicólogo.

Juíza: Dada a palavra ao Ministério Público.

Ministério Público: Esses fatos que tu disseste que confessas são esses que consta na denúncia aqui?

Interrogando: Esses que eu fiz com o menino, doutora.

Ministério Público: De agressão…?

Interrogando: Dos detalhes do que eu fiz eu não lembro, doutora. Daquele dia mesmo eu não posso lhe
contar como foi mesmo que aconteceu. Mas eu confesso que fiz também.

Ministério Público: A senhora chegou a ver as imagens que foram gravadas?

Interrogando: Minha mãe e meu esposo sempre falam bastante e me criticam também.

Ministério Público: A senhora viu essas imagens?

Interrogando: Sim, quando eu tava em casa, sim.

Ministério Público: E é isso que a senhora está confessando agora?

Interrogando: Sim.

Ministério Público: Quanto tempo decorreu essas agressões? Quantos dias?

Interrogando: Não lembro, doutora.

Ministério Público: Além do cansaço físico, a senhora não sentia mais nada? Não procurou um
psiquiatra até então?

Interrogando: Eu já tinha procurado, mas eu nunca tinha tempo doutora pra me tratar.

Ministério Público: Tinha procurado psiquiatra antes de ser presa ou só depois que foi presa?

Interrogando: Não, um tempo atrás eu já tinha procurado, né.

Ministério Público: Quanto tempo atrás?

Interrogando: Acho que um ano, um ano e pouco atrás.

Ministério Público: Nada mais

Juíza: Pela Defesa.

Pela Defesa: Há quanto tempo trabalha com crianças?

Interrogando: Há 12 anos, doutor.

Pela Defesa: E na casa dessa família aí, desses gêmeos, há quanto tempo estava trabalhando lá?

Interroganda: Acho que fazia seis meses, oito meses doutor.

Pela Defesa: E como é que a senhora conseguiu este emprego lá?

Interroganda: A doutora XXX me indicou. A XXX (nome de conhecida família de Caxias do Sul) também, eu
trabalhava só para famílias importantes assim.

Pela Defesa: E tu já havias sido demitida de outro emprego por maus tratos?

Interroganda: Nunca, nunca fiz nada pra ninguém. Nunca tinha acontecido nada disso.

Pela Defesa: Agora que tu começaste tratamento com o psiquiatra aí, tu lembraa que medicamento tu
estás tomando?

Interrogando: Eu tomo Longactil, eu tomo bastante, Andol, Lozarzepan, Diazepan. Eu tomo bastante
medicação.

Pela Defesa: E teve um episódio que consta no processo que tu tentaste suicídio quando foste solta na primeira vez. Por que tu tentaste te matar?

Interroganda: Porque elas quase me mataram lá, já é a terceira vez que quase me matam doutora. Lá no
IPF também. Aí por isso, antes que me matem, eu me mato daí.

Juíza: Lá no IPF aconteceu o que?

Interroganda: Elas me pegaram também.

Juíza: Elas quem? As outras internas?

Interrogando: É.

Pela Defesa: Nada mais.

Juíza: Nada mais.

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