Corte sob ameaça – Segurança do STF manda evacuar andar do prédio

por Daniel Roncaglia

A segurança do Supremo Tribunal Federal evacuou o terceiro andar do prédio do tribunal, onde fica o gabinete da presidência, no começo da noite desta quinta-feira (7/8). A medida foi tomada depois que dois funcionários do protocolo da presidência, Aneline e Jorge Santa Rita, passaram mal ao abrir um envelope da correspondência da corte com um pó branco dentro.

Além do pó, o envelope continha uma carta com ameaças ao presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes. Os dois funcionários do protocolo foram atendidos pela médica Déa Márcia da Silva Martins Pereira, da Secretaria de Serviços Integrados de Saúde do tribunal, e passam bem. A Polícia Federal está fazendo a perícia do pó que encontado no envelope.

Pouco antes, o STF havia recebido um aviso de que havia uma bomba no subsolo do prédio. O alarme era falso. Há duas semanas, ameaça semelhante já tinha sido feita. Esse tipo de ameaça tem se repetido com certa freqüência.

Ministras em perigo

Há pouco mais de dois meses, o Supremo foi oficialmente alertado de que estaria sendo preparado o sequestro de uma das duas ministras da casa — Cármen Lúcia ou Ellen Gracie. Os autores intelectuais do plano seriam os traficantes Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e o colombiano Juan Carlos Abadía.

Sem citar nomes, o juiz federal de Ponta Porã (MS), Odilon de Oliveira, confirmou à revista Consultor Jurídico que os traficantes planejaram o seqüestro de autoridades do Judiciário e do Executivo. O objetivo do plano era chantagear as autoridades para obter a liberdade de integrantes de suas quadrilhas que estão presos.

Na segunda-feira (4/8), quatro membros da quadrilha, entre eles Abadía e Beira-Mar, foram transferidos do Presídio Federal de Campo Grande por ordem da juíza Raquel Corniglion. Ela preside o inquérito daOperação X da Polícia Federal que resultou na transferência dos presos para a sede da PF na cidade.

Na época da ameaça de seqüestro das ministras, a segurança do STF chegou a reforçar as medidas de proteção a elas. No fim de maio, Cármen Lúcia estava em Teresina para um evento. Avisada sobre o plano, trocou de quarto de hotel, usou um carro oficial de fachada e andou pela cidade em rotas alternativas.

Na terça-feira (5/8), o jornalista Cláudio Humberto escreveu em sua coluna, citando fonte do Ministério Público Federal, que o alvo do seqüestro seria a ministra Ellen Gracie. Em nota à imprensa, o MPF de Mato Grosso do Sul negou a informação. Ao mesmo tempo, determinou a abertura de procedimento para apurar o vazamento de informações sobre a operação, ocorrido logo depois de sua deflagração.

Segundo a Polícia Federal apurou, os sequestradores pretendiam capturar ao menos cinco reféns. Além de autoridades, um possível alvo dos seqüestradores, seria um dos filhos do presidente Lula.

Para executar o plano, de acordo com a PF, Abadia e Beira-Mar se associaram aos assaltantes do Banco Central de Fortaleza José Reinaldo Girotti e João Paulo Barbosa, que também estão presos. Durante a operação, também foram presos a ex-mulher de Beira-Mar Ivana Pereira de Sá, o advogado de Girotti, Vladimir Búlgaro, e dois parentes de Barbosa, Leandro Oliveira dos Santos e Leonice de Oliveira.

Extradição apressada

O Ministério da Justiça deve emitir, até sexta-feira (8/8), parecer pedindo urgência na extradição de Abadía para os Estados Unidos. Segundo o Ministério, o presidente Lula deve assinar a autorização assim que voltar da China, no sábado (9/8). A extradição de Abadía foi concedida por unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal, em março deste ano.

Na quarta-feira (6/8), a Justiça Federal de Campo Grande mandou o colombiano e os dois assaltantes cumprirem pena em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Fernandinho Beira-Mar também recebeu a punição, mas já cumpre pena no sistema. Em depoimento à PF, Beira-Mar negou que participou do suposto plano que envolveria o seqüestro de autoridades e do filho do presidente.

Também o senador Magno Malta (PR-ES) disse na terça que recebeu a informação de que os traficantes tinham planos de seqüestrar uma de suas filhas. O senador afirma que um informante da extinta CPI do Narcotráfico da Câmara teria confirmado o plano. O diretor do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Wilson Damásio, confirmou na terça ao Estadão que o objetivo dos traficantes era “garantir a fuga do presídio federal de segurança máxima em troca da libertação de autoridades feitas reféns”.

Revista Consultor Jurídico

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