por Márcia Bizzotto
Os países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) devem discutir uma possível mudança na estratégia de sua missão no Afeganistão a partir desta sexta-feira, na França, durante uma cúpula de dois dias que marcará os 60 anos da aliança e o início de um debate sobre seu futuro papel.
O evento está sendo realizado sob um forte aparato de segurança e marcado por simbolismos e celebrações, a começar pelo local escolhido para sua realização: às margens do rio Reno, nas cidades fronteiriças de Estrasburgo, na França, e Kehl, na Alemanha, que representam a reconciliação entre os dois países ao final da Segunda Guerra Mundial.
O encontro selará o retorno dos franceses à estrutura militar da Otan depois de 43 anos de uma ausência imposta pelo general Charles de Gaulle, que defendia que o país ganharia mais autonomia ao se afastar da administração do bloco transatlântico.
Também celebrará a nova ampliação da Otan no Leste europeu, com a integração esta semana de Croácia e Albânia, elevando a 28 o número de países-membros.
Afeganistão
A agenda dos 28 governantes da aliança será dominada pela missão no Afeganistão, a mais importante da história da organização, que atua no país há pouco mais de seis anos e admite estar longe de conseguir neutralizar as ações do Talebã.
Em sua primeira cúpula, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tentará convencer os demais países a adotar uma nova estratégia de combate no Afeganistão, que inclua negociações com líderes do Talebã considerados moderados e ações coordenadas com o vizinho Paquistão, onde militantes organizam muitos de seus ataques.
Obama também deve pedir mais recursos para a missão, a fim de proporcionar reforço aos 60 mil soldados de 42 países presentes atualmente no Afeganistão.
O presidente americano já anunciou que pretende enviar em breve 21 mil soldados ao país, para somar-se a um contingente que hoje conta com 38 mil homens.
Por sua parte, o secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop Scheffer, defende que é “imprescindível” o envio de quatro batalhões adicionais, especialmente antes das eleições gerais previstas para agosto próximo, mas enfrenta resistência de muitos países da União Europeia, entre eles a França.
Ainda assim, o porta-voz da Otan, James Appathurai, disse confiar em um acordo para o envio de pelo menos 450 tropas suplementares por parte de Espanha, Itália, Holanda e Portugal, que teriam como missão dar formação a militares e policiais afegãos.
Reforma
Os líderes aliados também deverão iniciar nessa cúpula um debate sobre o futuro da organização, que quer se adaptar aos “desafios do século 21”.
“O atual conceito estratégico da Otan data de 1999, antes dos atentados de 11 de setembro de 2001, da missão no Afeganistão e do terrorismo cibernético. Por isso, é de grande importância definir uma nova estratégia”, defendeu Appathurai em uma entrevista coletiva prévia à cúpula.
Esta semana a chanceler alemã, Angela Merkel, pediu uma “transformação revolucionária” na estrutura e estratégia da aliança, com maior cooperação com a Organização das Nações Unidas (ONU) e com a União Europeia.
Para muitos de seus países-membros, a Otan também deve contemplar intensificar suas relações com Rússia e o Irã, dois países cujo apoio é considerado de fundamental importância para a luta contra a insurgência afegã.