por Vera Rosa e Tânia Monteiro
Saída anunciada abre apetite do PT e PMDB, mas Lula avisa que maioria será substituída por secretário executivo
Embalados pelo espírito eleitoral do fim de governo, 17 dos 35 ministros devem deixar o cargo, em abril de 2010, para fazer campanha. A saída anunciada abre o apetite do PT e do PMDB, principais partidos da base aliada, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva procura conter a debandada e já avisou que a maioria dos ministros-candidatos será substituída pelos secretários executivos.
A lista inclui a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), que também sairá do governo seis meses antes da eleição, como manda a lei, para concorrer à sucessão de Lula. Seguindo o caminho da ministra, muitos de seus colegas de Esplanada já se articulam nos bastidores para fechar alianças, aproveitando viagens de trabalho para visitar redutos eleitorais.
Sete ministros querem disputar uma cadeira na Câmara e outros cobiçam os governos de seus Estados. Há, ainda, quem prefira o Senado ou tenha a Casa – hoje enxovalhada por denúncias – como “plano B”. Apenas Carlos Minc (Meio Ambiente) não abre mão de retornar à Assembleia do Rio. “Quero voltar às minhas origens e sou candidato a deputado estadual. A mosca azul não picou minha cabeça”, ironizou.
A corrida, por enquanto, é mais de resistência do que de velocidade, e Lula já iniciou a operação “segura ministro” para convencer auxiliares a permanecer no posto. Motivo: se 17 titulares de pastas deixarem o cargo, quase metade da equipe terá de ser substituída a oito meses do fim do mandato. Não é só: o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli (PT), sonha em se lançar ao Senado e o também petista José Eduardo Dutra, que comanda a BR Distribuidora, será candidato à Câmara ou à presidência do PT.
Até agora, apenas três ministros indicam que podem mudar de planos, dependendo do cenário político: Fernando Haddad (Educação), José Pimentel (Previdência) e Altemir Gregolin (Pesca). De qualquer forma, antes mesmo dessa movimentação na temporada pré-eleitoral, o PT já estava de olho na cadeira de José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), o cargo com a mais alta rotatividade da Esplanada. A gula aumentou em fevereiro, quando Tião Viana (PT-AC) perdeu o comando do Senado para José Sarney (PMDB-AP) e atribuiu a derrota a Múcio, o articulador político do governo.
PLANOS
“No tempo certo vou me retirar para ser candidato a deputado federal e disputar o meu sexto mandato”, disse o ministro, lacônico. Com o gabinete transferido para o chamado Bolo de Noiva – prédio anexo do Itamaraty – na reforma do Planalto, Múcio jura não saber quem entrará no seu lugar. “Geralmente, nesses casos, a solução é técnica, mas com uma pitada política, porque o escolhido não deve ter mandato.” A cúpula do PT promete disputar a vaga.
Em conversas reservadas, auxiliares do presidente dizem que a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, pode ocupar o assento de Dilma, mas a solução é considerada pouco provável nos bastidores do PT. No ano passado, Erenice teve o nome envolvido no escândalo da montagem de um dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ela é ainda cotada para assumir uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU).
Dirigentes do PT acreditam que o deputado e ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (PT-SP) tem chance de ser “puxado” para a Casa Civil, caso não consiga emplacar a candidatura ao governo paulista. Seu destino político, porém, depende de um veredicto do Supremo Tribunal Federal (STF), que julgará se ele é ou não culpado pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, em 2006. Enquanto a sentença não sai, o tamanho da “reabilitação” de Palocci no eleitorado é monitorado por pesquisas em poder do Planalto.
Se Palocci não concorrer à sucessão do governador José Serra (PSDB), a pré-candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, ganha força. Haddad é afilhado do ministro da Justiça, Tarso Genro, que também deixará o posto em abril de 2010 para disputar o governo do Rio Grande do Sul.
FILIAÇÃO
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, é outro que vai fazer as malas, apesar da crise econômica. Ele está em adiantada negociação para se filiar ao PP, do deputado Paulo Maluf (SP), porque quer concorrer ao governo de Goiás, mesmo se não tiver o apoio do PT.
“É muito cedo para falar sobre isso”, desconversa ele. “Eu estou concentrado no meu trabalho: na política, mas é na política monetária.”
Com as antenas voltadas para 2010, o PMDB começou a passar o pente-fino sobre três das seis pastas que controla, já que os ministros Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), Reinhold Stephanes (Agricultura) e Edison Lobão (Minas e Energia) deixarão os cargos para entrar na corrida eleitoral.
A queda de braço é com Stephanes. Cientes de que o próximo titular da Agricultura poderá ser o secretário executivo – quando Stephanes sair para tentar voltar à Câmara -, a bancada ruralista do PMDB não dá sossego ao ministro. Ao saber que Silas Brasileiro, o atual executivo, assumirá como deputado até o fim do mês, parlamentares do PMDB insistem para indicar o substituto. Sem sucesso.
“Não seria nada demais que o ministro tivesse a delicadeza de ouvir a bancada ruralista, mas ele quer impor um nome”, reclamou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), referindo-se a José Gerardo Fontelles. “Diante da possibilidade de o secretário executivo assumir o ministério, seria conveniente que Stephanes conversasse conosco. Afinal, ele é um ministro indicado pela bancada do PMDB na Câmara.” Stephanes, no entanto, não quis esticar a polêmica. “Nunca recebi pressão política”, encerrou.