Nesta quarta-feira (10/2), o ministro da Defesa, Nelson Jobim informou que o general Maynard Marques de Santa Rosa será exonerado do cargo de chefe do Departamento Geral de Pessoal do Exército. O motivo do afastamento foi a carta atribuída ao general em que acusa a Comissão da Verdade de ser comandada por “fanáticos”. As informações são do site Congresso em Foco.
A Comissão foi criada pelo Plano Nacional de Direitos Humanos para apurar os crimes cometidos contra opositores da ditadura militar por agentes do Estado. A nota atribuída ao general Maynard critica a comissão e seus criadores. “[São os]mesmos fanáticos que, no passado recente, adotaram o terrorismo, o seqüestro de inocentes e o assalto a bancos como meio de combate ao regime, para alcançar o poder”, escreveu o militar.
De acordo com a nota da assessoria de imprensa do Ministério da Defesa, Jobim entrou em contato por telefone com o Comandante do Exército, general Enzo Martins Peri após ter tomado conhecimento das declarações do general por reportagem publicada na imprensa. Peri, que se encontrava em viagem a Santa Maria (RS), confirmou as informações. Ele disse que as declarações de Maynard se tratavam de “correspondência pessoal, indevidamente propagada pela internet”. Buscando amenizar, o comandante classificou a carta como uma “opinião particular”.
O pedido de exoneração foi encaminhado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após ser afastado do Departamento de Pessoal, Maynard ficará como adido do comandante do Exército.
Leia a íntegra da carta divulgada na internet:
A Comissão da Verdade
A verdade é o apanágio do pensamento, o ideal da filosofia, a base fundamental da ciência. Absoluta, transcende opiniões e consensos, e não admite incertezas.
A busca do conhecimento verdadeiro é o objetivo do método científico. No memorável “Discurso sobre o Método”, René Descartes, pai do racionalismo francês, alertou sobre as ameaças à isenção dos julgamentos, ao afirmar que “a precipitação e a prevenção são os maiores inimigos da verdade”.
A opinião ideológica é antes de tudo dogmática, por vício de origem. Por isso, as mentes ideológicas tendem naturalmente ao fanatismo. Estudando o assunto, o filósofo Friedrich Nietszche concluiu que “as opiniões são mais perigosas para a verdade do que as mentiras”.
Confiar a fanáticos a busca da verdade é o mesmo que entregar o galinheiro aos cuidados da raposa. A História da inquisição espanhola espelha o perigo do poder concedido a fanáticos. Quando os sicários de Tomás de Torquemada viram-se livres para investigar a vida alheia, a sanha persecutória conseguiu flagelar trinta mil vítimas por ano no reino da Espanha.
A “Comissão da Verdade” de que trata o Decreto de 13 de janeiro de 2010, certamente, será composta dos mesmos fanáticos que, no passado recente, adotaram o terrorismo, o seqüestro de inocentes e o assalto a bancos, como meio de combate ao regime, para alcançar o poder.
Infensa à isenção necessária ao trato de assunto tão sensível, será uma fonte de desarmonia a revolver e ativar a cinza das paixões que a lei da anistia sepultou.
Portanto, essa excêntrica comissão, incapaz por origem de encontrar a verdade, será, no máximo, uma “Comissão da Calúnia”.
Gen Ex Maynard Marques de Santa Rosa