Os investimentos externos diretos (IDE) ainda não foram afetados pela crise econômica mundial, mostra o relatório World Investment Report (WIR), divulgado na última quinta-feira (5) pela Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), relativos a 2011. Nele, o Brasil subiu três posições no ranking e é o quinto país que mais recebe investimentos no mundo.
“O Brasil continua sendo destaque, com aumento de 37,4% de ingressos de IDE ante 2010. A participação de seus ingressos de IDE nos fluxos globais foi de 4,4% em 2011, ante 1,3% em 2006”, aponta o documento.
A China continua como grande propulsora dos investimentos globais, e o Brasil é um dos beneficiados pelo poderio do gigante asiático, entende o professor José Carlos Miranda, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ).
O documento mostra o resultado do IDE em 2011 e revela que, apesar do panorama externo, os investimentos superaram a média do período pré-crise (2005–2007): atingiu US$1,5 trilhão, com um crescimento de 16,4% em relação a 2010.
As economias pertencentes aos BRICS seguem como destino cada vez mais preferencial de IDE, com aumento de 21,1% no recebimento de investimentos em 2011. Com isso, a participação destes passou para 18,4%. Era de 9,6% em 2006.
Miranda atribui este crescimento em meio a crise internacional à demanda chinesa por energia, suprimentos e matérias primas. “A China se tornou um pólo dinâmico da economia mundial e tem demandas muito específicas, que normalmente são preenchidas pelas economias em desenvolvimento”, analisa. Estes países são fortes no setor primário e assim, conseguem atender a demanda do asiático. O especialista destaca ainda a importância do chineses para o Brasil:
“Hoje, eles (chineses) são o primeiro mercado de exportações brasileiras. Também há um interesse da China no Brasil, que tem feito investimento nas áreas extrativistas, na mineração e energia, para suprir a demanda interna deles”, explica.
Além do crescimento nos investimentos recebidos, o Brasil está entre os países que mais repatriou recursos. As empresas brasileiras desinvestiram US$ 12,6 bilhões em 2012 no exterior. Estas questões podem atrapalhar o desempenho do país no futuro, mostra o documento. Corre o risco de ver uma redução nos investimentos.
Qualidade x Quantidade
A qualidade é mais importante do que a quantidade quando se fala em IDE, afirma o economista Mariano Francisco Laplane, presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). Ele acredita que o desempenho do Brasil em 2011 foi positivo, mas alerta para a necessidade de se avaliar as condições em que estes investimentos chegam no país.
Segundo ele, os investimentos estrangeiros podem ajudar no desenvolvimento de tecnologias e no aumento das exportações. Mas se não forem bem aplicados, também têm o poder de prejudicar a cadeia produtiva nacional. “Para que haja transferência de tecnologia e fortalecimento das empresas brasileiras é preciso demandar contrapartidas daquelas que queiram entrar no país”, afirma.
Com fortes reservas cambiais, o Brasil está em uma posição mais valorizada e não deve aceitar investimentos “a qualquer custo”, opina Laplane. “Já vivemos um momento em que qualquer capital era bem-vindo. Hoje devemos impor contrapartidas, como demandar que a rede de fornecedores seja brasileira ou que produzam a tecnologia aqui, registrando patentes, por exemplo”, sugere.
Capital produtivo
O professor Miranda destaca que os Investimentos Diretos Externos (IDE) são um capital saudável para a economia, pois são investimentos que vão diretamente para o setor produtivo. “Eles trazem tecnologia, know how, conhecimentos que não necessariamente estão disponíveis no país, equipamentos e novas formas de produção, por exemplo”.
É importante diferenciar o IDE do capital que o governo tenta combater, aquele que entra no país apenas de maneira especulativa. “Este capital entra para lucrar com a diferença da taxa de juros. Eles pegam dinheiro emprestado, por exemplo, no Japão, onde os juros são de 0,25 e colocam no Brasil, que remunera a Selic, ou seja, 8,5% ao mês atualmente”.
É um dinheiro, que segundo o especialista, não produz e seu único benefício é a curto prazo. “O Brasil ainda não tem investimentos diretos o suficiente para fechar o balanço das transações correntes. O capital especulativo cumpre esta função imediata, mas não são alterações desejáveis do ponto de vista macroeconômico, a longo prazo”, conclui.