O Parque dos Poderes, onde uma vítima de roubo foi deixada amarrada ontem, já foi local de trabalho dos dois assaltantes.
Presos em flagrante, Josinei Fernandes Barbosa, de 23 anos, e Ary Anunciação Filho, de 32 anos, participavam até o mês passado de um projeto que encaminha detentos para o trabalho.
Eles atuavam em serviços gerais pelo parque, incluindo a área externa da Casa Civil, que funciona na Governadoria, centro do poder em Mato Grosso do Sul.
Nesta terça-feira, o entorno do prédio permanecia com a grama bem aparadas, meio-fio pintado de branco, mas, já não se via os trabalhadores do programa de ressocialização. “Eles sempre estão por ai. É engraçado, mas hoje não apareceram. Bom, a gente também não pode julgar. Porque nem todo bandido está preso”, comenta um servidor.
A prisão surpreendeu quem conhecia Ary. O Campo Grande News apurou que o preso relatava que ia se recuperar e demonstrava simpatia ao entrar nas dependências do órgão público para tomar café e água.
A proximidade traz temores por permitir que o conhecimento da rotina e horários torne os funcionários públicos potenciais alvos. “O negócio é dar no máximo bom dia e manter distância”, diz uma funcionária que trabalha há 14 anos próximo à prefeitura do Parque. Ela relata que já observou que os presos têm um ponto em comum. “Todos que saem do presídio têm moto”.
De acordo com a Agepen (Agência de Administração do Sistema Penitenciário), o encaminhamento dos presos é feito pelo Patronato Penitenciário. No caso da região do Parque dos Poderes, que também inclui o Parque das Nações, o convênio é com o Conselho da Comunidade. Ao todo, 4.331 presos trabalham em Mato Grosso do Sul.
Josinei e Ary cumpriam regime aberto na Casa do Albergado. Oficialmente, eles estavam à procura de emprego, direito legal dos presos. Conforme o delegado da Derf (Delegacia Especializada de Repressão aos Roubos e Furtos), Fábio Peró, Josinei relatou que trabalhou na região do Parque dos Poderes.
Ele confessou já ter cometidos outros quatro assaltos à mão armada. Preso inicialmente em regime fechado no presídio Jair Ferreira de Carvalho, a Máxima, ele obteve direito à progressão de pena. Em dezembro de 2010, foi considerado foragido do regime aberto, onde era obrigado somente a dormir na Casa do Albergado. A recaptura foi em 14 de julho do ano passado.
Em fevereiro do ano passado, quando ainda estava foragido, o preso informou ao juiz de Execuções Penal de que precisou fazer tratamento contra a tuberculose. Em 19 de julho, Josinei voltou para a Máxima. Dois meses depois foi autorizado a retornar ao regime aberto. O fato de ter se justificado durante o período de evasão pesou a seu favor, assim como o bom comportamento.
Ary Anunciação Filho foi condenado a 17 anos e seis meses por receptação, tráfico de drogas e porte de arma. Ele ficou foragido do regime semiaberto entre agosto e novembro de 2009. Em agosto do ano passado, obteve o regime aberto.
Ontem, após as prisões, a dupla deu uma única justificativa para o crime: precisava de dinheiro. Os dois estão na Derf, que fica ao lado do endereço do regime aberto em Campo Grande.
O roubo – A vítima foi abordada pelos ladrões no bairro Carandá Bosque. O contador, de 40 anos, conduzia um Fiat Siena. Um dos autores, armado com um revólver, anunciou o assalto. O homem dirigiu o próprio veículo, com os criminosos dentro do carro, até o Parque dos Poderes, onde foi deixado em um matagal da região.
Com o carro do contador, a dupla fugiu. Policiais da Derf foram acionados pelo rádio – pela própria vítima, que a essa altura já havia se soltado – e avistaram os criminosos ainda na região do parque, em frente à Secretaria de Administração.
Josinei Fernandes desobedeceu a ordem de parada. Houve perseguição e os policiais dispararam dois tiros de advertência. A dupla seguiu pela avenida Gury Marques, onde entrou na contramão da via.
O motorista perdeu o controle e bateu o carro em um poste. Mesmo ferido, continuou fugindo a pé com o comparsa. Eles entraram em uma residência, onde foram abordados pelos policiais.
A arma que utilizaram no assalto – um revólver calibre 38 da marca Rossi – foi escondida dentro do microondas da casa. Também foram aprendidos 5 munições intactas e um aparelho celular.
Perigo – Em 2009, João de Jesus Lemes foi preso após ser flagrado por frequentadores do Parque das Nações Indígenas quando tentava abusar de um menino de 10 anos. Ele era vigia no Parque das Nações, função desempenhada como parte do programa de ressocialização de presos, que foi colocado em xeque após esse fato. Dono de uma extensa ficha de casos de pedofilia, João está livre desde o dia 12 de dezembro em Campo Grande.