por Carlos Brickmann
No noticiário, sumiu a Operação Satiagraha, aquela que envolve o banqueiro Daniel Dantas. Há coisas estranhas no inquérito, que vão do uso como carro de passeio de um veículo de alto luxo, exclusivo para diligências policiais, até gravações de telefones do Palácio do Planalto. Mas há indícios de crime e o caso não pode ser esquecido só porque surgiu outro caso, tão grave quanto ele.
O monitoramento do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, é gravíssimo, mas não mais grave que o monitoramento do presidente da República. A Operação Satiagraha grampeou o chefe do Gabinete Civil da Presidência, Gilberto Carvalho, que fala com Lula “n” vezes ao dia. Se Carvalho foi grampeado, Lula também o foi. E é extremamente séria – portanto, não pode ser esquecida – a acusação de que emissários do banqueiro Dantas tentaram subornar um delegado da Polícia Federal. A versão oposta, de que os delegados é que pediram suborno, também é grave e tem de ser investigada.
Há uma série de fatos escabrosos, que chegam a colocar em risco a estabilidade política do país, que tem de ser esclarecida. Não se pode suspender a investigação de um para cuidar do outro. Não é porque um caso é mais recente que o outro que deve ser abafado. É preciso investigá-los todos e levá-los à Justiça.
O ministro Jorge Félix, do Gabinete de Segurança Institucional, diz que as investigações vão revelar muito jornalista vendido. Ótimo: se a imprensa pretende manter sua credibilidade, esta é mais uma investigação que tem de ir até o fim.
Confiança 1
Ao afastar o delegado Paulo Lacerda do comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o presidente Lula repete uma decisão do presidente Itamar Franco. Quando o ministro Henrique Hargreaves sofreu acusações, Itamar afastou-o temporariamente (como aconteceu agora com Lacerda), aguardou o resultado das investigações, que o inocentaram, e o levou de volta ao Ministério. Lula confia em Lacerda e tem certeza de que, passado o temporal, poderá tê-lo de volta.
Confiança 2
O presidente Lula confia também no bom comportamento da oposição. No sábado, surgiram as denúncias de que os telefones dos senadores Arthur Virgílio, Tasso Jereissati e Álvaro Dias também tinham sido grampeados por órgãos governamentais. Só hoje a Executiva Nacional do PSDB, partido dos três senadores, discute o assunto (se não houver adiamento). E o senador Heráclito Fortes, DEM do Piauí, presidente da Comissão Mista do Congresso de Controle de Órgãos de Inteligência, convocou reunião para mais adiante. Um dia, com certeza, as comissões de controle vão discutir o descontrole.
Revista Consultor Jurídico