A justiça paulista condenou a 14 anos de reclusão Sirley Menezes da Silva, acusado de matar o rapper Mauro Mateus dos Santos, o Sabotage. A decisão foi tomada nesta terça-feira (12/7) pelo 1º Tribunal do Júri. O conselho de sentença, formado por quatro homens e três mulheres, o considerou culpado pelo homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima). O regime de prisão será inicialmente fechado.
O crime aconteceu em 24 de janeiro de 2003, na Avenida Abraão de Morais, no bairro da Saúde, Zona Sul de São Paulo. A vítima levou quatro tiros: dois na coluna cervical, um na mandíbula e um próximo ao ouvido, foi levado ao hospital ainda vivo, mas não resistiu.
Foram ouvidas quatro testemunhas. Umas delas, considerada sigilosa, disse ter visto o acusado comemorar o assassinato em uma favela após o crime. Durante o depoimento dessa testemunha a sala do plenário do Júri foi esvaziada. O réu está preso há quase cinco anos.
A testemunha sob proteção confirmou que o réu era o chefe do tráfico de drogas na Favela da Paz e que houve uma disputa entre quadrilhas pelo comando do tráfico no local. Ela acrescentou que ao ir ao velório de Sabotagem ouviu Sirlei dizer “derrubei o cara, ele vai cantar com São Pedro” e depois soltou fogos comemorando a morte da vítima.
Em seu depoimento, Sirlei Menezes da Silva negou ser o responsável pelo assassinato. Ele começou a ser ouvido por volta das 20h30. O réu afirmou que no dia do crime estava com a mãe em um hospital na Zona Leste e só ficou sabendo da morte de Sabotage no início da tarde.
A acusação ficou a cargo do promotor de justiça Carlos Roberto Marangoni Talarico. A defesa de Sirlei coube ao defensor público Marcelo Carneiro Novaes. O julgamento foi presidido pela juíza Fabíola Oliveira Silva, do 1º Tribunal do Júri da Capital.
Previsto inicialmente para 28 de abril, o julgamento foi adiado a pedido do Ministério Público, por conta da ausência de uma testemunha considerada imprescindível pela acusação.
Sabotage, um ex-interno da Febem e “ex-soldado” de traficantes, cresceu na Favela do Canão, na Avenida Jornalista Roberto Marinho. Em 1995, foi duas vezes indiciado, uma por porte de arma, outra por tráfico de drogas. Havia trocado o crime pelo rap e se tornado um músico de sucesso, compondo músicas de cunho social que falavam de dorgas, violência e criminalidade.
Com o lançamento de seu primeiro disco Rap É Compromisso, Sabotage alcançou o respeito e o sucesso como rapper. Ele auxiliou no roteiro, atuou e foi responsável pela trilha sonora do filme O Invasor, de Beto Brant, estrelado por Paulo Miklos, integrante da banda Titãs. A trilha sonora do longa-metragem ganhou prêmios nos festivais de Sundance (EUA), de Brasília e de Recife. O rapper também participou do filme Carandiru, de Hector Babenco.
Sabotage morava na favela do Canão, no Brooklin, e, no final de 1998, mudou-se para o complexo Vila da Paz. Ali, na favela do Morro, montou, segundo a polícia, um ponto de tráfico de drogas com o colega Durval Xavier dos Santos, o Binho.
De acordo com a investigação, a quadrilha de traficantes que dominava a favela elegeu os dois como rivais. Segundo a polícia, a guerra entre os grupos aumentou quando Sabotage e Binho assassinaram o chefe do bando rival, Euclides Mendez Pessoa, em 1999.
O Ministério Público afirma que Sirlei foi o assassino de Sabotage. A morte faria parte de uma guerra de quadrilhas pela disputa por pontos de venda de droga. Sirlei foi preso em 14 de dezembro de 2004, em Suzano.