A fusão das empresas Perdigão e Sadia, concretizada na noite de segunda-feira (18/5), foi anunciada na manhã desta terça-feira (19/5) pelos presidentes do Conselho Administrativo da nova empresa, Nildemar Secches e Luiz Fernando Furlan. As duas darão origem a empresa chamada Brasil Foods.
De acordo com informações da Agência Estado, a nova companhia deverá fazer uma oferta pública de ações para levantar valor estimado de R$ 4 bilhões, segundo comunicado ao mercado. A união das companhias, que juntas serão responsáveis por quase 25% do mercado exportador global de aves, se dará por meio de uma complexa operação societária, com a criação de uma outra entidade, a HFF Participações. A Sadia, que precisava se capitalizar após as perdas de R$ 2,6 bilhões com derivativos, terá suas ações incorporadas em um primeiro momento pela HFF Par.
Para o assessor técnico do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Marcos Pó, a fusão pode provocar aumento dos preços e queda na qualidade dos produtos, já que diminui a concorrência. “As empresas não se juntam para o bem do consumidor, elas se juntam para ter lucro”, afirmou.
As experiências de fusão anteriores demonstram que o consumidor não costuma ser beneficiado com esse tipo de operação, de acordo com Marcos Pó. Para ele, a concorrência é a única maneira de garantir que as empresas forneçam serviços de qualidade e preços razoáveis.
O professor de marketing da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA USP), Marcos Campomar, é “otimista” com os possíveis resultados da união das duas empresas. Segundo ele, a nova companhia terá condições de oferecer produtos de melhor qualidade com preço menor.
A melhoria dos serviços seria consequência da melhor utilização dos equipamentos e da mão-de-obra das indústrias pertencentes a ambas as marcas. Na avaliação de Campomar, a unificação também permitiria “nivelar por cima” os padrões de qualidade. O professor não descarta a possibilidade da existência de monopólio, pois a fusão irá combinar a força de penetração no mercado das duas empresas. “O que fará pressão sobre as empresas menores”, alertou Campomar. Nesse cenário, ele acredita que as outras empresas só teriam espaço entre as pessoas de renda mais baixa. Quanto a demissões, Campomar acredita que devem ocorrer em níveis gerenciais, de maneira a adequar a estrutura administrativa. Ele não acredita em “demissões em massa”.
No que diz respeito aos fornecedores, Marcos Campomar prevê uma situação mais complicada. Segundo ele, com a concentração de mercado decorrente da fusão, a nova empresa teria mais poder de negociação e poderia exigir melhores condições de compra. “ Quando um comprador é forte, ele pode forçar o preço que ele quiser”, explicou.
Para o presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Wolmir de Souza, a situação dos produtores não deve mudar. “A política deles é igual, não muda nada”, afirmou. Segundo Souza, muitos produtores apenas prestam serviço para as grandes empresas do ramo de alimentos, que são donas dos produtos e dos insumos.
Souza se diz favorável à fusão por acreditar que a nova empresa terá mais condições de abrir espaço no mercado internacional. “Nós precisamos ser competitivos no exterior”. Ele espera que os novos ganhos obtidos com as possíveis exportações “sejam distribuídos com os produtores”.