por LORENNA RODRIGUES
A fusão da Perdigão e da Sadia será um dos maiores desafios enfrentados pelos órgãos de defesa da concorrência, em especial o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Na opinião de especialistas do setor, a operação só se compara à criação da AmBev –resultado da fusão entre Brahma e Antarctica, julgada pelo órgão em 2000.
Para Rui Coutinho, ex-presidente do Cade e ex-secretário de Direito Econômico, o conselho deverá firmar um Apro (Acordo de Preservação de Reversibilidade da Operação), documento prevendo que as operações e marcas das duas empresas sejam mantidas totalmente separadas até o órgão julgar a fusão. Foram assinados acordos desse tipo, por exemplo, na compra da Garoto pela Nestlé, da Varig pela Gol e da Brasil Telecom pela Oi.
“O Cade deve fazer um Apro até para poder analisar com tranquilidade a operação e a concentração existente”, afirmou.
Segundo Coutinho, em alguns setores, como congelados e margarinas, o conselho poderá impor restrições à operação, como obrigar a venda de fábricas ou mesmo de marcas. No setor de margarinas, por exemplo, a Sadia tem 47,5% do mercado e a Perdigão 18%. Ele lembra que, no caso da criação da AmBev, o Cade determinou a venda da marca Bavária e ainda de cinco fábricas.
O conselho deverá analisar cada setor separadamente e por região geográfica, para identificar onde existem sobreposições de produtos e concentração excessiva.
“O que tem que fazer em primeiro lugar é preservar a concorrência no mercado interno. Às vezes tem concentração em uma região, mas não tem em outras”, completou.