Ao responder às perguntas da promotora Daniela Hashimoto, Lindemberg Alves disse que blefou com a polícia ao fazer ameaças contra Eloá Pimentel e os três amigos. O réu falou por mais de quatro horas e o julgamento foi suspenso após o fim do interrogatório, por volta das 20h da quarta-feira (15/2). Os trabalhos serão retomados na manhã desta quinta-feira (16/2), quarto e provavelmente último dia de julgamento que vai definir a pena do acusado de matar a ex-namorada depois de mantê-la por mais cem horas em cárcere privado. O júri popular acontece no Fórum de Santo André, cidade do ABC Paulista onde o crime foi cometido.
Diferente dos outros dois dias, o clima durante o depoimento do tenente Paulo Sergio Squiavo e o interrogatório de Lindemberg Alves foi de tranquilidade e apaziguação de ânimos. Antes de começarem as perguntas, a promotora Daniela Hashimoto pediu a palavra e afirmou que na terça-feira (14/2) esteve o dia todo dentro do Fórum e não tinha conhecimento dos fatos que a advogada de defesa havia relatado na noite anterior. Ana Lúcia Assad encerrou o segundo dia de julgamento inserindo diversas constatações na ata de julgamento, entre elas, a de que ela e suas estagiárias estavam se sentindo ameaçadas devido à repercussão negativa de sua imagem na imprensa.
Hashimoto disse também que as pessoas podem ou não concordar com o crime que Lindemberg cometeu, e podem ainda se manifestar, mas nunca de maneira agressiva. “Peço que entendam que o trabalho que está sendo feito aqui é inerente ao Estado Democrático de Direito”, ressaltou. Pediu também para não confundir a advogada com seu cliente.
“Sei da conotação emocional que o caso tem e é importante prezar pela diversidade de opiniões. Mas peço que não se igualem a criminosos e respeitem o trabalho que está sendo feito aqui”, finalizou.
Versão do acusado
O réu declarou durante seu interrogatório que as ameaças presentes na transcrição das gravações de algumas conversas entre Lindemberg e o negociador não passaram de blefes para “sentir o que estava acontecendo lá fora”. A promotora perguntou por que ele afirmou ao agente do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) que mataria Eloá e os amigos e depois cometeria suicídio, fazendo declarações agressivas como “vou arrancar até o último dessa mina [Eloá]”.
Ao ser questionado pelo assistente de acusação José Beraldo sobre o motivo de não ter chorado no depoimento, Lindemberg disse “não vim aqui para dar show”. Afirmou também que sempre se emociona quando se lembra de Eloá, mas que naquele momento ele estava lá também para contar sua versão dos fatos.
Dias antes, em depoimento, a amiga Nayara relatou que ao retonar para o apartamento percebeu que a amiga estava bastante machucada. A promotora perguntou ao réu qual a explicação para os hematomas no corpo de Eloá, e Lindemberg respondeu que sempre que a ex-namorada ficava nervosa apareciam manchas pelo corpo, e que a família sabia disso.
Retrospectiva do caso
Inconformado com o fim do namoro com Eloá Cristina Pimentel, 15, Lindemberg Fernandes Alves, então com 22 anos, invadiu o apartamento onde ela e mais três amigos faziam um trabalho escolar no dia 13 de outubro de 2008, em Santo André, na Grande São Paulo. Armado, Lindemberg chegou a liberar os colegas de Eloá ao longo das mais de cem horas de cerco.
Amiga de Eloá, a estudante Nayara Rodrigues voltou ao cativeiro a pedido da polícia, acreditando que ela poderia negociar com o sequestrador. Nayara estava novamente no apartamento quando policiais militares do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) invadiram o local, afirmando terem ouvido um estampido.
Na operação, tiros foram ouvidos. Um deles atingiu o nariz de Nayara. Os outros dois acertaram a cabeça e a virilha de Eloá, que não resistiu aos ferimentos e morreu na madrugada do dia 19 de outubro.
O caso ganhou grande repercussão na opinião pública, e a mídia acompanhou de perto o desenrolar das ações. Muitas emissoras televisivas transmitiram o caso em rede nacional, mas teve destaque o programa vespertino da jornalista Sônia Abraão, que exibiu uma entrevista com Lindemberg enquanto ele mantinha as jovens no apartamento.
Além da morte de Eloá, Lindemberg é acusado de cometer mais 11 crimes. São duas tentativas de homicídio (contra Nayara e o sargento Atos Valeriano, que participou da operação de resgate e escapou do disparo); cinco denúncias de cárcere privado (duas vezes de Nayara, além de Eloá e seus dois amigos); e disparo de arma de fogo (quatro vezes).
A Justiça determinou que Lindemberg fosse levado a júri popular. A sessão teve início na última segunda (13/2) e deve se estender até quinta. A defesa de Lindemberg tentou na Justiça que o réu respondesse às acusações em liberdade, mas teve o pedido de habeas corpus negado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).