Os órgãos de inteligência no Brasil vivem uma espécie de “apagão”, por não estarem produzindo quanto poderiam. “Falta racionalização do sistema.” A declaração é do presidente da Associação de Servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Asbin), Nery Kluwe de Aguiar Filho, em entrevista concedida aos jornalistas Felipe Recondo e Marcelo de Moraes, do Estado de S. Paulo.
Nery Kluwe defende uma mudança radical na estrutura da Abin, inclusive com a saída do general Jorge Armando Félix do comando do Gabinete de Segurança Institucional. “Houve um desgaste muito grande. Ele não defendeu com veemência a Abin quando foi depor na CPI dos Grampos e admitiu a hipótese de que poderia ter havido desvio de conduta. Entendemos que não é esse o perfil de um chefe de órgão de inteligência”, afirmou.
Ao avaliar a imagem da Abin, envolvida com as últimas acusações de grampos ilegais e participação em operação da Polícia Federal, Kluwe citou a música de Chico Buarque. “Abin é a Geni: feita para apanhar e boa de cuspir”, concluiu.
Leia a entrevista
Estamos vivendo um apagão da inteligência no Brasil?
Kluwe Filho – Pode-se afirmar que sim. Não no sentido de que os órgãos estejam apagados e não estejam produzindo. Mas falta racionalização do sistema. O próprio nome do Gabinete de Segurança Institucional me parece controvertido, porque trata da segurança das instituições no regime democrático em que as instituições estão dando provas de que estão sólidas. Isso aí acabou com a centenária Casa Militar da Presidência.
Qual é o problema da estrutura do GSI?
Kluwe Filho – O gabinete assumiu múltiplas funções: segurança das autoridades, Secretaria Nacional Antidrogas e autoridade de contraterrorismo. Então o GSI vai se assenhoreando de funções que embaraçam a atividade da Abin.
E como deveria ser coordenada a atividade de inteligência?
Kluwe Filho – Nossa proposta é que o presidente tenha assessor especial de inteligência, para fazer a conexão das diversas atividades.
A Abin seria desvinculada do GSI?
Kluwe Filho – Sem dúvida. A estrutura atual está ultrapassada.
Como vocês avaliam a situação do general Félix?
Kluwe Filho – A situação dele é desconfortável e incômoda. Houve um desgaste muito grande. Ele não defendeu com veemência a Abin quando foi depor na CPI dos Grampos e admitiu a hipótese de que poderia ter havido desvio de conduta. Entendemos que não é esse o perfil de um chefe de órgão de inteligência.
O depoimento foi ruim?
Kluwe Filho – Foi pusilânime. Se ele não tinha firmeza para defender a Abin, ele que procurasse firmeza para defender com rigor e rechaçar essa hipótese de que estaríamos envolvidos em grampos.
Diante disso, você acha que a imagem da Abin está prejudicada?
Kluwe Filho – Hoje a Abin é a Geni, do Chico Buarque: “Ela é feita para apanhar, ela é boa de cuspir”.
Vocês grampeiam investigado?
Kluwe Filho – É ferramenta insignificante para a gente. Vivemos de recrutamento de fonte, identificação de colaboradores, montagem de rede.
Você acha que há no Brasil uma “grampolândia”?
Kluwe Filho – Dentro do governo não, mas há um descontrole da prática.
Revista Consultor Jurídico