por Priscila Dal Poggetto
Governo dos EUA terá 60% da empresa e o canadense terá 12%.
Reestruturação da GM muda paradigma na indústria norte-americana.
Garantia de recuperação. É o que justifica o empenho do governo norte-americano para evitar a quebra da maior fabricante de veículos do país e a segunda maior do mundo, a General Motors. Por isso, a montadora se tornará uma empresa estatal até que retome a lucratividade. “Isso é uma notícia muito positiva, tanto é que as ações da GM subiram bastante após o anúncio”, afirma o professor de finanças corporativas da Brazilian Business School (BBS), Plínio Chap Chap.
Apesar de já ser esperada, a concordata coloca fim às especulações no setor e gera alívio no mercado. O professor do departamento de economia da ESPM, José Eduardo Amato Balian, afirma que apesar de a sociedade norte-americana pagar pela recuperação da empresa, a ajuda de US$ 30,1 bilhões do governo dos Estados Unidos – fora os US$ 20 bilhões já liberados – evita uma reação em cadeia que acarretaria em demissões em massa e o agravamento da crise no país.
“A crise foi muito forte e essa queda não pode deixar a GM quebrar, porque representaria a perda de milhares de empregos. O mesmo acontece com outras grandes empresas em crise, como os bancos. A ação do governo é o que difere esta crise da que aconteceu na década de 1930”, explica Balian.
De acordo com os especialistas, a concordata também representa uma mudança de paradigma nos Estados Unidos, pois as empresas terão de se adaptar a uma estrutura mais enxuta e os sindicatos precisarão “aliviar” as pressões. “Quebrar essa cultura será um problema sério para enfrentar. A Ford tenta fazer isso sozinha e a Chrysler usará a cultura dos carros europeus”, diz Chap Chap, ao apostar positivamente na reação dos Estados Unidos.
Jatinhos
O símbolo dos “gastos desnecessários” por parte das montadoras foi a reunião dos executivos-chefes da GM, Ford e Chrysler no Congresso norte-americano em novembro de 2008. Para pedir ajuda financeira do governo e evitar a falência, eles viajaram a Washington em jatos corporativos. Na época, eles foram apontados pelos congressistas de “arrogantes”.
“A GM tinha até o ano passado 65 pilotos contratados para operar os jatinhos. É algo sem sentido, quase uma companhia aérea. Ou seja, os custos fixos tinham um nível absurdo. Junta isso com as questões trabalhistas, principalmente na área da saúde, a empresa se torna inviável”, analisa José Eduardo Amato Balian.
De acordo com os economistas, a concordata da empresa não afetará sua imagem nos Estados Unidos e nem no Brasil. Isso porque no mercado norte-americano a participação da GM já havia despencado de 40% para 20%. “O que tinha de arcar com imagem ela já arcou. Agora é pensar para frente. A notícia de que existe uma solução entre governo, credores e funcionários é o que importa”, ressalta Chap Chap.
No caso do Brasil, a situação é estável, então, resta à subsidiária investir em produtos. “Como subsidiária, ela é uma empresa lucrativa e deixa de fora essas questões”, observa o professor da ESPM. A GM do Brasil já investe US$ 1 bilhão em 16 novos produtos e na construção da fábrica de motores em Joinville com recursos próprios, já que parou de enviar remessas à matriz para poder investir no país.
Processo de concordata
Com a concordata, a GM receberá mais de US$ 30,1 bilhões em ajuda do governo dos Estados Unidos, que terá 60% do capital da empresa. No total, a administração norte-americana irá injetar na companhia US$ 50 bilhões, sendo que US$ 20 bilhões já foram liberados.
O montante será reforçado por US$ 9,5 bilhões dos governos do Canadá e da província de Ontário, que ficarão com 12% das ações. O fundo de previdência dos funcionários da GM assumirá 17,5% do pacote acionário. Outros 10% ficarão nas mãos dos antigos credores proprietários de obrigações não garantias que aceitaram o plano de reestruturação.
O governo norte-americano pretende vender as ações assim que a empresa se recuperar, entretanto, como acionista majoritário, irá escolher a nova cúpula administrativa da empresa, terá direito a veto e decidirá o destino de marcas como Saab e Saturn – já que a Pontiac foi fechada e a Hummer vendida -, entre outras futuras decisões.
“A grande dúvida agora é como vai ser o comportamento do governo americano e o que vai acontecer daqui pra frente. O bom senso diz que a empresa continuará o processo de reestruturação com credores e sindicato”, afirma Balian.