Comissão da Verdade cobra de Cabral providências sobre ação da PM nas manifestações e na Maré

A Comissão da Verdade do Rio manifestou preocupação com a ação da PM (Polícia Militar) nas manifestações dos últimos dias na cidade e na operação para combater traficantes, na terça-feira (25/6) no Complexo da Maré. A comissão espera do governador Sérgio Cabral providências imediatas e enumerou os últimos casos envolvendo a corporação.

O clima de tensão na favela Nova Holanda, começou no fim da tarde de segunda-feira (24/6) depois que a PM entrou na comunidade em busca de homens que aproveitaram uma manifestação para promover um arrastão, roubar mercadorias de lojas e assaltar motoristas que passavam pela Avenida Brasil. Houve confrontos com traficantes de drogas, que dez morreram, entre elas, um sargento do Bope, três moradores sem ficha criminal, de acordo com a própria PM, e cinco homens suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas na região.

O presidente da comissão, Wadih Damous, disse que a PM não fez um trabalho preventivo para proteger possíveis alvos de vandalismo, como na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e na sede administrativa da prefeitura do Rio. Segundo ele, depois desses episódios, os policiais passaram a “prender e a atacar com violência, de forma indiscriminada, quem estava nas ruas, independentemente de as vítimas da violência policial terem ou não participado de depredações ou até mesmo das manifestações”.

Para Damous, é preciso mudar o comportamento dos policiais, “inadmissível” em um regime democrático. “É, também, inaceitável que os presos nas manifestações sejam acusados de formação de quadrilha, recurso que nem a ditadura militar usou. O direito de manifestação política de forma pacífica é assegurado na Constituição e cabe às autoridades respeitá-lo”, disse.

Sobre o episódio no Complexo da Maré, onde a ação da PM resultou em várias mortes, Damous classificou de “intolerável” o comportamento dos policiais. Segundo ele, toda a população local foi submetida a um verdadeiro estado de sítio, proibida de deixar suas casas. “Esperamos que o governador Sérgio Cabral tome as providências que a seriedade da situação exige”, destacou.

Moradores da Maré querem pedido de desculpa do governo por ação da PM

Os moradores do Complexo da Maré querem um pedido oficial de desculpas do governo do estado do Rio e da Secretaria Estadual de Segurança Pública pela operação policial na comunidade. Nesta quarta-feira (26/6), grupo de moradores fez ato em frente à secretaria em protesto contra a ação e para denunciar excessos por parte dos policiais.

Os moradores anunciaram uma manifestação para a próxima terça-feira (2/7), a partir das 17h, que fechará trecho da Avenida Brasil – principal via de ligação entre o centro e as zonas norte e oeste. O objetivo é chamar a atenção para o transtorno que as operações policiais causam na vida dos moradores da Maré.

Segundo o diretor da organização não governamental Observatório de Favelas, Jaílson de Souza, que atua na Maré, os moradores de comunidades pobres do Rio têm sido vítimas de uma política que funciona na “lógica da guerra”. Na avaliação dele, o Estado precisa ser “pacificado”, por meio da desmilitarização da Polícia Militar e “do combate às armas em vez de o combate às drogas”.

“O governo estadual foi eleito com a estratégia de polícia de pacificação”, disse Jaílson. “São nove mortes em um país onde não existe a pena de morte”, completou.

De acordo com Shirley Resende, da organização não governamental Redes de Desenvolvimento da Maré, que mora na comunidade, a ação da polícia foi irresponsável e em represália à morte de um policial. “A polícia ameaçou moradores, invadiu casas, usou bombas de efeito moral, gás de pimenta e matou com bala na cabeça”, disse a pesquisadora.

Jaílson lembrou que a Maré, com aproximadamente 140 mil pessoas, é densamente povoada. Segundo ele, o risco de uma bala atingir um morador é grande e, por outro lado, um policial militar, que é obrigado a trabalhar obedecendo a regras dentro dessa linha de atuação, também está em risco. “Uma mudança paradigmática da política é necessária”, disse.

O governo do estado, por meio da Secretaria de Segurança, disse que as mortes estão sendo investigadas pela Polícia Civil.

Medida

A Corregedoria Interna da PM abriu nesta quarta-feira (26/6) um inquérito para apurar a conduta dos policiais do Bope durante a operação na favela Nova Holanda.

A medida foi anunciada após encontro do chefe do Comando de Operações Especiais, coronel Hugo Freire, com lideranças do Complexo da Maré e rerpresentantes da ONG (organização não governamental) Observatório de Favelas, que atua dentro da comunidade. Também participaram da reunião equipes da Corregedoria Interna da PM. Os moradores detalharam denúncias de arbitrariedades do Bope durante a ação na favela. Eles também defenderam a necessidade de mudar a política de confronto nas comunidades carentes do Rio.

O representante do Observatório de Favelas, Raquel Viladino, disse que o objetivo principal do encontro foi pedir que a Polícia Militar repense essas ações de confronto que sempre resulta em ações letais. “Não é a primeira vez que a gente se deparou com ações ostensivas que resultaram em mortes. As operações não devem ser mais arbitrárias e violentas, mas sim de inteligência com respeito aos moradores de qualquer território da cidade. Nesse processo, deve-se abrir uma perspectiva de aproximação de diálogo com a comunidade e de respeito aos direitos humanos”.

O coronel Hugo Freire abriu a possibilidade de novos encontros com as lideranças da comunidade. O Complexo da Maré poderá ter uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), mas sem prazo definido para a instalação. Segundo Raquel Viladino, este “seria o momento para novos diálogos a fim de evitar a violação dos direitos do cidadão e excessos na ocupação das forças de segurança do estado para instalação da UPP”.

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